capítulo quatro

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Violeta o encarava com choque e para ser sincero consigo, ele também não entendeu o porquê de ter oferecido a casa minúscula que ficava nos fundos. Mas ao vê-la sem ter onde ficar mexeu com ele, não era uma pessoa sem coração, mas limites existiam e oferecer moradia para uma estranha ultrapassava alguns deles.

- Não faz sentido, o senhor não me conhece e eu não te conheço. Uma coisa é eu prestar serviços para o senhor e cumprimentá-lo quando nos encontramos e outra bem diferente é me fazer uma oferta dessas... - Respirou fundo - E parece mais loucura ainda eu estar cogitando a oferta.

- Sei que parece absurdo não sabemos nada um do outro, mas tendo escutado sua conversa não seria correto fingir que não ouvi e não é como se fosse algo de outro mundo... Será como uma inquilina, não é assim que funciona quando alugamos um imóvel? Não tenho segundas intenções, só estou oferecendo ajuda para uma pessoa que está precisando.

- Não sei se é uma boa ideia... Nao tenho dinheiro para manter uma casa nesse bairro mesmo que seja nos fundos.

- Não terá que se preocupar com nada disso...  Só a instalação da água é separada da casa principal.

- Será? Não seria o primeiro a me estender a mão para em seguida me dar uma rasteira.

Mulher difícil, que custa aceitar ajuda? Pensou.

- Violeta... Não tenho nenhuma segunda intenção se não quiser ficar aqui, mas ao menos aceite passar a noite. Já está ficando tarde e não achara nenhum lugar decente para dormir.

- Ok, vou pensar sobre o assunto. Não quero parecer ingrata nem nada, mas chega um ponto da vida que confiar fica difícil. E confesso que estou cansada, esses últimos dias não tem sido fáceis.

Ele sorriu. Porque ficou tão satisfeito com a resposta positiva dela?

- Ótimo! Tem um porém, a casa está a muito tempo fechada e deve estar imunda por isso terá que dormir em um dos quartos de hóspedes essa noite. Tudo bem pra você?

- Não... quer dizer sim. Não tem problema e de qualquer forma eu tenho uma vassoura.

Ele riu.

- Eu falei sério! Qualquer gracinha e o senhor vai para na UPA.

- Ok.

Só de pensar na vassourada de meses atrás estremeceu.

- Em qual quarto posso ficar? Preciso de um banho e comer alguma coisa.

- Pode ficar no segundo quarto a direita, lá tem banheiro e ficará mais confortável. Já conhece o lugar então não preciso guia-la.

- Tudo bem, obrigada.

Assim que começou a sair da cozinha, Violeta parou e deu meia volta se lembrando de algo.

- Tenho que ir no caminhão pegar minhas coisas.

- Precisa de ajuda?

- Não, só vou pegar uma roupa e minha bolsinha com itens higiene.

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Assim que voltou , ela foi para o banho e somente ao sentir a água morta em seu corpo se permitiu chorar de alívio. Não seria agradável passar mais uma noite dormindo no caminhão.

Tentava terminar o serviço o mais rápido possível para conseguir uma vaga em um estacionamento 24H e por lá mesmo passar a noite. Não estava saindo barato pagar o aluguel do veículo e estacionamento particular, ao menos por essa noite teria uma cama quentinha para dormir. Sua sorte é que essa amanhã entraria de férias e poderia procurar um lugar com calma.
Só se preocuparia com as aulas da faculdade, finalmente último semestre e se formaria no curso dos seus sonhos: Arquitetura e Urbanismo pela UFMG.

Não foi fácil, foi contra tudo e todos e com muito esforço e espanto de muitos se formaria com apenas um semestre de atraso, pois precisou trancar um período.
Por ter trinta e três anos, algumas pessoas consideraram loucura fazer uma faculdade, ainda mais federal que ocupa muito o tempo do aluno, mas estava conseguindo e ninguém tiraria o prazer que ela teria em voltar a sua cidade e mostrar o diploma que conquistou, mesmo com a falta de apoio de seus seus irmãos.

Mas deixaria para pensar em sua volta triunfal mais tarde, mesmo faltando apenas três disciplinas estava sendo puxado tudo estava sob controle e não queria perder o foco logo agora no fim do curso, sua sorte era que só precisava ir ao campus na segunda e quarta. Primeiro se concentraria em ter um lugar descente para morar, apesar da oferta do senhor Veloso não queria relaxar pensando que ficaria morando ali por muito tempo.

E apesar do recreio que sentiu com a proposta, não poderia recusar nesse momento. Não pagar aluguel por um mês e não ter que se preocupar com trancas era uma boa ideia. Amava Belo Horizonte, se tornou sua casa, mas assim como qualquer outra cidade grande o perigo estava em todo o lugar.

Respirou fundo e vestiu uma roupa confortável e mais arrumadinha. Não poderia vestir o que estava acostumada porque teria que ir a cozinha preparar algo para comer.

Quando chegou novamente a cozinha, se espantou pois a mesa está posta e o senhor Veloso mexia em uma frigideira.

- Chegou na hora! Acabei de grelhar o frango e fiz uma salada simples. Não quis fazer algo mais elaborado pois não sei o que gosta de comer... Pode se sentar, já levo a carne. Bebe algo?

Violeta estava um pouco chocada. Não esperava uma refeição completa, só tomaria um suco de caixinha com biscoitos água e sal que era o que tinha em sua bolsa.

- Só não bebo nada alcoólico - Disse ao se sentar à mesa - Tem certeza que não precisa de ajuda?

- Sim, pode ficar tranquila.

Violeta o observava, admitindo estar chocada pois não conhecia muitos homens que se movimentavam em uma cozinha com tanta naturalidade.
Alguns instantes depois estavam sentados jantando e com certo espanto notou o quando o frango e a salada estavam bons.

- Ficou muito bom!

Ele sorriu.

- Que bom que gostou! Confesso que estou gostando de ter companhia para comer... Mas não queria perecer indelicado e deixar você comer qualquer coisa.

- Agradeço a gentileza - ela retribuiu o sorriso - há tempos ninguém se preocupava em preparar algo para mim.

- Não por isso! Mais tenho uma curiosidade: porque seu nome é Violeta?


Olás! Mais um capítulo, espero que gostem!
Até mais.

Sem revisão.

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