Capítulo 4

1 0 0
                                    

"O fogo que está mais próximo é o fogo que mais queima."
William Shakespeare.


Se tem uma coisa que eu odeio mais do que tudo na vida, perdendo somente para Mihael Brianchi, é ter que acordar cedo. Sempre me pergunto por que tem pessoas que realmente levantam cedo, querendo isso. Que saem para correr... A pista vai continuar lá, amigo, você pode correr, sei lá, umas 10h. Uma terapia ajudaria.

Quando eu concordei em sair com a Lory pela manhã para tomar café, não estava me referindo a sair às 7h da manhã.

Inspiro pela terceira vez antes de deixar de olhar pelo olho mágico e abrir a porta. A morena está com um sobretudo marrom e um sorriso genuinamente animado para quem já está de pé às 7h da manhã!

- Bom dia! - Ela diz animada e seu sorriso se transforma em um sorriso divertido quando ela percorre o olhar pelo meu corpo. Faço o mesmo e encaro o meu pijama comprido, que é como um macacão felpudo, de cor creme com vários desenhos de sorvete. Janine me deu de aniversário no ano passado.

- Bom dia - Deixo de encarar a roupa e olho para ela. Não soo animada igual ela, não faço muita questão de fazer um esforço também. Quem sabe assim ela nunca mais me chama às 7h da manhã.

- Pensei de irmos ao Horb's. Eles servem o melhor café com chantilly da cidade.

Ela continua animada. Que ótimo!

- Dez minutos e eu já saio. - Fecho a porta na cara da arco-íris antes mesmo de ouvir sua resposta.

Três minutos eu gasto tentando não surtar e mandar ela para a puta que a pariu. Vou ao meu quarto, escovo os dentes, abro a mala que ainda está feita e procuro por alguma roupa que não tenha sorvetes estampados. Pego uma calça preta, uma jaqueta de couro e um tênis confortável. Encaro a roupa já de frente para o espelho e bufo quando observo meu cabelo. Faço um coque de qualquer jeito e pego minha bolsa, confiro se minha arma está dentro, coloco duas facas karambit na parte de trás da cintura e saio do apartamento.

A arco-íris está na frente do próprio apartamento com o telefone no ouvido. Ela não percebe quando eu abro a porta, está encarando os próprios pés, um deles está fazendo movimentos circulares no chão.

- Hoje vou sair. Pode passar aqui amanhã e pegar as coisas que faltam? Meu irmão tem um compromisso amanhã. - Pausa de sete segundos - Não é da sua conta, curioso.

Ela da uma risada quando a pessoa do outro lado da linha fala alguma coisa, na mesma hora ela levanta o rosto, percebendo que estou trancando a porta.

- Okay, vou desligar. E, por favor, amor, não esqueça de avisar ao seu pai sobre o meu aniversário na casa do lago. - Lorenzo, suponho, fala alguma coisa, o que faz Lory revirar os olhos. - Você disse a mesma coisa da última vez. Tá. Te amo. Tchau.

Ela repete as duas últimas frases umas duas vezes entre risos antes de fato desligar a ligação. Coloca o celular na bolsa e da duas palminhas, esfregando as mãos em seguida para aquece-las.

- Pronta?

- Pronta é meu nome do meio!

- Ótimo! - Diz sorrindo animadamente enquanto aperta o botão do elevador, que não demora nem um minuto para chegar no andar. - Então, de onde você é?

Olho para ela, pisco uma, duas vezes enquanto decido se conto a verdade ou se só invento alguma mentira.

- Trieste. - Uma quase verdade.

Ele franze o cenho e faz aquela mesma cara que fez quando me viu com a mala ao sair da porta das escadas. Pelo visto a cara do "que bobinha" também é a cara do "não faço ideia do que você está falando".

- Nem sequer sei onde fica isso. É um estado?

Dou um sorriso e nego com a cabeça.

- É uma cidade. Fica no Nordeste da Itália, faz fronteira com Eslovênia.

Ela abre a boca, formando um "o".

- Você é italiana? - Faço que sim com a cabeça - Quase nem da para perceber que você tem sotaque!

Sorrio, isso é graças ao Joseph. Nas aulas de idioma que tem na mansão, Joseph nunca aceitou menos do que a perfeição. Todo idioma, você tinha que falar perfeitamente, sem aparentar um sotaque italiano. Afinal, como ele dizia, ninguém precisa saber de onde você é.

- Poderia dizer "mama mia"?

- O que? - Solto uma risada espontânea e junto as sobrancelhas.

- Sabe, igual os italianos fazem. - Ela gesticula no ar não querendo dizer nada com a mão. Fica um silêncio por no máximo cinco segundos, que é quebrado quando a morena vira abruptamente para mim e sorri. - Vocês comem massa todos os dias? - Me sentiria ofendida, mas ela parece genuinamente curiosa. Ela tem o dom de ser genuína, aparentemente.

Ela aponta para um Fiat 147 e imagino ter feito uma careta, porque ela começa a se explicar.

- É de família. - Informa entrando no carro, faço o mesmo - Essa belezinha foi o segundo carro do meu avô. - Alisa o volante ao terminar de explicar.

- É muito legal! - Fiz a careta justamente por ser um carro velho, porque até onde eu pesquisei, assim como a família Brianchi, os Foster são bem de vida.

- E aí? - Ela da uma olhada com um sorriso (Nem preciso dizer que é animado) para mim enquanto sai da garagem do prédio.

- O que?

- Vai dizer o "mama mia"?

Rio e nego com a cabeça.

- De jeito nenhum.

- Ah, sem graça.

Percebo que o sorriso dela vai se desfazendo com os segundos. Ela não me olha, mantém os olhos firmes na rua. Quando ela faz uma curva, seus ombros caem um pouco enquanto ela olha para a janela do seu lado para ver se não está vindo nenhum carro, então ela da um suspiro e depois solta o ar de uma vez.

- Meu noivo é italiano também.

Dou uma de João sem braço. Apesar de ela não estar contente em falar do assunto, eu estou! E muito!

- É mesmo? Por que você não pede para ele falar o que vc me pediu?

- Ele era pequeno quando se mudou, então ele fala melhor inglês do que italiano. Tem coisas que ele nem sabe falar em italiano. Por exemplo, o "mama mia" ele não fala com sotaque, nada ele fala com sotaque.

- Quando ele veio para cá? - Pego o que ela falou de ele ser pequeno.

- Tem uns anos já. Nossos pais já eram amigos há muitos anos.

- Uau! Típico clichê!

Ela da um sorriso, deixando aquela expressão de tristeza escondida por um tempo. Será que é por isso que ela está sempre tão alegre e no mundo colorido, para esconder seja lá o que for?

Balanço a cabeça sutilmente para esquecer essa ideia. Não sou psicóloga para querer dar algum diagnóstico a alguém e meu foco aqui não é ela.

- Por que ele foi embora da Itália?

Ela da de ombros mais uma vez.

- Não sei. Ele não fala disso comigo, diz que é para me preservar ou sei lá o que mais.

Agora ela parece estressada, querendo ou não, eu entendo ele. Mas preciso admitir que depois de saber disso, tudo isso está sendo muito cômico. Mesmo querendo a preservar das merdas do pai dele, ironicamente olha só quem está indo tomar café com ela! Não podemos proteger os nossos para sempre, Lorenzo, você vai aprender isso ainda.

☆☆☆

O que estão achando?

Peço desculpa pela demora em postar o capítulo, estive um tanto puta com a plataforma e comigo mesma! (Escrevi um capítulo inteiro e amei, porém com o sono da madrugada apaguei o capítulo inteiro 🤡)

A ChantagistaOnde histórias criam vida. Descubra agora