Eu abandonei aquela figura na estrada após me despedir adequadamente, agradecendo por toda sua bondade e pedindo para nos vermos novamente. Estava em transe, parecia não pensar, o que condizia bem com a realidade presente. Todas as músicas com tristes sonetos e solos encorajadores jaziam em minha mente, cada vez mais alto. Mais próximos.
Meus pés por sorte ainda funcionavam, mas não podia os sentir mais. Seu único vestígio era o fato de que eu podia me ver e sentir mais próxima de casa. Algo pulava em meu peito mas não podia diferir se era meu coração ou algo além, algo a quem se podia ouvir. Uma voz, talvez um toque. Eu sabia que estava pois me olhava, não com olhos, não havia olhos mas eu sabia que olhava para mim pois eu pude sentir.
Eu estava diante de meu bloco de apartamentos, subi correndo pelas escadas, poderia facilmente trocar os pés pelas mãos em meus seguidos numa só subida. Eu não sabia realmente por que estava correndo, mas meus ouvidos latejavam ouvindo algo dizer-me para correr as escadas o mais rápido que eu puder.
O número duzentos e um, nunca pensava muito antes de entrar, mas desta vez parecia que o desconhecido me aguardava lá dentro. Não que isso impedisse a mim de entrar, pois foi esse meu ato.Melhor do que nunca em minha vista ele estava lá. Os trajes eram os mesmos, o cabelo, os olhos e até mesmo suas feições diárias. Mas o ar ao seu redor mostrava algo diferente, algo a mais, talvez quase imperceptível aos olhos. Mas com a devida atenção, era palpável aos mais descrentes lábios.
A passos curtos eu adentrei minha própria casa, que agora parecia-me totalmente irreconhecível. Mesmo não tendo nada sido movido sequer um centímetro para o lado, tudo era diferente. Graças a ele, graças a mim. Ambos, conscientes de toda possiblidade, toda situação.- Por que você nunca foi claro? - levantou-me a sobrancelha surpreso.
- Somos conscientes de nossa situação agora, é só o que importa. - pareceu pensar, nunca desviando os olhos - E você sabe por que. - acenei positivamente a sua vista
Suspirei levando as mãos a cintura - Então, e agora? - ele sabia que nossas rixas acabaram, mas manter este jogo poderia levar-nos a algo interessante. Mas isto não lhe parecia totalmente visível. - Desejo não é confiável, sua irmã é belíssima, e você.
Nada mais foi dito ou mencionado, não precisávamos de palavras, apenas de tempo. E, com sorte, toque, então finalmente paz. Era duvidoso de minha parte pensar poder ler as pessoas, mas podia firmar ambos os pés no chão para dizer que ele estaria ali por mim. Sempre esteve, por toda a minha família e humanidade. Era o veredito, ele sentia, muito mais do que nunca admitirá. Mas era irrelevante agora.
Ele levantou-se, caminhando em minha direção.
- Você compreende? - um aceno - Deixe-me apenas. - cortou a si próprio por suas mãos.
Mãos as quais alcançaram os versos de meu rosto. Ele ergueu-o em sua direção. Mãos quentes as quais guiavam meus olhos aos seus, e afundavam-me ali. Sem uma única chance de escapar, não mais.
- Acho que não te odeio tanto. - rimos - Mas sem promessas.
Levei-me por momentos, permitindo que aquelas mãos guiassem meus lábios até os seus. Como da última vez, porém agora em sintonia. Sim, eu podia sentir, finalmente compreendíamos um ao outro.
A temperatura ambiente começara a aumentar sem válvula de controle. Mas era bom, supria todo o frio da lado de fora já sofrido.
Mãos, outra vez mãos. As quais dançavam entre as curvas de meu corpo, tocando cada centímetro de maneira tímida e ansiosa ao mesmo tempo. Ele depositou-as em meu pescoço e cintura, me puxando para mais perto, mais juntos. Me englobando com seus braços, podia sentir eles firmes como se tivesse medo de me perder, mas de um jeito bom. Seus lábios, os meus, colados, o ar não mais importava, não queria respirar se precisasse. Somente por um momento que fosse para permanecer ali. Por infelicidade fadada, separamo-nos por segundos. Antes que mergulhássemos por dentro da tempestade que eram seu par de olhos.Pus-me a rir, sem motivo, não ligava. Era felicidade? Era medo? Surpresa, talvez. Mas calei-me.
- Oliver deveria ficar a par deste tipo de acontecimento. - ele receou-me
- Cuidado com o que conta a esse garoto. - observei-o - Estou certo de que não quer envolvê-lo. Conte o que quiser, apenas não o incentive a ir atrás.
Assenti ajeitando minhas vestes, respirando fundo, olhando aos céus, e imaginando-me implorando a Oliver por minha vida. Não era justo eu sei, menti e omiti as coisas dele, qual será sua incrível surpresa ao saber dos fatos recentemente ocorridos.
- Fizemos isso mesmo. - sorri - Só por favor me diga que não estou sob perigo mortal.
Ele sorriu - Sabe que não posso prometer isso. Mas farei tudo ao meu alcance para mantê-la segura.
Ri irônica - Que coisa linda de se dizer vindo de você.
Ajeitei minha postura indo até a cozinha. Vendo que estava sendo seguida, retornei-me a sua direção.
- Fique se quiser. - ele concordou dirigindo-se ao meu lado enquanto lavava a louça.
Ele se dispôs a assistir-me lavar pratos, como se quisesse aprender. Esqueci de sua presença, tendo meus pensamentos tomados por outra ideia. Eu falaria com Desejo, mesmo ciente dos riscos. Eu não sabia como lidar com minhas aparentes habilidades, e como estava me relacionando com Sonho, creio que o risco de morte iminente seria amenizado caso tivesse algum, mínimo controle que fosse sobre meus poderes. Talvez assim houvesse outro jeito de resolvermos o problema.
Tão entretida estava que nem percebi quando pelas minhas costas sua voz me chamava.- Walker?
- Pois não?
- Vai haver um encontro em família, com algumas entidades como convidadas. Como acontece a cada mês humano. - uma pausa - Foi sugestão de Desejo levar isso ao nível baile. Por votação foi dito que seria um baile de máscaras, mantendo uma paleta de cores em preto e branco.
Sorri largo - Toda essa enrolação, apenas para me convidar a um baile em família? - abaixou a cabeça - Morte vai estar lá? - ele confirmou - Pensarei com carinho. - ri de sua feição envergonhada.
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Sandman - Bring Me A Dream
FanficEle repôs tudo no sonhar. Organizou e eliminou ameaças. Para que, anos no futuro ele tivesse um outro problema. Seu nome era Fire, Fire Walker.