I - 𝑀𝑦 𝑖𝑚𝑚𝑜𝑟𝑡𝑎𝑙

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𝓢𝓾𝓶𝓲𝓻𝓮 𝓚𝓪𝓴𝓮𝓲

Agora, enfim sozinha neste lugar desagradável, eu me permito chorar e colocar para fora toda a minha dor e angústia, que venho carregando desde o dia em que descobri que a pessoa que mais me amou nesta vida estava prestes a morrer e eu não poderia fazer nada para evitar. Vi seu sofrimento, vi sua preocupação perante a mim, vi a sua luta para a sobrevivência e vi a sua morte, pude presenciar seu último sorriso e suas últimas palavras.

Seja feliz, minha filha. Se liberte do passado. Eu estarei em um lugar melhor, cuidando de você.

Mãe! Não me deixa, por favor... Eu preciso de você.

De todas as pessoas desse mundo, você era a última que deveria ir, o que eu farei agora? Só Deus sabe, e olha, ele me tirou você.
Estou cansada de estar aqui, suprimida por todos os meus medos infantis, e você teve que ir, eu desejaria que você voltasse. Sua presença ainda permanece aqui e ela não me deixará de recordar, essas feridas não vão cicatrizar, essa dor é muito real, Há muita coisa que o tempo não pode apagar. Quando eu chorei, você enxugou todas as minhas lágrimas, quando eu gritei, você lutou contra todos os seus medos e você segurou minha mão por todos estes anos, porém você se foi, mas você ainda tem tudo de mim.
Você costumava me cativar com a sua luz brilhante, agora sou limitada pela vida que você deixou para trás, não consigo dormir, pois sua morte assombra todos os meus sonhos que já foram agradáveis, ver você morrendo expulsou toda a sanidade em mim. Eu tentei tanto dizer a mim mesma que você se foi, mas mesmo você não estando comigo, eu sinto que não estou sozinha, você sempre se fará presente.

Sem você aqui mãe, quem vai me proteger? Alguém irá me esperar chegar em casa? Alguém se importará comigo? São muitas perguntas. Você era a única que me dava amor e carinho, que me defendia dos maus tratos de meu pai e me mantia longe da pressão familiar, mas o que fazer agora que eu dependo deles? Terei que ser forte, mas nunca serei o bastante como você era. Sinto faltar ar em meus pulmões e já conheço a sensação, coração acelerado, respiração descontrolada, nó na garganta, angústia no peito, e olhos ardendo em lágrimas.

Uma crise.

Fecho os olhos com força e me sento na grama ao lado da sepultura enquanto me desabo em lágrimas. Minha vida está acabada. Agora sou dependente do meu pai, o homem alcoólatra e agressivo, que espancava a minha mãe, dependo da minha tia, a mulher que tentou raspar o meu cabelo, apenas porque eu havia pintado o mesmo de violeta, dependo também do meu tio, um homem nojento e sem escrúpulos que me assediava desde os meus doze anos, e talvez se não fosse pela minha mãe, teria avançado mais. Começo a sentir pingos de chuva sobre a minha cabeça e acabo me levantando, deixo flores na sepultura de minha mãe e sigo para fora do cemitério. Não vou voltar para casa, preciso relaxar e sei que naquele ambiente não vou conseguir.

Após alguns minutos caminhando pelas ruas desertas desta cidade, avisto um beco de longe, ótimo, era tudo que eu precisava. Atordoada e sem prestar atenção, atravesso a rua, ansiosa para chegar logo do outro lado por conta da chuva, não noto a moto que vinha em alta velocidade diretamente na minha direção, sem ter tempo para reação, escuto os pneus cantarem com a freada brusca e a adrenalina cortante me atingir, sentindo o quase impacto da moto contra meu corpo, me desequilíbro um pouco. Logo o jovem loiro que estava dirigindo a moto vem apressadamente em minha direção, estou atordoada.

— Ei, você está bem? Se machucou? O que você está fazendo no meio da rua, a uma hora dessas e ainda por cima nesta chuva? — me pergunta o garoto que parecia ter a minha idade.

— Eu não estava no meio da rua, eu iria atravessar, mas você veio com essa coisa para cima de mim. Sabe que não se pode andar nesta velocidade na cidade, né?! — pergunto indignada.

— Se você não estivesse parada no meio do caminho igual uma idiota nada disso teria acontecido. — me assusto com a voz grave e rouca.

Eu não havia percebido que outros garotos tinham se aproximado, com motos também. Após observar, eles eram quatro no total.

— Ei, Kawaki! Não fale assim com ela, não vê que a garota está assustada. —  repreende o loiro.

Me viro para encarar o tal Kawaki, pois estava de costas, porém quando meus olhos se encontram com as íris cinzas como nuvens em dia de chuva, meu mundo parece parar. Sinto uma sensação em meu peito e só consigo encarar os olhos de Kawaki, que estão fixos em mim. Sua expressão é séria e fria, seus olhos parecem ver o fundo da minha alma e sinto um calafrio passar pelo meu corpo, por um momento seus olhos me estudam e vejo confusão e um lampejo de curiosidade em seu semblante. Essa sensação, nunca senti antes, meu coração está desnecessariamente acelerado. A tensão é cortada quando eu escuto um "tsk" do menino que está no meio de Kawaki e do outro garoto que usa rabo de cavalo.

— E aí gatinha, qual seu nome? — me pergunta descaradamente o garoto moreno.

— Não é da sua conta. — respondo me virando de costas, vou voltar para casa.

— É... Foi mal aí, roxinha! — diz o garoto loiro, me viro para encará-lo.

— Está tudo bem...? — digo sem saber seu nome.

— Boruto. — ele responde sorrindo, aliás seu sorriso é lindo. Mas esse nome... Caramba. Minha mente está nublada e a dor de cabeça é quase insuportável.

Sorrio de volta e consigo perceber Kawaki nos encarando friamente, esse garoto é estranho.

— Quer carona, gatinha? - novamente o menino moreno atrevido me faz outra pergunta.

— Não, obrigada. Posso andar sozinha. — respondo seriamente e me viro de costas para ir embora.

Escuto os meninos ligarem as motos e darem a volta, porém a minha curiosidade é maior e acabo me virando para ver e assim, encontrando os olhos cinzas cortantes e frios de Kawaki, nos encaramos por segundos enquanto ambos se afastavam e assim não pude mais avistar as motos. Por que esse Kawaki me parece tão familiar? Por que eu tive essas sensações estranhas? Não consigo entender. Será que nos veremos de novo? Tenho que parar de pensar nisso, nem conheço esse garoto e ele foi muito rude. Agora o que me resta é voltar para casa e enfrentar meu pai e meus tios, você fará muita falta, mamãe.

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𝘽𝙧𝙞𝙣𝙜 𝙈𝙚 𝙏𝙤 𝙇𝙞𝙛𝙚 - 𝐾𝑎𝑤𝑎𝑠𝑢𝑚𝑖Onde histórias criam vida. Descubra agora