PRIMEIRO - "Maldições"

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Sensações

Um cheiro forte me abraçou junto de um acalorado e cantante chamado: "Frad!". Eu sentia calor, um calor que percorria minha mente e me levava para a paz. Me sentia preparado para tudo. Me sentia alegre com tudo.

- Não se esqueça de lavar suas mãos antes de comer.

- Sim, mamãe!

- Como foi hoje na casa da Senhora Loud?

- Me comportei muito bem, mamãe.

- Jura?

- Sim mamãe...

- Pois eu ouvi algumas notícias. O telegrama chegou mais cedo do que o esperado. A Sra. Loud me avisou que tem tido alguns problemas com os dois garotos da família Oaks.

- E-eu...

- Frad. A verdade.

Quando ela dizia isso, era fácil sentir uma sensação muito especial. Me sentia contra a vontade de mentir.

- Eles riram de mim. Disseram que a gente era pobre, que o papai está em dívida com o pai deles e que meu lugar não era em uma escola, e sim na mina de carvão!

- E aí, o que aconteceu?

- E... eu

- Frad, está tudo bem em falar - Seus olhos penetrantes me tranquilizaram - O que você fez?

- Eu soquei o Nate nas costelas...

- Você o quê!? - disse minha mãe, demonstrando uma feição surpresa.

- Ele que começou.

- Frad. Você sabe muito bem que isso não é certo. - ela me corrigiu - e como você se sentiu?

- Triste. Bem triste.

- Frad. Tire seu casaco.

Eu obedeci, mesmo sabendo o que ia encontrar.

- Ok, agora levante sua camisa.

- Mas... mamãe.

- Frad. Levante a camisa.

Eu levantei a camisa, e o que foi revelado era uma mancha, um hematoma forte abaixo das minhas costelas.

Aquele hematoma não era fruto de um golpe em mim, isso que era espantoso. A verdade é que, desde pequeno, eu fui acometido com uma espécie característica, que eu hoje em dia considero uma maldição. Era algo curioso. Eu sentia a mesma coisa que aqueles que eu tinha contato. Quando eu soquei Nate, eu consegui sentir, no mesmo lugar, na mesma proporção, uma dor aguda e repentina, era como se eu tivesse recebido o soco. Foi justamente por isso que, durante toda a minha vida, sempre tentei manter todos ao meu redor confortáveis.

- Frad, sente-se aqui.

- Sim, mamãe.

Ela pegou em minha mão, e começou a falar:

- Você é igualzinho a mim, um pedacinho de empatia. Se quiser que os outros se machuquem, você vai se machucar no processo.

Ela esboçou um sorriso preocupado, de um jeito que só ela conseguia, e me ofereceu um ovo frito.

Aquelas palavras nunca saíram da minha mente. Nunca pensei que fosse tão difícil passar pelo luto de perder uma pessoa amada.

E foi aí que eu acordei.

Este era o oitavo dia do verão se instaurando. Uma doce melodia tocava da caixa de música anunciando que chegou a hora de acordar e ir ao trabalho.
Levantei animado, afinal de contas, era meu aniversário. O que poderia dar de errado?

Não Tínhamos EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora