Pov Enid
- Tanaka? -a voz de Divina atraiu, não somente a atenção da dita cuja, como ainda a de todos.
- Sim, meu bem? -Yoko questionou galanteadora, com o sorriso mais apaixonado.
- Pode me dar licença? -questionou, indicando o braço repousado sobre seus ombros, roubando risos gostosos dos demais.
Eu sorri fraco e estendi minha mão ao recipiente com pipoca, sentindo um toque sobre a mesma.
Meu olhar se desviou instantaneamente, se encontrando com o de Wednesday, e ela recolheu sua mão de maneira veloz, voltando seu foco para a tela em nossa frente.
Bia havia sugerido uma noite de cinema em sua casa e todos apreciaram a ideia, de modo, que aquele era o terceiro filme que assistíamos.
Por ironia do destino, eu estava ao lado de Wednesday e aquilo era um tanto desconfortável, afinal, o clima entre a mais velha e eu estava tão pesado que todos notaram.
A Addams não conseguiu permanecer ali e se retirou, o que fez Grace abrir um sorriso ladino, disposta a segui-la.
- Eu vou conferir a Wed! -Eugene se prontificou, impedindo que a garota se levantasse, e saiu do cômodo.
Eu dei um sorriso satisfeito com a expressão irritada de Grace e tentei me concentrar no filme, contudo, a falta de Wednesday me deixava inquieta.
- Enid, estou com frio, pode ir comigo pegar um cobertor? -Yo questionou manhosa e eu lhe fitei entediada, mas concordei.
Seguimos lado a lado ao quarto de Bia e eu fui ao seu closet, para buscar por alguma manta inutilizada. Todavia, assim que o adentrei, escutei a porta se fechar, e imediatamente tentei a abrir, falhando de modo vergonhoso.
- Desiste Sinclair, isto é inútil! -o tom desanimado atraiu minha atenção e, então, eu notei a presença de Wednesday.
- O que isto significa? -questionei desconfiada e ela deu de ombros.
- Eu sou tão vítima, quanto você! -explicou simples e baixou o cenho, evidentemente evitando contato visual.
- Quem lhe prendeu aqui? -questionei curiosa, me aproximando de si.
- Eugene -respondeu breve, melhorando sua postura.
Wednesday estava sentada no chão, com suas costas encostadas em um armário de casacos, e eu me acomodei ao seu lado. Contudo, pela primeira vez em sua vida, a Addams se afastou de mim, optando por manter distância.
Eu senti como se uma lâmina estivesse atravessando meu coração, tamanha a dor que me atingiu com o gesto, entretanto, era justo. Eu havia sido uma estúpida com a maior, mesmo sem intenção.
- Enid? Wednesday? -a voz de Tanaka nos chamou de forma divertida, como se a mesma fosse uma criança travessa.
- Nos deixe sair Yoko! -ordenei, esperando que a mesma recuperasse alguma razão.
- Somente se vocês deixarem de agir deste modo imaturo! E lidarem com este amor reprimido que sentem uma pela outra! -Eugene quem se manifestou, em um tom se seriedade.
- Vocês estão sendo tão inconsequentes! -Wednesday resmungou amarga- eu vou lhe demitir Ottinger! -o ameaçou, mas não surtiu qualquer efeito.
- Aproveite o tempo com sua Addams, Enid! -Yo cantarolou provocativa e eu pude escutar ambos se retirando.
Um silêncio perturbador pairou sobre o lugar e eu senti uma suave falta de ar, pensando em como eu faria aquilo, como iria me redimir com Wednesday.
- Não precisamos fazer isto! Eles vão nos soltar, de qualquer forma -a mais velha afirmou vaga, seguindo ao assento de janela ali.
Eu, por outro lado, suspirei tristemente e examinei o perfil da Addams, gravando cada um de seus detalhes em minha mente.
- Eu quero fazer isto! -aleguei, me aproximando com receio, para sentar na extremidade vaga.
- Enid, você deixou claro que minha presença não lhe agrada! Não precisa se submeter a esta situação! Apenas aguarde! -retucou impaciente, quase rude- acaso eu sou tão incomoda, que você não consegue permanecer poucos minutos ao meu lado? -sua questão irônica me fez sorrir sem humor, negando com a cabeça.
- Você sequer me deixou falar! Você interpretou o que quis interpretar, definindo como verdade absoluta! -eu devolvi irritada, me inclinando em sua direção, inconsciente de meus atos.
- Era uma questão simples, Sinclair! Bastava afirmar ou negar! -murmurou insatisfeita, avançando minimamente em minha direção, como se estivesse me desafiando.
- Não Wednesday! Não era uma questão simples! E eu precisava de um tempo para formular uma resposta! Saber o que dizer! -me defendi frustrada, tentando conter aqueles sentimento intensos demais.
- Dizer o que, Enid? -repetiu, em um tom mais alto e sarcastico- eu tenho ciência, sobre o quão idiota eu sou por cogitar lhe ter de volta! -complementou de modo magoado, desviando seu olhar, como quem estava pronta para encerar aquele assunto.
Desisti do meu orgulho e abandonei minha defensiva, escolhendo, em definitivo, seguir meu coração. E ele ansiava por Wednesday.
Depositei minhas palmas em seu rosto e acariciei suas bochechas, cheias de sardas, lhe obrigando a me encarar.
- Não tem como você ter de volta algo que você nunca perdeu! Sua idiota! -admiti ranzinza, com meus azuis fixos em seus castanhos.
- Nunca perdeu? -repetiu confusa, enquanto eu descia meu toque para seus lábios, os contornando com meu indicador.
- Eu nunca deixei de ser sua, Wednesday! -admiti em um sussurro instável, estando com a minha boca perigosamente perto da sua- mas, por favor, não me machuca de novo! -pedi decidida, enfrentando meu medo.
- Eu nunca mais vou fazer o que fiz, Enid! Confie em mim! -prometeu com veemência, me transmitindo segurança em cada palavra.
Fechei os olhos e esperei pelo contato de sua boca, pelo beijo que eu sonhava desde adolescente. Todavia, antes que acontecesse, fomos interrompidas por Bia, a qual, nos fitou confusa, quando adentrou o ambiente.
A Barclay estudou nossa proximidade, posições, e faces, não conseguindo pronunciar coisa alguma por torturosos segundos.
- Eu não vou questionar nada! -concluiu, se retirando desconcertada.
Wednesday me fitou divertida e eu corei por completo, escondendo meu rosto em minhas mãos, extremamente envergonhada.
A maior, por sua vez, riu implicante, me acolhendo em seu abraço. E, mesmo que eu estivesse frustrada, a alegria de estar reconstruindo minha relação com a Addams, me predominava.
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Chocolate & Amargo
FanfictionQuão egoísta um coração conseguia ser? Afinal, para Esther Sinclair, uma mulher arrogante e movida pelo dinheiro, a real felicidade de sua filha pouco a importava. Sendo assim, o que poderia acontecer se, sua visão ignorante de classes sócias, conta...