Estive bebendo, estive bebendo
Fico indecente quando o licor me possui
— Paga de solteira feliz, mas quando vê o pai chora... CHORA!! — Cantarolo até a minha sala e topo com uma ruiva mal humorada no telefone.
— Olha só, eu mandei você fazer uma coisa e você vai fazer do jeito que eu mandei — eu franzo o cenho, mas depois começo a rir. É difícil ver Jade desse jeito. — Eu sou...
Então ela tira o telefone do ouvido e o guarda no bolso do sobretudo, levantando os olhos em seguida.
— Problemas no paraíso, Jadezinha?
— Vai para o inferno — responde e passa direto por mim.
— Bom dia, Jadezinha! Gostosa! AAOO LÁ EM CASA! — grito quando ela passa por mim e apenas sorrio, entrando em meu escritório e me jogando em minha cadeira em seguida.
Eu sempre quis ser advogado por motivos de: odeio injustiça e fico um gostoso de terno, convenhamos. Roupa social combina comigo e as garotas gostam de um cara que passa seriedade.
Ah, as garotas... Como eu amo as garotas. Louras, brancas, negras, pardas, ruivas, baixas, cheinhas, magrinhas... Mulheres no geral. Eu sou um amante de mulheres e meus irmãos me chamam de galinha por isso. E foda-se, talvez eu seja mesmo. Mas, que tipo de pessoa eu seria se não apreciasse as delícias do mundo.
Jade.
Enfim, eu gosto de curtir a vida adoidado e não ligo para isso de "encontrar" o amor da minha vida. Meus pais que lutem, porque eu não vou correr atrás de alguém tão cedo. O dinheiro não permite que eu confie tão fácil nas pessoas, mas eu também não quero sair entregando meu coraçãozinho pra qualquer uma e a mulher que me chamar atenção... Rapaz, ela tem que ser foda pra caralho, principalmente porque eu não tenho um pingo de paciência para relacionamentos.
São desgastantes, exigem atenção, exigem muito mais do que eu posso dá. E isso acontece porque a única coisa que eu tenho a oferecer é meu corpinho de quem malha feito um filho da puta e tem uma genética Fury.
Falando em genética Fury...
— Paulinha pediu para você pegar esse caso, o aniversário de Paloma está chegando e eles querem dar uma festa — Jade joga uma pasta na minha mesa e depois me encara. — É um caso importante, se você perder essa merda eu serei obrigada a te colocar no quadro da vergonha.
Esse quadro da vergonha fica no saguão da empresa, onde TODOS os funcionários passam e quem inventou foi tia Helena. Funciona assim, quem perde uma causa ganha uma foto no quadro da vergonha.
Bom, é... Vergonhoso ter uma foto no quadro da vergonha. Eu já tive uma vez, tia Helie já teve, até meu pai já teve sua cara estampada lá antes de se aposentar. E, acredite, minha família lida com isso da melhor forma possível, no entanto a ruiva em minha frente nunca teve seus olhinhos verdes expostos lá e por isso nós decidimos apostar: quem perder uma causa, vai ter a cara estampada em um banner da vergonha.
Eu só não sabia que Jade Rossi é competitiva pra caralho.
— Tenha um bom dia, doutor — ela vira as costas caminhando decidida para fora do meu escritório.
— Eu não tenho medo de você não, viu! — grito e sei que ela ouviu, porém não ouço resposta e começo a rir. — Mulher chata do caralho, não deve nem transar.
Abro a pasta e começo a ler o caso, mas meu nariz só torce quando leio o sobrenome do promotor. Odeio esse promotor.
Pau vai quebrar de quina!
Eu posso ser muito brincalhão, um pouco barraqueiro, mas quando tenho que ser sério, sou sério. Já lidei com situações familiares fodidas e posso dizer com orgulho que surpreendi a todos, porque ninguém sabia que eu poderia ser assim. Não consigo ser sério nível Jorginho ou Valentim, no entanto eu tento ao máximo passar maturidade.
Até porque vou fazer vinte e seis anos, não sou criança mais.
Leio sobre o caso e de noite saio da empresa, caindo na noitada que deixa minha sanidade em dia e buscando minha próxima presa assim que entro em uma boate.
O dia estava sendo ótimo, eu tinha entrado em contato com o cliente do fodido caso e do promotor idiota. Eu só não fazia ideia que de noite viraria um inferno.
Há uma loura do meu lado e ela está digitando algo nervosamente em seu aparelho celular, pela rapidez que ela virando seus copos de tequila eu julgo que esteja nervosa. Eita! Incorporei Santiago!
— Boa noite, filho da puta, eu vou falar só mais uma vez: se você me ligar de novo eu vou na porra da sua casa e eu vou atear fogo em você, está me ouvindo? Foda-se se você está apaixonado, querido. Eu dei pra você e... Quer saber de uma coisa? Nem me foder direito você fodeu! — ela desliga o telefone agora e vira mais uma dose de tequila, o barmen me encara assustado e eu apenas dou de ombros.
— Eu posso te dizer boa noite ou você vai atear fogo em mim? — sussurro e ela vira seus olhos impacientes pra mim.
— Eu vou atear fogo em você — confirma e volta a fitar seu copo.
— Em qual sentido? — seus olhos retornam pra mim e eu vejo a raiva crepitar neles.
— Qual é a sua, hein?
— Eu só queria te ajudar a aliviar essa raiva toda — digo e beberico minha cerveja.
— Sabe o quê aliviaria minha raiva agora? — questiona e eu ergo as sobrancelhas, sinalizando que ela tem livre acesso para falar qualquer coisa. — Foder.
— Ora, ora, eu gosto de aliviar qualquer coisa fodendo — respondo e ela revira os olhos. — Há outras formas de revirar esses olhos.
— Eu vou atear fogo em você.
— Deixa eu atear fogo em você? — rebato e agora ela morde os lábios, descendo seus olhos pelo meu corpo.
— Depois você vai conseguir controlar o incêndio?
— Ah, você pode ter certeza que eu vou...
Meu dia tinha começado bem...
... mas acabou ótimo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
VÍTIMA DO ERRO (Concluído)
HumorSÉRIE "FILHOS ROSSI" - LIVRO VII Esse livro conta a história do personagem NICOLAS ROSSI, filho de David e Sol. PLÁGIO É CRIME!