Entregando Panfletos

Capítulo 1 - Clínica veterinária -

  19 de abril de seja lá que ano for, só mais um dia normal, comum e monótono. Assim como sempre é.

   — O quê? Mas tem muito mais que na última vez! — dizia um garoto, para seu chefe e veterinário do estabelecimento. — Deve ter o dobro daquele dia, e naquela vez eu não consegui nem entregar todos, como você acha que vou entregar esses? Olha, não consigo nem segurar direito.
   — Bota na sua mochila, ué, não é pra isso que você traz ela? E nao vem com essas desculpas não, na terça-feira não te dei nem 300 panfletos. Você não entregou todos porque não quis, deve ter ficado vagabundeando por aí, esperando as horas se passarem — respondeu o médico à indignação do menino.
   — Mas lá pra bando do Parque Tijuca nem tinha casa, ali só tinha mato. Aposto que esse tal de Acaracuzinho aí é do mesmo jeito. Aliás, que nominho esse em, não tinha outro não? — Disse o garoto, rindo.
   — E eu sei lá rapaz, que conversa feia é essa? Não fui eu quem botou esse nome lá, como vou saber? Olha aqui, cê nunca andou pelo Acaracuzinho não?
   — eu mesmo não — falou o garoto, olhando pro teto, sem ligar muito para o que o médico estava dizendo.
   — Ta legal, vamo parar de conversa que enquanto tu tá aqui reclamando o tempo tá passando, Jajá da 14:00 da tarde e você tá aqui em pé, parado — disse o médico, a fim de encerrar a discussão.

  O menino se cala enquanto põe os panfletos em sua velha mochila e sai, em direção à porta de vidro da clínica.

   — Mas que... porra! A porta tá enterrada de novo.
   — Tem que botar força pra cima e puxar, você não aprende não é? — diz o médico em voz alta do balcão de atendimento.

  O garoto o faz e sai irritado, murmurando.

   — como é que um lugar desses ainda tá de pé? Eu achei que cuidar de animais fosse um negócio que desse dinheiro. Bom, na verdade, talvez dê, mas pra essa espelunca aqui não.  Enfim, de nada adianta eu reclamar, é melhor eu apressar meus passos antes que eu perca aquele ônibus de novo.