capítulo seis

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Violeta não imaginava que o homem tranquilo e gentil que fazia faxinas duas vezes por semana já tinha passado por tanta coisa e nunca a frase "quem vê cara, não vê coração" fez tanto sentido. O único motivo dele estar vivo foi a ganância do pai ao tentar tirar vantagem de uma herdeira rica. Não deveria ser fácil lidar com a rejeição dos próprios pais e ainda por cima os avós interferindo em sua vida depois de trinta e cinco anos para não perder o império construído. Achou corajoso da parte de João Vicente mudar de cidade e começar de novo e tinha certeza que em certos momentos de sua vida se sentia sozinho por não ter apoio dos próprios parentes. Ela conhecia esse sentimento pois após a morte de seu pai, nunca mais teve um sorriso ou uma palavra que a confortasse por parte de seus irmãos.

Mas o que a consolava é o fato de que estava (mesmo que aos trancos e barrancos) conseguindo o que queria e que João também conseguirá se desvincular de uma família que não o queria. Sendo sincera consigo e não querendo pagar de humilde sem ressentimentos, mal podia esperar para voltar a sua cidade natal para mostrar a todos que mesmo contra todas as apostas de seus irmãos tinha conseguido tudo o que sempre quis.

Mas estava cansada desse assunto. Foi bom conversar e deixaria para pensar em tal assunto quando chegasse a hora. Não gostava de ocupar a mente com coisas que por enquanto não poderiam ser resolvidos de imediato.

Voltando sua concentração ao homem em sua frente, guiou a conversa para temas mais simples e sem muita importância. A interação dos dois ocorria com tanta naturalidade que mal prestou ao tempo, quando olhou o relógio ficou espantada.

- Nossa! Já são quase meia-noite, tenho que resolver um monte de coisas amanhã! Inclusive tirar minhas coisas do caminhão e devolvê-lo a concessionária.

- Vai ter um dia cheio então. Meu dia também está cheio amanhã. Acho melhor irmos dormir...

Era uma boa ideia, seu corpo pedia uma cama, já que há dias não dormia em uma cama quentinha e confortável.

- Então tá.

Ambos se levantaram e toda a familiaridade que havia surgido na conversa tinha desaparecido, pois se olhavam sem jeito e sem saber como agir. E num impulso Violeta o abraçou.

- Obrigada João, você me salvou hoje. Boa noite!

E antes mesmo que pudesse retribuir o abraço e o desejo de boa noite, Violeta o soltou e foi para seu quarto.

- Boa noite Violeta. - Respondeu mesmo que ela não pudesse mais o ouvir e seguiu para seu quarto.

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Ao amanhecer João Vicente seguiu sua rotina e ao chegar a cozinha deu de cara com Violeta preparando o café da manhã.

- Bom dia!- Saudou com um sorriso - Tomei a liberdade de fazer o café, já que ontem você cozinhou o jantar e também para pedir as chaves para ver a casa.

- Bom dia! Não problema achei ótimo, nunca como nada em casa de manhã e o cheiro de café está maravilhoso!

- Que bom então.

Tomaram o café e em seguida foram ver a casa.

- Você disse que era uma casinha...

- E não é?

Violeta revirou os olhos.

- Sim, mas quando você disse casinha eu não imaginei uma casa média que pode facilmente abrigar uma família pequena.

Foi a vez de João revirar os olhos.

- Continua sendo uma casa. Não sei ao certo o porquê dela está aqui e meio que separada da construção principal. O que importa e que você vai ter conforto no tempo que ficar hospedada aqui.

- Ô se vou! Vai ser triste quando eu tiver que me mudar...

Assim que ele mostrou tudo a deixou para pensar em como queria a disposição dos seus móveis. Se despediram e ele foi para a empresa.

Aí chegar lá se deu conta de que Violeta não teria como tirar suas coisas do caminhão sozinha e rapidamente ligou para uma firma que mexia com mudanças, solicitando que realizassem o serviço em seu endereço.

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Violeta ficou encantada com a casa. Três quartos, cozinha, sala, banheiro e uma pequena lavanderia. Tudo bem distribuído e com ótima iluminação.

Quando chegou ao caminhão, se deu conta que não conseguiria descarregar tudo sozinha. Mas ao começar um pequeno caminhão com homens uniformizados parou do outro lado da rua.

- Senhorita Violeta?

- Sim? Em que posso ajudá-los?

- O senhor João Vicente Veloso solicitou nossos serviços para a sua mudança...

Ela ficou chocada.

- Sério?

- Sim, senhorita. É só nós dizer onde quer os móveis.

- Ok então. Vamos lá! Eu sei que são especialistas e tudo mais!  Por favor tomem cuidado com a minha geladeira falta três prestações ainda...

A mudança foi feita e Violeta foi devolver o caminhão e deixar uma fortuna pelo aluguel. Voltou para seu lar temporário e se arrumou para ir a faculdade.

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Ao fim da tarde quando João voltou para casa. E ao entrar se deparou com um bilhete colado na porta.

Obrigada por tudo!

A letra bonita de Violeta vinha seguida de uma pequena flor, o que ele notou ser como ela gostava de assinar seus recados. Tirou o bilhete da porta e foi descansar pois seu dia foi longo e tudo o que precisava era relaxar.

E assim os dias foram se passando e uma rotina foi estabelecida pelos dois. Tomavam café da manhã juntos todos os dias e conversavam e em alguns dias João também dava carona para Violeta, já que iam para a mesma direção. 

E quando menos esperava o coração de João Vicente dava um salto toda vez que via Violeta pelas manhãs e ela sorria lindamente para ele.

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