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Pov Wednesday

O raios fracos do fim do dia adentravam a minha sala, atraindo minha atenção e indicando o início de uma noite propensa a chuva.

Minha mente estava confusa, refletindo sobre incognitas e não encontrando soluções! E eu me sentia realmente impotente, quase sem utilidade.

Sendo assim, soltei um suspiro cansado, desistindo de examinar dados sobre concorrência, ou propostas, e me reclinando em minha poltrona.

Eu adorava o que eu fazia, de fato, mas como qualquer outro trabalho, era exaustivo em certos aspectos, principalmente por decorrência do meu cargo e as expectativas que decaiam sobre mim.

Escutei as primeiras gotas se chocarem contra o vidro e o fitei, notando o atrativo reflexo sobre o mesmo.

Girei em meu assento e depositei o meu foco por completo sobre o magnanime quadro a minha frente.

A pintura ocupava a parede quase que por inteira, possuindo 3 metros de altura por 2 de largura. Ottinger definia como exagero, no entanto, minha sala era alta o suficiente, então, eu apenas aproveitei o espaço.

Era uma obra exclusiva e absolutamente detalista que encomendei do italiano Roberto Bernardi, a qual, me custou uma fortuna, contudo, eu estava disposta a pagar qualquer preço para possuir a mesma.

O quadro era de Enid, a minha paz em meio ao caos, e ela sorria lindamente, quase como um riso doce, enquanto seus azuis brilhavam, roubando-me o fôlego.

Eu pagaria qualquer preço para poder contemplar o perfeito sorriso e os intensos azuis de Enid Addams Sinclair.

Inspirei fundo e arrumei meus fios escuros, dividindo o olhar entre a pilha de folhas e o quadro de minha esposa, sorrindo apaixonadamente.

Não existia qualquer impasse, entre a minha empresa e a minha mulher, eu sempre escolheria a minha mulher.

Sendo assim, apanhei meus pertences e abandonei minha sala, invadindo a de Eugene, o qual, se assustou, fechando imediatamente a caixa de veludo preto.

- Por Deus! Eu pensei ser Grace! -ele murmurou com a palma sobre o peito, se recompondo.

- Ela ama você, Ottinger! Basta pedir! -pontuei leve, me referindo ao pedido de casamento que o cacheado queria fazer- e eu estou indo para casa! -afirmei, recebendo uma expressão implicante.

- Saudades de Enid, eu sei! Você costumava sentir a falta dela as sextas-feiras! -provocou divertido e eu sorri com bom humor, acenando e sendo retribuída.

Rumei depressa ao estacionamento e sequer me importei em arrumar meus pertences, somente os lancei no banco do passageiro e dei partida, primeiro seguindo a uma floricultura e depois para a casa.

Meu coração acelerou como um adolescente apaixonado no segundo em que estacionei e eu apanhei as flores, abandonando o veículo.

- Nid? Amor? -chamei do hall e depositei minha bolsa sobre a mesa ali presente, antes de retirar e guardar o meu sobretudo.

Segui em direção a sala de estar e depois a cozinha, perdendo o fôlego ao adentrar o cômodo. Uma melodia romântica soava e a minha perfeita garota a cantarolava, roubando-me um sorriso apaixonado.

Faziam cinco anos desde o nosso casamento e eu sempre reagia do mesmo modo ao regressar e encontrar a minha esposa. Era magnífico demais fitar a aliança dourada em seu anelar esquerdo e lembrar que o meu nome estava escrito nela.

De todo modo, me aproximei furtivamente e me aproveitei de sua distração para agarrar sua cintura, lhe assustando.

- Amor, não teste o meu coração assim! -repreendeu se recompondo e rindo comigo, antes de me roubar um selinho longo e manhoso.

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