Sandman - Bring Me A Dream

you're there.

Pude ver já desperta que ele estava diante de mim com meu gatinho em seus braços, sentado na poltrona a minha frente com os olhos fechados, mas os abriu ao perceber que eu acordei, e o mesmo veio em minha direção e tocou minha testa com seus dedos finos e quentes.

- Eu sabia que isso aconteceria - eu não conseguia responder sua pergunta pois em minha cabeça eu já tinha milhões delas - Fire.

Ele chamou meu nome me tirando de meus devaneios e meu medo constante, eu finalmente olhei em seus olhos, o mesmo me olhava com medo, seu olhar parecia observar minha alma.
 Num estranho impulso eu o abracei, o mesmo se ajoelhou no chão e eu me mantive no sofá, agarrada a única pessoa que naquele momento me fazia sentir segura.

- Está tudo bem, ninguém sequer tocar em você. - a ternura em sua voz, era de outro mundo, ele lentamente saiu do abraço limpando uma pequena lágrima que eu não entendia se era de medo ou de felicidade por ele estar aqui, comigo. - Acho que precisa descansar, irei embora - o mesmo se levantou do sofá indo em direção a porta, mas como outro impulso idiota, acabei por segurar seu braço e o puxar levemente para que se sentasse ao meu lado de novo.

- Você o viu? - pus minha xícara no escorredor de louça e me virei pra ele - Desejo, oque ele falou pra você? 

- Fique quieto por um segundo que eu te direi.

Quietos nos sentamos no sofá com as pernas cruzadas de frente um pro outro, lá a fora a noite já havia tornado forma.

- Quando durmo, acordo no mesmo escuro, e lá eu fico até por com firmeza em minha mente onde quero ir ou quem desejo encontrar, mas foi diferente, eu acordei em um lugar completamente vermelho e o vi. Se denominava como "desejo" e disse que eu sou um problema, uma ameaça, e meu contato com você ameaçava os reinos de seus irmãos.

O vi brincar com seus longos dedos enquanto olhava pra baixo parecendo pensar no que me diria, ou como me diria.

- Sim é verdade.

Parei pra pensar, ele pareceu se mostrar amigável, mas se Sonho fala a verdade. Ele ter ido me visitar pode significar que fará alguma coisa comigo para prejudicar Morpheus, ou vice-versa, ele voltaria?

- Então, e agora? - ele voltou a me olhar - Se ele voltar? Oque eu faço, se estava aqui porque não impediu? 

- Não, mas desejo de alguma maneira te fez entrar no reino dele, eu não posso adentrar o reino de meus irmãos sem a permissão deles.

- Respondendo a sua pergunta, sim ele pode voltar - ele me olhou sério, oque me fez ficar pra dizer o mínimo, preocupada - Olha, eu não consigo te proteger do sonhar, pois me ocupo, tem muitas pessoas nesse mundo que sonham ao mesmo tempo que você, então não é sempre que posso sentir quando você sonha - olhei pra ele novamente.

- Ótimo. - vi seu rosto de confusão - Você vem pra cá - vi um expressão de espanto em seu rosto - Se esse seu irmão quer te afetar me afetando e como eu não tô muito afim de morrer, você fica aqui, vai no sonhar pega umas mudas de roupas e fica uns poucos dias - o vi me olhar ainda incrédulo - Queria ser o bom moço. Estou te dando uma chance.

- Está certo. Se Desejo está realmente planejando algo você realmente não está segura, digo, ele não é de fazer mal a ninguém, mas ele não é de ser previsível. Estará mais segura comigo aqui realmente - o olhei me questionando sobre como ele faria sobre o sonhar - Lucienne, dá conta de tudo.

*

Eram nove da noite, e ele permanecia parado em um canto da sala sem se mexer, reparei que ele se mantinha com aquelas roupas de sempre, não pareciam muito confortáveis

- Você lava isso? - ele parou e me observou de cima abaixo, parecia confuso com minha pergunta mas não deixava de me observar - Não parece muito higiênico da sua parte.

- São as minhas vestes comuns.

- Não parecem muito confortáveis - o vi acenar com a cabeça sem entender oque ele quis dizer mas me interrompi - Por favor, te darei algo limpo. - ele me olhou torto - Minha casa, minhas regras.

Fui até meu quarto e peguei um pijama do Oliver que ele havia esquecido a última vez que dormiu aqui em casa, era completamente preto e parecia levemente que ficaria um pouco largo em Morpheus mas ele que arque com as consequências. Fui até a sala e o mesmo estava tirando o sobretudo finalmente me dando a imagem dele apenas de camisa calça e botas, sem o sobretudo largo que cobria parte de seu corpo.

- Aqui - lhe entreguei, deu a entender que ele diria algo como "obrigado", mas o cortei ainda de cabeça baixa - Não me agradeça, é o mínimo. Vire a esquerda depois da sala, é o banheiro, fique a vontade, toalhas de visitas estão no armário preto ao lado da pia.
O vi adentrar em silêncio, e em seguida ouvi o barulho do chuveiro ligando, acariciei Salem que dormia tranquilo ao meu lado.

Tombei a cabeça para trás em pensamento me punindo. Pelo medo de algo que até então não acreditava na existência.

Ouvi o chuveiro sendo desligado e a porta sendo aberta, olhei na direção da porta e o vi com o pijama que eu acertei, ficou ao menos um pouco largo, ele não estava com uma cara muito boa.

- Se te conforta, até amanhã suas roupas estão secas - arranquei um sorriso seu, a figura se dirigiu até meu pequeno e aconchegante sofá e se sentar com seus cabelos molhados. - Comi mais cedo no trabalho, então não tenho nada para fazer.

- Está entardecendo.

- Sem sono.

*

Virei em sua direção.

- Por que mentiu? - ele contorceu a expressão.

- Menti? Sobre o que exatamente?

- Disse que não sentia. Mas disse que foi casado, e que viveu amores. Teve até um filho - sorri - Acho impossível fazer esse tipo de coisa sem sentir.

- Muita coisa aconteceu depois disso.

- Coisas as quais você não me contar acreditar - ele olhou para baixo - Vamos conviver por um tempo até que essa ameaça seja eliminada. Então por que relutar? - ri alto - É uma troca justa. Me conte de você que conto de mim.

Ele sorriu de canto acariciando Salem que ronronava.

- Eu vivo desde o início, sou destinado a servir a humanidade. Assim como todos os Perpétuos tem suas determinadas funções, e todas ligam-nos a vocês humanos. Mas os gananciosos não se satisfazem com nossos serviços, e querem mais. Um homem que tentou capturar a morte para obter sua imortalidade. Acabou por capturar a mim, e em cativeiro me manteve por anos e anos. Não receio sentimentos, mas sim os humanos.

- Existe uma frase clichê que diz que você não pode odiar todas as rosas só porque uma te espetou. - ele sorriu com a fala - Claro, você não mereceu isso. Mas é uma tolice acreditar que somos todos assim.

- Fire, eu sinto muito.

- Pelo que? - eu não pude terminar direito minha frase antes que ele me puxasse levemente pelo pescoço e me beijasse, agora uma segunda vez.

Não foi desesperado, mas com muito sentimento e calma, me deu paz e tranquilidade. Quase como um beijo de agradecimento. Mas um pensamento ainda me assolava.

- Você não vai fugir de novo vai?

Ele sorriu com isso - Não.

- Vou ser bem sincera, eu posso ainda ter minha ressalvas com você, e você pode achar sem motivo. Mas, mesmo que seja um Deus, você está aqui. E ninguém mais está.

Salem miou alto afim de mostrar que também estava ali. Ele foi nosso despertar sobre minha hora de sono.
Morpheus se ajeitou no sofá com Salem na poltrona ao lado. E eu fui de encontro ao meu quarto após despedir-me dos dois.