Anos Depois (Parte Final)

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O tumulto no quarto fez Aysel acordar, a garotinha viu a mãe agitada falando com um homem que não sabia ao certo quem era, apesar de lembrar alguém que já vira antes. Sentiu a boca seca e a cabeça doía um pouco.

— To com sede — Falou baixinho, mas não foi ouvida. — To com sede — Tentou novamente sem sucesso.

Aysel viu uma garrafa de água na mesinha ao seu lado e esticou os dedos para pegar. Virou na cama e se apoiou em um cotovelo, enquanto que a outra mão tentava alcançar a garrafa. Uma fisgada em sua barriga a fez perder o equilíbrio e derrubar o objeto no chão, fazendo o barulho chamar a atenção dos adultos.

Ceylin se assustou e correu em direção à cama.

— Filha, tudo bem? — Passou a mão pela teste de Aysel, tirando os cabelos que cobriam seus olhos. - menina apontou pra água e ela lhe entregou a garrafinha. — Tudo bem?

Não teve resposta para a pergunta. Aysel terminou de beber o líquido, virou para o lado e se cobriu até a cabeça.

Ilgaz tentou se aproximar, mas Ceylin mostrou a palma da mão, fazendo com que ele parasse onde estava. Em seguida descobriu a cabeça de Aysel  e deu um beijo em sua testa, não tinha febre o que a tranquilizou.

— Ceylin... — Ilgaz sussurrou, mas foi ignorado. — Ceylin — fez mais uma tentativa e dessa vez ela se aproximou relutante.

— Eu já falei para você sumir — Declarou entre os dentes — Não tenho nada para falar com você e não quero que se aproxime da minha filha. — Caminhou em direção à janela, na tentativa de se recuperar com uma lufada de ar que passasse por ali.

— Se você me ouvir, saberá que fiz o melhor pela nossa família. — Parecia um tanto aflito, mas não estava conseguindo convencer a mulher — Eu não podia deixar vocês em perigo.

— E aí você, um ser altruísta, decidiu que a melhor forma de nos proteger era se passando por morto e nos observando de longe — Ceylin concluiu tomada por uma raiva crescente.

Ceylin colocou o rosto para fora da janela e sentiu um vento gélido bater em sua face, ao mesmo tempo que um toque quente foi sentido em seu ombro, era a mão de Ilgaz lhe acariciando.

— O seu pai sabe disso? — Abaixou a cabeça, fixando o olhar nas luzes da rua lá embaixo. — Seu avô? Seu irmão? — Ela seguia os questionamentos, mas Ilgaz ficou calado, sabia que isso a chatearia ainda mais. — Anda, Ilgaz! Vamos, quem mais foi seu cúmplice nisso tudo? Certamente Eren também sabe... — Concluiu pesarosa.

— Ceylin...

— A verdade é que todos sabiam, menos eu. — Ceylin se virou para ele e cruzou os braços — Por acaso você tem noção de todo meu sofrimentos nesses anos? — A raiva em sua foz foi dando lugar a decepção — Em algum momento você parou para pensar que essa sua atitude estava me matando em vida?

— Os únicos que sempre souberam de tudo foram Eren e Dede, meu pai e Çinar ficaram sabendo há pouco tempo...

Ceylin estava sentindo algo que não sabia explicar, talvez fosse fúria, mas existia decepção, um pouco de dor e até mesmo alívio por ele estar intacto em sua frente. Estava prestes a desabar, sua vontade era entrar em sua concha e talvez nunca mais sair dela. A pessoa que ela mais amou em toda sua vida, a única que ela confiava e a quem entregou seu coração sem qualquer reserva, tinha lhe traído da pior forma possível. Se sentia roubada, foram quase 8 anos que sua vida basicamente passou em branco, nesse tempo ela não se permitiu um único minuto de felicidade, achava que não era justo viver enquanto ele estava debaixo da terra. Mas o que mais doía era ter se ausentado da convivência com a filha.

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