Sandman - Bring Me A Dream

coffee

Havia acordado por volta das oito e meia, hoje era final de semana. Acho que por isso dormi melhor. Mesmo tendo me atrasado uma bela quantidade de dias naquela semana.
Ouvi ao fundo um tilintar de passos vindos da sala. Abri a porta de meu quarto, e lá estava meu convidado de honra, vestindo-se com suas roupas já secas.

- Parece que cumpre com o que diz pelo menos uma vez. - sorri enquanto dava de comer a Salem. - Obrigado por ficar, mas tenho planos para essa tarde.

- Posso saber quais?

- Nada que envolva perigo iminente então, não tem que se preocupar. - tomei a lavar a louça acumulada de dias. - Tens um reino para cuidar. Cumpre com o teu serviço, vemo-nos a noite.

Pelo canto de meus olhos o vi acenar com a cabeça e partir em direção a porta, que quando fechada, pode-se ouvir um alvoroço, possivelmente sua areia o levando embora.
Louça finalizada, vesti-me adequadamente. Marquei um café com Luke afim de saber sobre a biblioteca, e ele informar-se sobre a cafeteria.

Havíamos ficado deveras próximos após nossa negociação, e ainda mais com sua irmã ingressando na equipe.

*

- Meio cedo, não concorda? - sorri com seu comentário, juntando-me a ele na pequena mesa ao lado de fora numa pequena padaria.

- Horário formal. Como deve saber sou deveras ocupada. - rimos juntos observando as grandes opções de pães no cardápio.

Observei o céu, e meu costume tomou-me a mente. Refleti o suficiente para chegar a uma de minha várias coleções de perguntas e questões. Ele casou-se com Calliope, e de acordo com o mesmo, concebeu um filho com ela. Mas e Nada? Não havia dito-me nada sobre a mesma. Podia-se notar também que parecia sentir certo desgosto ao falar dela.
Fui tirada de meus pensamentos pelo voz do garçom perguntando-me oque desejo.

- Um americano. Sem açúcar, por favor. - Meu acompanhante pediu um cappuccino.

- Como vão as coisas na cafeteria? Soube que conseguiram uma bela quantia de clientes. - lembrei-me da ajuda do Oliver pelas redes sociais.

- Oliver sabe divulgar bem um local. Juro que as vezes me seguro para não derramar café em alguém de propósito. Mas tirando essa superlotação tudo corre bem. - bebi um gole de meu café observando-o - E a biblioteca? Rende?

- Como nunca em sua existência. - sorri, era ótimo saber que o que minha mãe tanto amava ajudava os outros. Gosto de pensar que ela estaria orgulhosa de quem me tornei. Por mais que não possa saber sua real opinião. - Contratei pessoas experientes neste tipo de coisa. Uma divida em cada área; organizações, divisão de gêneros, contabilidade, lucros no geral entre outros. 

- Fico feliz Mitch. Você honra a memória de minha mãe. Posso ter certeza de que ela adoraria isso. Sua biblioteca organizada e fazendo sucesso. - lembrei-me de alguns breves momentos de minha infância, onde ela passava mais de três horas, apenas lendo seus clássicos prediletos para mim.

- É costume seu chamar todos por seus sobrenomes? - outro gole.

- Na verdade não. - pensei um pouco - Creio que seja por convivência. Um amigo na verdade, a quem sempre me chama por meu sobrenome.

Luke e eu permanecemos conversando, alternando sempre entre assuntos comercias, formais e pessoais. Posso dizer que aprecio nossa relação, e muito me surpreende seu bom jeito com as palavras, assim como seus modos. Sempre impecáveis.
Por mais que estivéssemos a mais de duas horas ali. Sentia sempre algo queimando a minha nuca. Um olhar a minha espreita, um sussurro distante ao meu ouvido. Mas ao fundo, era perceptível um riso abafado, que facilmente podia-se confundir com um choro inquietante.

*

Eram cerca três e quarenta e cinco da tarde, eu estava em minha cozinha preparando alguns pastéis de massa caseira, sujava tudo ao mesmo tempo que observava a mulher em meu celular dar instruções sobre a temperatura do óleo e ponto de fritura.
Mas não mais prestava atenção a suas palavras e sim a meus pensamentos. Voltei minha memória a Desejo e suas palavras. Disse que eu era o novo "mascote" de Morpheus. Será que ela se referia a minha mãe como o antigo? Estava de ponta a cabeça e Sonho não me ajudava em nada, nunca dava-me respostas concretas. E sempre que respondia algo era de maneira vaga e estressante. Como se sentisse desgosto do que dizia. O que era no mínimo estranho.

Ouvi um barulho estridente de um vento forte. Assim como os que ocorrem em praia e levantam a areia até nossas cabeças. Só que esta areia acompanhava um pequeno brinde.

- Na cozinha. - disse-lhe alto assim que ouvi a porta de meu quarto sendo aberta.

- O que está fazendo?

- Uma coisinha humana e desprezível, porém deliciosa chamada pastéis caseiros. - ri com minha fala. - Fiz em excesso então, espero que esteja com fome.

- Não preciso comer. - respondi-lhe com uma falsa risada.

- Vai ter que se forçar a isso.

--

Os próximos minutos passaram-se em silêncio, as únicas palavras proferidas eram de auxílio meu a Morpheus quando necessitava de algo. Coisas como; "Pegue para mim aquele prato", "Entregue-me os papéis" ou "Desligue o fogo por favor".
Finalizados os procedimentos necessários, lavei tudo e sentei-me a fim de descansar um pouco antes de comer. Postos a mesa, eu devorei a maioria dos pastéis, enquanto meu convidado degustou parte de um.
Guardado e arrumado tudo ainda permanecíamos sentados a mesa em silêncio.

- Morpheus, posso lhe fazer uma pergunta?- o mesmo apenas acenou com a cabeça em confirmação. Respirei fundo, acalmando-me. - O que houve com Nada?

Ele nada disse, mantendo-se com a cabeça por grande quantia de tempo. Até que pareceu manter sua postura de bom moço afim de ser no mínimo sincero.

- Conheci-a enquanto a rainha e governante de um povo antigo. - suspirou ajeitando-se - Encantei-me com sua beleza, assim como ela encantou-se comigo. Pedi que ficássemos juntos. Mas ao ficar ciente de que sou um perpétuo, ela negou-me. Disse conhecer os perigos e catástrofes que aguardavam a relação entre humanos e perpétuos.

- Diga-me. Onde está ela? - respirei com certo receio de sua resposta

- No inferno, eu a mandei para lá. - inclinei-me para trás, não mais queria ouvir isso. Mas isso não o impediu de prosseguir. - Pelos últimos dez mil anos.

- Por te negar?

.