⬚ Capítulo 2 . .

3 2 0
                                    

Era sexta-feira de tarde, e uma jovem Epona nos seus dezassete anos trotava em direção ao rio Goumia com uma outra poniriw que está à sua frente, que era a sua avó Elwyn, de pelagem verde-limão dessaturado, olhos lilás e crina grande de cor rosa escura com notáveis brancas da velhice, brinco com coração invertido e colar dourado, ligaduras a proteger as dobradiças das patas e um alforge castanho com remendos. Mesmo que o seu corpo não indicasse a idade avançada por conta da pelagem da própria raça, era notável no seu rosto rabugento. E mesmo para a sua idade, cuidava bem da sua aparência.

Enquanto isso, Epona apenas tinha o seu carapuço a cobrir a cabeça e só.

--Avó, eu sinceramente ainda não sei como tu consegues atravessar o rio usando dois troncos e uma folha. O que a folha tem haver?-questionou incrédula para a sua familiar, que olhou brevemente para ela.

--Tu já vais perceber quando estivermos lá.-a outra apenas comentou aquilo e ficaram em silêncio.

Ambas trotam mais um pouco, quando Elwyn pára de repente para ouvir qualquer coisa, fazendo a neta parar de repente também com aquilo. Depois de analisar, começou a falar.

--Os dois troncos são para tu colocares os cascos em cima deles, um para os cascos do lado direito e outro para o lado esquerdo, e a folha é para tu estares com ela presa nos teus dentes. E antes que perguntes, a folha na boca é para saberes como está o vento, se a folha bater na tua cara, é porque o vento está forte e tens que saltar logo para o outro lado, e se apenas fizer cócegas com a ponta ou não se mover, podes saltar quando quiseres.-terminou a explicação e seguiu caminho.

--Mas dá certo de verdade?-perguntou curiosa.

--Claro que sim, senão não ensinaria.-diz como se fosse algo óbvio.

--A mãe alguma vez fez isso?

--Claro que sim, ensinei quando ela tinha a tua idade. A primeira vez foi péssimo, mas depois da segunda tentativa deu certo.-diz num tom não rabugento, como se tivesse ficado nostálgica com aquela memória.-Espero que a tua primeira não seja péssima também, senão não haverá bolo de cenoura.

--Eu prometo ir bem na primeira vez!-prometeu determinada.

Aquilo fez aparecer um sorriso mínimo mas sincero no focinho de Elwyn. Ela sabia que a neta dava conta do recado rápido.

Ambas trotavam lado a lado, observando cada detalhe da floresta com a luz que entrava por conta do sol que decidiu aparecer. Ouviam cada som emitido por insetos ou animais inofensivos que vagueavam por perto em busca de comida ou descanso.

De repente, ouvem um som de um arbusto no lado esquerdo e um rosnar, que deixaram Elwyn em alerta, tranformando os cascos em quatro garras afiadas e dentes caninos à mostra.

--Espera aqui.-ordenou e foi na direção do som, atravessando o arbusto. Não iria deixar que um lobo atrapalhasse aquele dia, e para além disso, daria uma boa janta para logo junto da pele.

Epona apenas ficou no lugar que foi instruído, mas viu um arbusto de framboesas ao seu lado e decidiu coletá-las, já que seria bom para fazerem medicação mais tarde.

Mas depois ouviu um grito vindo da sua avó que deixou em alerta, e quando galopava para a direção do arbusto de onde a sua avó tinha ido, ouviu bem alto e autoritário "GALOPA, EPONA!", e uma sombra alta ergueu-se. Com medo e seguindo as ordens da avó, galopou o máximo que podia de volta para casa, mesmo que quisesse ficar para ajudar a sua avó, mas se ela mandou-a galopar para longe, é porque a coisa era bastante séria e complicada.
Ao chegar em casa, respirou fundo várias vezes para acalmar-se depois daquele galope e sentou em uma das almofadas no chão da sala. Ela ia esperar pelo menos uma hora para voltar a sair e procurar pela sua avó, se estivesse bem.

Quando o relógio de sol marcou três horas e meia, Epona saiu de casa e começou a fazer um trote um pouco acelerado. Ela estava preocupada com a avó, e mesmo sabendo que ela era forte, ela sabia que não conseguia lidar com um bicho de grande porte como aquele que viu nas sombras. Depois de minutos que pareciam uma eternidade, finalmente chegou no local aonde ficou para trás e olhou para o tal arbusto, tomando coragem para entrar. Depois de entrar e afastar umas lianas e galhos, viu o que não queria ver.

Havia sangue espalhado e um tronco com pouco sangue também, o alforge estava aberto com algumas coisas espalhadas e, ao notar pelo reflexo do sol, o brinco com o coração invertido dourado estava no chão também, com vestígio de sangue na ponta onde prendia na orelha.

Começou a cheirar o local em vão, talvez com a esperança de que haveria algum outro cheiro para além do da avó que pudesse reconhecer, e arrumou as coisas, com o brinco incluído, no alforge, analisando novamente o local.
O que incomodava bastante a jovem poniriw, era de que não havia corpo. Olhou aos redores daquele local e não encontrou mais nada, nem corpo.

Estava pronta para deixar o lugar, mas toda a sua tristeza e arrependimento vieram em força nela, obrigando Epona a sentar no chão e abaixar a cabeça, que logo começou a chorar baixo. A avó era a única familiar viva e aprendia sempre coisas novas com ela. Também foi a única que cuidou de si desde bebé quando os seus pais haviam morrido e adorava-a muito.
O que ela iria fazer agora sem ela?

--Epona, está tudo bem?

A poniriw volta ao presente ao ser questionada e olha para o poniriw que perguntou aquilo, vendo que é apenas Vovar, o velhinho da loja do vilarejo que vende frutas, vegetais e carne. Ele estava com uma face preocupada.

--Ahm, sim, está tudo bem, senhor Vovar.

--Tu ficaste aí especada a olhar para os brócolos durante cinco minutos. De certeza que está tudo bem?

--Eu apenas não dormi bem, e ando a pensar em muita coisa na minha vida. Mas não se preocupe, Vovar, eu vou ficar bem.

Depois de uma troca de palavras e comprar alguns vegetais, despede-se do idoso e vai para a sua casa da árvore. Ao chegar lá, arruma as compras que fez naquele dia e depois o alforge, espreguiça-se e vai até à sua mesa de facas, que tem uma coleção delas espalhadas pela tábua de madeira segurada por quatro pernas. Pega numa faca pequena e começa a limar o objeto com um limador caseiro, que é a lima presa com cola em um pau grosso de madeira.

Após verificar que a lâmina fez o seu trabalho em afiar a faca, num abrir e fechar de olhos atira a mesma em direção de uma folha presa no outro lado da casa junto de outras facas. A folha tem um retrato da criatura Osocour.

Aquela criatura é o motivo do porquê que a sua avó estava morta, e irá matá-la sem dó nem piedade.

A Lenda de OsocourOnde histórias criam vida. Descubra agora