Criações.
Do alto da oficina, no topo da colina, eu via estrelas. Era a primeira hora do sétimo dia do verão. Havia passado a noite em claro, com xícaras e mais xícaras de uma bebida energética natural, feita de mel, uvas, morangos e bastante café.
Eu nunca fui um inventor por vontade própria. Eu era pois necessitava daquilo. E posso dizer que a minha facilidade em tornar um mísero prego em uma máquina foi o que mais me sustentou durante a época de crise e insegurança que se seguia.
Tomei um gole, e permiti que meus pensamentos deslizassem pelo papel.
O cansaço já havia consumido boa parte de minha paciência. Eu passei duas noites em claro, trabalhando em um projeto que escalou rápido demais, que eu nomeei de automátono Zeal.
Minha família sempre esteve envolvida em dois processos básicos: Enquanto meus primos e tios eram alquimistas, eu e meus pais éramos inventores. Tentávamos buscar respostas por meio daquilo que era lógico, palpável, sem procurar as respostas nos astros e nos cristais místicos. Minha vida era resumida em acordar, estudar, criar e dormir. Talvez fosse por isso que minha família se chamasse Iron. Assim como as invenções de metal gigantescas que meus parentes criavam. Zepelins, automóveis, gramofones e todo o tipo de arma de fogo.
O projeto de fato era simples. Enquanto meus primos buscavam recriar o ser humano com bases místicas, eu havia criado um modelo humano de metal, movido a vapor, com vida própria e capacidade de aprender basicamente qualquer coisa. Só faltava a calibragem dos motores.
Seguia calado por meu escritório, procurando em minha biblioteca por registros de um antigo projeto. Procurei pela minhas seções intermináveis até finalmente encontrar em um canto inesperado uma pasta pequena com informações.
Respirei aliviado quando encontrei a resposta daquilo que procurava. Era muito mais fácil do que achava.
O dia ainda estava sendo criado pelas mãos cuidadosas do sol, que nascia vagarosamente. Evidentemente as estrelas não haviam desaparecido ainda, permitindo que tivesse uma agradável vista. A fumaça não podia me alcançar de onde eu estava, o mundo era lindo quando visto de cima.
Ouvi o som de um navio atracando na costa. Isso indicava algo que me deixava altamente ansioso. Terminei de posicionar as peças do automátono Zeal. Ele estava maravilhoso.
Zeal tinha peças metálicas, de fato. Porém, também havia madeira e articulações em áreas mais flexíveis, pois a mesma era muito mais leve. Dentro do que seria sua cabeça, uma engrenagem principal definia ações e movimentos, outras nove definiam suas funções de leitura, visão e criação. Zeal era surdo e mudo, mas tinha um compartimento em seu peito que permitia que o mesmo escrevesse mensagens em resposta aos meus comandos.
Zeal era o começo de uma nova era.
Abri o compartimento de comandos em seu peito. Inseri o primeiro comando: Pesquise por "abelha".
Zeal soltava vapor de seu pequeno escapamento lateral. Ele dirigiu-se até uma parte da minha biblioteca, onde haviam exemplares de insetos. Rapidamente, encontrou um livro sobre o assunto. Ele voltou até mim com o livro, e um pequeno pedaço de papel saiu de onde seria sua boca.
Inventor Klau, a partir de seu mando, pesquisei sobre "abelhas". Abelhas são um tipo de inseto classificado pelo nome de Apis mellifera. São insetos polinizadores que fabricam um produto chamado mel.
Dei um estalo de alegria quando percebi o acerto de Zeal. Devolvi o papel ao compartimento em seus ouvidos.
O automátono dirigiu-se até uma estante, e começou a ler. Estava copiando as palavras que via nos livros que enfiava em um compartimento em sua barriga. Ele foi criado com uma vontade insaciável de aprender coisas e se comunicar por conta própria.
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Não Tínhamos Escolha
General FictionSensações, Medos, Criações e Sonhos. Em 1832, durante o pico da Grande Revolução Industrial, o país encara miséria e crescimento ao mesmo tempo. Todos são seus maiores inimigos, inclusive vocês mesmos. Existe um mistério ao redor do livro. Um enigma...