Um sentido!

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Na verdade, eu sempre me fiz essa pergunta em diferentes estados da minha vida, mas antes de eu te responder preciso que entenda onde estou e como cheguei aqui. Minha mãe é uma enfermeira, ou ao menos era, mas vou chegar lá. Meu pai era um completo desconhecido até pouco tempo para mim, minha mãe o odiava e eu não tinha muitas notícias dele.

Sempre foi eu e minha irmã contra o mundo, ela era tudo para mim e em um certo momento eu pensei em desistir de tudo, dos meus estudos para ajudar em casa, para ajudar minha mãe a sustentar a casa. Ela nunca deixou, eu desistir dos estudos significava que ela teria fracassado por isso entrou em dois empregos fazendo plantão de 24 horas, nos mal a víamos depois disso.

Ela sempre estava muito cansada e reclamava de dores no corpo então em um dia demos falta dela e ela não respondia as chamadas, ligamos para o hospital e depois de alguns minutos falando com alguém minha irmã mais velha começou a chorar, minha mãe estava internada em coma por excesso de trabalho que acarretou um desmaio e ela não respondia mais aos estímulos dados pelos médicos.

Ali meu mundo caiu, ali eu soube que agora elas dependeriam de mim e eu não sabia como poderia suportar tanto peso, ser o homem da casa as vezes é ter que rejeitar suas emoções e lidar com tudo de forma mais fria. Posso não ser o melhor, mas até o meu último suspiro eu dedicaria a dar tudo a elas, esquecendo até dos meus próprios problemas e sonhos abdicando tudo para viver por elas.

Minha irmã mais velha tinha uma amiga e o que me era de inocente me foi roubado, algum desses segredos eu guardei como um baú onde a chave tinha sido jogada longe, eu me blindei de várias coisas que achei que não doíam, mas no fundo estavam me matando por dentro. Foi quando eu conheci uma menina chamada Liz, ela me mostrou que não preciso aguentar tudo sozinho e que podia confiar nas pessoas. Mal sabia eu que isso doeria tanto, confiar em alguém é o pior erro que eu podia cometer, alguém que não se importava em expor seus problemas para os outros de forma leviana.

Não conseguia entender como ela tinha tanta fé em algumas pessoas maliciosas, ela era tão inocente que eu quis proteger ela, só esqueci de proteger ela de mim mesmo. Eu nunca tive sentimentos assim por outra pessoa, as poucas pessoas que passaram pela minha vida amorosa eu tinha lidado como experimentos. Mas ela foi o mais desafiador que eu tinha encontrado em toda minha vida, tamanha complexidade em uma pessoa de estatura tão baixa era incompreensível.

Meu jeito conseguiu fazer com que nos afastássemos e para mim estava melhor assim, já que eu não queria ter mais uma pessoa na minha vida dizendo o quanto eu a fazia mal e desejando que eu não existisse. Das muitas brigas com minha mãe eu ouvi algumas palavras que só machucavam quando eram faladas por ela, ela odiava o fato de eu parecer com meu pai e isso fazia com que todo ódio que ela tinha por ele as vezes fosse depositado em mim.

O tempo foi se passando até que tive a oportunidade de conhecer meu pai, ele se parecia muito comigo e ao mesmo tempo era o completo oposto. A indiferença com que ele tratava minha irmã me fez criar ódio dele, minha irmã era muito forte e demonstrava não se importar muito com isso já que ela via nosso padrasto como pai.

O mesmo padrasto que me excluiu como se não fosse nada quando teve sua primeira filha com minha mãe, me fazendo pensar que a culpa era minha durante toda a minha infância. Eu tentava a todo custo obter aprovação dele desde criança em coisas simples, mas sempre era motivo de desgosto quando eu tentava.

Foi aí que eu desisti completamente do amor dele, eu me via como um revolucionário que dependia somente de mim mesmo. Mas a falta de amor me fez criar um vazio gigantesco em meu peito que ia crescendo cada vez mais, tentei começar no álcool, cigarros, e até drogas, mas nada suprimia aquele vazio gigantesco que eu sentia no meu ser.

The boy who was to blameOnde histórias criam vida. Descubra agora