20. Tempestade

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Na segunda, os dois não se atrasaram para o refeitório.

O grupo de vampiros conversou sobre o fim de semana, sem o Bruno dessa vez, e inteiraram Jão de tudo dos seus fins de semanas, ele se sentiu feliz por ser incluído.

A tarde, Pedro chamou Jão pra acompanhá-los até o teatro, queria mostrar fotos de algumas peças que eles tinham escrito ou atuado, eles passaram a tarde toda nisso.

A noite caiu e os jovens voltaram para o dormitório, quando já estavam prontos para dormir, começou a chover.

De início uma chuva leve, mas que logo foi se intensificando.

Jão: — Chuvinha! — Jão diz enquanto fecha a cortina. — Bom pra dormir.

Pedro: — É... — Pedro estremece de leve.

Jão: — Tá tudo bem, Peu? — Perguntou, voltando para a cama.

Pedro: — Tá sim.

Jão: — Certeza?

Pedro: — Cla... — Um relâmpago iluminou o quarto, Pedro deu um grito.

João segurou o riso e chegou a abrir a boca pra debochar do fato de que Pedro tinha medo de trovões. Mas após outro relâmpago ele percebeu que não era o barulho que assustava o vampiro.

Jão: — São os relâmpagos? Eles te assustam por causa do clarão?

Pedro: — Sim. — Pedro se encolhe. — Desde eu sou bem criança eu tenho problemas com tempestades... — Outro clarão atravessa a cortina, outro grito. — Desculpa, mas vai ser assim até a chuva acabar. — A voz de Pedro sai chorosa.

Parecia uma daquelas tempestades que duram a noite toda.

Jão: — Não precisa se desculpar, eu entendo que você não controla isso. — Jão dá um sorriso amigável, tentando acalmá-lo. — Eu tive uma ideia, vem cá. — Chama.

Pedro se levantou da cama e andou até a de Jão.

Jão: — Senta aqui. — Ele dá um tapinha na cama, do seu lado, Pedro o faz e assim que cruza as pernas João joga o cobertor em cima dos dois. — Acha que assim a claridade vai te incomodar menos?

Pedro: — Parece que sim... — Outro estalo, dessa vez Pedro não se assustou, seu corpo estremeceu de leve, mas ele não gritou. — É, assusta menos... — Ele sorri.

Jão: — Quando eu era criança, eu tinha muito medo de trovões, então meus pais faziam uma cabaninha dessas, eu me sentia mais protegido, achei que podia fazer você se sentir assim também. 

Pedro: — Realmente... obrigado. — Ele sorri.

Jão: — Não precisa agradecer.

A respiração de Pedro ainda não tinha se normalizado, apesar de estar mais tranquilo, ele ainda estremecia a cada flash de luz que conseguia atravessar o cobertor, Jão segurou sua mão instantaneamente, mas ele não pareceu se importar.

Jão: — Eu gostei das fotos que você me mostrou. — Jão comenta, decidido a puxar um assunto que Pedro gostasse para fazer aquele sorriso que ele gostava tanto ressurgir nos lábios dele. — Você é muito bom.

Pedro: — Gostou mesmo? Não são as melhores, eu fiquei com medo de levar uma câmera muito boa e acabar acontecendo alguma coisa. — Ele riu.

Sem sequer perceber, Pedro entrou fundo no assunto, falando por mais tempo do que pensou que alguém teria paciência pra o ouvir, mas João parecia interessado em tudo que ele dizia.

Aos poucos, enquanto comentava sobre sua fascinação por câmeras e cinema, ele se sentiu mais tranquilo, a ponto de quase esquecer que o céu desabava lá fora, ele manteve sua mão enlaçada na de Jão.

Jão: — Isso é muito legal. — Jão diz. — Acho que você devia fazer faculdade disso.

Pedro: — Pretendo ir pra alguma área do audiovisual mesmo, mas, e você?

Jão: — Eu... não sei.

Pedro: — Devia fazer música.

Jão: — Você acha?

Pedro: — Tenho certeza. — Ele sorri.

Jão: — Você acredita mais em mim do que eu mesmo. — Ele ri fraco, seus olhos encontram os olhos de Pedro.

Pedro: — Se você pudesse se ouvir cantar, entenderia porque eu acredito tanto.

Jão sorriu, incapaz de responder.

Pedro: — Jão? —Ele chama.

Jão: — Sim, Peu.

Pedro: — Ontem você disse que eu era a única coisa boa que te aconteceu desde que você chegou aqui. 

Jão acena com a cabeça, o incentivando a continuar.

Pedro: — Acho que você também é a minha... — Ele sorri, e Jão sorri de volta instintivamente.

Nenhum dos dois disse mais nada, eles apenas mantiveram os olhares conectados e as mãos enlaçadas, sorrindo.

Os sorrisos dos dois vampiros vão se aproximando até que se tocam, num beijo que é calmo e cheio de receio no início, mas assim que a mão livre de Jão desliza pela nunca de Pedro, se prendendo ali no seu cabelo, foi como se ele tivesse um aval para intensificar o beijo.

Quando o ar deu falta, eles descolam os labios tão sutilmente quanto eles tinham se unido, e ambos desviaram o olhar, com sorrisos bobos no rosto.

Sangue, Amor & Outros Traumas - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora