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Naquele exato momento a expressão de incredulidade no rosto de Minjeong só não superava o vinco que se formara em sua testa, indicando a falta de apetite. A comida que havia sido posta em seu prato não era nojenta como costumavam dizer, por sorte, contudo, tampouco era aquelas mil maravilhas.

— Salada ou não? — A cozinheira voltou a repetir com sua expressão de tédio e Minjeong acordou de seu transe.

— Ôh boneca, acho melhor escolher logo, estou com fome e não tenho o dia todo. — Uma mulher ruiva, repleta de tatuagens no braço e com um olhar intimidador falou, sorrindo de forma cafajeste para Minjeong, que assentiu e pediu salada, saindo dali às pressas para movimentar a fila.

Ela procurou uma mesa para se sentar, porém todas estavam ocupadas, o que lhe deixava somente uma opção: Conversar com outra detenta. Seus olhos procuraram algum rosto não tão assustador e então encontraram o mesmo par de olhos escuros lhe encarando. Ela respirou fundo e caminhou até sua mesa.

— Será que eu posso...

— Não. Vaza! — A voz rouca foi firme, fria e seca, fazendo Minjeong suspirar e assentir.

Ela franziu o cenho quando viu uma mão no alto acenando para ela desesperadamente. Deu uma olhada para trás e aos redores, se certificando de que era com ela mesmo e quando constatou que sim se aproximou.

— Olá, sente-se. — A voz meiga proferiu. Minjeong atendeu seu pedido e se sentou, reparando que a garota era ruiva, sorridente e gentil. Pequenas sardas cobriam seu rosto e ela usava um uniforme marrom e branco, então não era novata. — Me chamo Chaehyun.

— Sou Minjeong. — Ela disse um pouco cética devido a todo aquela gentileza
e bom humor.

— Primeiro dia aqui e já tem várias de olho em você. Logo alguém te pega. — Minjeong franziu o cenho.

— Alguém me pega? — Perguntou confusa.

— Sim, demorei três meses para ser pega por alguém, mas duvido que você passe de uma semana.

— Em que sentido? — Minjeong perguntou alheia ao que a garota dizia.

— Oh, é sua primeira vez presa? — A garota perguntou e Minjeong assentiu. — Bem, as líderes dos bandos costumam pegar as novatas para serem suas parceiras. Elas te oferecem proteção em troca e outros benefícios, como comidas melhores do que as que nos dão aqui.

— Não estou interessada, obrigada. — Minjeong disse, tentando comer uma
folha de alface, que era a única coisa que sentiu vontade de comer. Chaehyun riu ao ouvir aquilo, levando uma mão até sua boca para abafar o som.

— Você é engraçada. — Disse e Minjeong percebeu que sua voz era um pouco enjoativa. — Não é como se tivéssemos opção. Se não fizermos por vontade própria, uma hora ou outra alguém fará a força. — Minjeong engoliu em seco. — Nem todas são assim, mas algumas... — A garota deixou sua frase morrer ao dar de ombros.

— Quem... quem é aquela? — Minjeong perguntou, apontando com o queixo para a garota de olhos escuros que ainda a fitava sem pudor.

— Yoo Jimin. Não deveríamos falar dela, é a líder absoluta.

— Ela não para de me olhar. É intimidador isso. — Minjeong reclamou e a garota arregalou os olhos.

— Ela te olha? — Minjeong assentiu. — Talvez você quebre o título dela de intacta.

— Intacta?

— Sim. Ela está aqui há quase três anos e se tornou a líder no primeiro ano, quando derrotou a antiga líder. —  Falou baixo para ninguém mais ouvi-las. — Ela jamais pegou alguma novata para ela.

— Por que ela está aqui? — Minjeong não se conteve em perguntar, vendo a outra dar de ombros.

— Ninguém sabe ao certo. Umas dizem que ela matou três pessoas à sangue frio, outras dizem que esquartejou a  ex-namorada, mas a verdade é que nunca saberemos, porque ninguém ousa perguntar. — Minjeong assentiu e se calou.

Teriam que tomar banho em alguns minutos e logo voltar para a cela. Cela, lá estava o novo medo de Minjeong, afinal ela não sabia com quem dividiria o espaço.

— Está aqui por quê? — Chaehyun perguntou e Minjeong se remexeu em seu acento.

— Um engano. — Ningning riu baixinho e assentiu.

— Todas dizemos isso, até o momento que nos conformamos em assumir nossa culpa. — Ela disse. — Do que foi acusada?

— Assassinato. — Disse seriamente.

— Uou, interessante. E quem você matou?

— Não matei ninguém. — Minjeong disse firmemente e com a expressão de irritação em seu rosto.

— Quem te acusaram de matar? — A garota reformulou a pergunta.

— Meu irmão e de tentar matar minha mãe.

— Nossa. Quanto tempo pegou? — A garota perguntou curiosa.

— Vinte e dois anos.

— Bem, sua pena pode se reduzir para mais da metade disso se você se comportar. Eu mesma, peguei sete anos, estou aqui há dois anos e meio e saio no próximo semestre se manter a boa conduta.

— Minha pena implica em não ter direito à redução de pena por bom comportamento ou por pagamento de fiança. — Minjeong explicou. — O que fez?

— Roubo de carro e presa em flagrante.

— Pegou tudo isso por roubo de carro?

— Eu não sabia que era do senador. — Minjeong abriu a boca surpresa, mas
aparentemente a garota estava acostumada com aquilo.

— Bem, logo sairá daqui então. — Minjeong disse, voltando a olhar para a garota de longos cabelos pretos. Ela sabia que deveria seguir o conselho da policial Ningning, mas não entendia o porquê de ser tão observada.

— Sim. Reparei que tem três de olho em você. — Chaehyun disse. — Por sorte a minha não está.

— Não entendi.

— Às vezes elas trocam de parceiras e as antigas ficam desprotegidas novamente. Tem vezes que elas ficam com mais de uma parceira. Sabe a ruiva? — Minjeong assentiu assim que viu que Chaehyun se referia à garota da fila. — Seu nome é Yeji, mas a chamamos de Scar e acredite, não é pelo nome. — A garota revelou. — É porque a cada nova cicatriz ela faz uma nova tatuagem em cima.

— Oh. — Minjeong disse levemente assustada.

— Ela parece estar de olho em você, mas não se preocupe. Ela só aparenta ser assustadora, é um doce de pessoa.

— Estou ficando assustada. — Minjeong revelou, rindo fraco e a garota assentiu.

— Desculpe, não foi minha intenção. — disse, olhando para um ponto fixo atrás de Minjeong antes de se levantar. — Preciso ir, minha mulher está me chamando. Até mais. — Disse e saiu, Minjeong olhou para trás e viu uma garota magra, alta, porém de riso fácil dando um selinho em Chaehyun.

A garota suspirou amedrontada em seu interior. Em que furada sua mãe havia lhe metido desta vez?

Presa por Acaso | winrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora