Capítulo 3

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"As grandes chamas são revividas pelo vento, mas as pequenas são extintas, a menos que estejam protegidas."
São Francisco de Sales


Após um tempo prendendo a respiração, aperto o braço da poltrona com força e fecho os olhos quando o piloto avisa pelo microfone que vai pousar o avião.

Drummond, eu entendo que você facilitou a locomoção de várias pessoas, mas com certeza possibilitou mortes bem dolorosas. Mas se bem que se parar para pensar, talvez a morte de avião não seja tão ruim, né? Ele só bate e pronto. Sua alma sai e o corpo fica.

- Você está bem?

Abro os olhos e olho para o lado ao sentir uma mão gelada sobre o meu braço. É uma senhora cheia de pintinhas no rosto e que apresenta um sorriso doce e gentil.

- Acho que hoje não é o seu dia, minha querida! Até porque eu estou nessa lata velha junto com você e a minha necromante falou que eu vou morrer do coração, não de queda de avião. - Ela dá uma risada meiga e baixinha.

Aparentemente a minha reclamação com Drummond não foi em pensamento.

- Talvez a senhora tenha um ataque do coração enquanto o avião estiver caindo.

- Eu não tinha parado para pensar nisso. - Ela fica um tempo parada pensando - Mas tenho certeza que não será hoje o meu dia. Você quer uma água?

- Não, estou bem. Obrigada! - Digo e viro para a frente tentando manter uma postura que não seja de medrosa, que vergonha.

- É a sua primeira vez? - Ela pergunta e a encaro, então ela continua - Andando de avião.

- Ah, não - Dou uma risada, acho que deixando evidente o meu nervosismo.

- Então não deveria ir na janela se tem medo.

- Não tenho medo - Porra, eu tô me tremendo toda aqui.

Ela me encara com um olhar divertido. Que bom saber que eu fui entretenimento para a senhora!

- Só não curto muito coisas que voam - Esclareço.

- Às vezes um remédio ajuda também- Insiste, abrindo um sorriso em seguida - Me chamo Abby, afinal.

- Kate - Digo, sorrindo, talvez por influência do sorriso dela.

- O que te traz à América?

- Trabalho. - Minto.

Abby continua puxando mais alguns assuntos e mantemos uma conversa, ou para ser mais exata, só ela está falando. Já descobri que o marido dela morreu há 3 anos; que ela tem problema do coração e que tem uma família bem grande. Oito filhos, 15 netos e 9 bisnetos. E que essa viagem é para conhecer a sua nova netinha.

Sorrio quando ela começa a falar do seu passado. Ela não teve uma vida fácil, foi vendida pelo pai, mas conseguiu fugir e então encontrou o amor da vida dela, construiu uma casa e uma família com ele. Meu peito aperta porque é exatamente o que Janine quer, mas para ela parece ser tão mais complicado. Olho para o lado de fora do avião quando a senhora aponta para a janela com o dedo indicador. Solto um suspiro ao ver que já estamos no chão.

- Foi um prazer te conhecer, Kate! - Diz, ao se levantar da poltrona.

- Igualmente! - Digo e ela sai com um cachecol bem colorido que eu não tinha notado em seu pescoço.

Desço do avião, pego a minha mala e chamo um táxi para me levar até o apartamento que vou ficar hospedada.

No caminho para o apartamento, confiro o email sobre as informações e de brinde as redes sociais da minha nova vizinha.

A ChantagistaOnde histórias criam vida. Descubra agora