Pʀᴏ́ʟᴏɢᴏ

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MADDY SUSPIRA ESFREGANDO OS COTOVELOS, a tentativa fofa de Finney para deixar o quarto o mais adolescente possível, tentar fazer parecer que alguém esteve nele nesse um ano fora.

Ela se lembra vagamente de ter revistas de famosos, que ela particularmente achava lindos, cabelos loiros e encaracolados, olhos penetrantes que contrastam com seus braços fortes, mas elas já não estão enfileiradas dentro de um caixote verde água, no canto do quarto. A roupa de cama mudou, antes era colorida e com estampas, Maddy vomitaria se visse uma dessa novamente, agora é apenas um edredom branco, com dois travesseiros fazendo par na cama de casal.

Ela tinha sido renovada, a tinta metálica foi trocada para um preto fosco, mas o espelho ainda estava ali, na parte ao lado da grande janela central, um espelho que Madaline e Tatiane tinham tido a "brilhante" ideia de desenhar nas bordas, nuvens brancas com sombras em rosa, tudo daria certo se uma das duas soubessem desenhar.

Mas as ficaram orgulhosas de seu trabalho.

O quarto podia ter mudado a cama, os posters de manda juvenis podem ter sido arrancados das paredes, o chão de carpete pode ter sido limpo e aspirado, talvez reparado para tirar a mancha levemente marrom de baixo da cama, a cômoda velha com desenhos infantis de Gwen pode ainda estar sendo exibida na frente de sua cama, a porta sanfonada branca do closet parecia mais amarelada que o normal, mas ainda sim era a mesma

Mesmo tantas coisas mudando, e outras ficando, se desgastado com todo esse tempo, paradas mofando, esse lugar ainda sim grita, berra em seus ouvidos toda a sua infância, as aventuras atrapalhadas com Tatiane, seu melhor amigo que morava no mesmo bairro, a notícia que chegaria seu primeiro irmãozinho, gritava junto sua pré-adolescência, o qual Medaline passou maus bocados, com Vance Hopper infernizando sua vida, seu cabelo que parecia bizarro, sua cara que estava tão oleosa que a mesma sentia nojo, as espinhas, enquanto todas pareciam perfeitas, Medaline se afundava em um poço de baixa autoestima.

Mas acima de tudo, o quarto não apenas grita e berra, ele parecia bater em Maddy até deixá-la desnorteada, tudo isso lembra ela do dia, o dia que estragou sua vida, o dia que fez Medaline se odiar, o dia que tudo parecia escorrer água abaixo, e ela não podia fazer nada, nada poderia ter sido feito.

O dia que Medaline, de apenas catorze anos, acordou em uma manhã de sábado, procurou sua mãe, sem sucesso em encontrar, assim abrindo o banheiro do andar de baixo, e ali estava ela...

(Morta, morta, morta)

Néssa estava bem ali, pingando sangue da ponta de seu dedo médio, deitada na banheira, já sem vida, fria como gelo, mas ainda não tinha perdido o rubor de sua pele... Medaline a encontrou assim.

O pior dia de sua vida, esse quarto a lembra de tudo, toda a merda jogada de uma vez encima dela e que agora parecia voltar para seu caminho. Maddy caminha até a grande janela olhando a calçada, essa rua grita seu passado, essa casa grita seu passado, não apenas esse quarto.

Medaline era medrosa, ela era a menina indefesa que deixava seu pai a espancar quando sentisse vontade, ela era a menina que surtava e cortava seu cabelo (essa foi a primeira vez que seu pai surtou e a bateu tanto, que suas bundas ficaram roxas). Medaline não era confiante, guardava tudo para si, abaixava a cabeça para todos.

Mas agora ela é a Maddy, a menina confiante, ela estufa o peito e bate de frente, ela surta, claro que surta, mas de raiva, e faz merda por isso. Maddy não abaixa a cabeça para ninguém a sua volta, essa é a diferença entre Maddy e Medaline.

Medaline não existe mais, foi morta pela Califórnia.

Maddy encara a janela estreita do vizinho. Antes aquela casa era fofa, de uma senhora que trazia bolos uma vez por semana para a família se deliciar, a idosa era gentil e atenciosa, carente por atenção, ja que seus filhos praticamente a abandonaram na cidade sozinha.

𝓥𝓸𝓬𝓮 𝓷𝓪𝓸 𝓮 𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓮𝓾 𝓟𝓮𝓷𝓼𝓮𝓲                             ᴠᴀɴᴄᴇOnde histórias criam vida. Descubra agora