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Pov Enid

Eu queria veementemente agredir Wednesday Addams! E seu rosto perfeito, repleto de sardas apaixonantes!

Por culpa de sua demonstração de carinho, eu havia perdido preciosas horas de sono, lembrando-me de seu toque macio sobre minha pele e a maneira como me protegeu.

E quando, enfim, consegui a esquecer, meu despertador soou, me obrigando a levantar e lidar com a confusão dentro de mim.

- Que aparência detestável, Enid! -foi o primeiro comentário que mama fez, quando me sentei a mesa, para o desjejum. Eu possuía olheiras profundas e bochechas amassadas.

- Querida, você se sente bem? -meu pai perguntou manso e genuinamente preocupado. Diferente de sua esposa.

- Sim! Apenas tive uma noite ruim! -respondi simples, em um tom de completo desânimo.

- Você tem certeza? -ele questionou, ainda desconfiado, querendo me conceder uma oportunidade para ser sincera.

Eu suspirei e pensei por breves segundos. Queria lhe dar uma resposta plausível, todavia, sem ser específica, dizendo que Wednesday estava me enlouquecendo.

- Acho que estou mentalmente exausta, papa! -revelei, ocultando a maior parte das informações- sinto que preciso ficar sozinha, por algum tempo -disse vaga, contudo, foi a única coisa que pude formular. Ademais, não era uma mentira.

O maior depositou sua mão sobre a minha, me presenteando com o seu usual sorriso amoroso. Afirmando, sem palavras, que tudo ficaria bem.

- Querida, por que não visita nosso antigo chalé? Isto pode lhe fazer bem! -sugeriu, tentando encontrar uma maneira de me ajudar.

Sorri ladino e refleti sobre sua solução. Eu adorava aquele lugar e fazia anos, desde a última vez que o visitei.

- Isso soa muito bem, pai! -exclamei animada, sentindo um tipo de disposição me invadir- inclusive, eu vou ir neste momento, para chegar cedo! -afirmei convicta, finalizando meu copo de suco, para me retirar.

- Neste momento? -o maior repetiu, um tanto temoroso- meu bem, eu não acho que você deveria ir agora, a previsão do tempo indica uma tempestade! -alegou com receio e desaprovação, enquanto arrumava seus fios grisalhos.

- Não se preocupe papai! Eu vou ficar bem! -apaziguei, pedindo licença e seguindo ao meu quarto.

Eu entendia a preocupação do mais velho, contudo, a neve estava tão fina, que quase não parecia neve, mas chuva.

De todo modo, principiei uma mala para dois dias e não demorei a terminar. Ainda vesti uma roupa mais quente, que aguentasse a temperatura congelante do lado de fora.

- Tenha uma boa viagem, meu bem! E me ligue, em qualquer instante que precisar! -pontuou e eu concordei, mesmo com a certeza de que nada aconteceria.

Depositei um beijo carinhoso no rosto do mais velho e dei partida no carro, iniciando minha rota de duas horas.

Os primeiros minutos se sucederam tranquilamente, no entanto, conforme a tarde se aproximava, o frio aumentava e os flocos se tornavam mais agressivos.

Meu coração disparou forte, no minuto em que, um estrondo alto se manifestou, fazendo o carro morrer abruptamente.

- Agora não! Aqui não! -choraminguei, tentando dar a partida, de modo falho- por favor! -clamei manhosa, mas não fui atendida.

Eu grunhi frustrada e bati meus punhos contra o volante, me inclinando, para apanhar meu celular.

- O universo me odeia! -resmunguei irônica, notando que não existia sinal. Sendo assim, eu não poderia contatar pessoa alguma.

Desespero pairou sobre mim, afinal, eu estava sozinha, em uma estrada pouco movimentada, dentro de um veículo sem aquecimento e longe demais de qualquer abrigo.

Todavia, inspirei fundo e busquei me acalmar, para pensar em alguma maneira de resolver aquilo.

A primeira coisa que fiz, foi apanhar minha mala e vestir um sueter mais grosso, afinal, em alguns minutos, a temperatura ambiente se tornaria tão gélida, quanto a externa.

E depois de devidamente agasalhada, mandei uma mensagem por ajuda para Yoko, desligando meu celular, para poupar bateria.

Felizmente, havia uma manta e algumas barras de cereal, que papai mantinha ali, para situações como aquela. Então, eu poderia me manter aquecida e alimentada, por um tempo relativo.

Com o decorrer das horas, a forte tempestade diminuiu, entretanto, o frio parecia ter aumentado, me fazendo cogitar a possibilidade de morrer por hipotermia.

Minhas pálpebras pensavam e eu quase me rendia ao sono. Contudo, adrenalina  me atingiu radicalmente, quando avistei um farol de carro.

Pisquei seguidas vezes e sai do veículo de modo afobado, caindo dolosamente, por conta da tamanha dificuldade em caminhar sobre a neve.

Coloquei a minha palma a frente do rosto, por culpa da alta luz, sem  conseguir ver nitidamente a pessoa que estava ali.

- Enid? -o tom preocupado, um tanto rouco, aqueceu meu interior e eu não pude conter um choro aliviado, correndo ao seu encontro.

Me lancei contra a maior e ela me apertou com ternura, deixando-me desabar em seus braços.

- Eu senti tanto medo! -admiti baixo, escondendo meu rosto em seu pescoço.

- Eu estou aqui, Enid! E eu vou cuidar de você! -declarou e eu suspirei, a apertando mais forte.

Wednesday me tomou em seu colo, me acomodando em seu carro, e eu me deixei esquecer de tudo o que havia acontecido e o quanto eu deveria me manter longe dela. Porque, naquele momento, eu somente precisava da pessoa que eu amava e eu a tinha ao meu lado.

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