|EPÍLOGO|

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Há muito tempo ela não fazia isso. Apertou o botão para descer a janela do carro e encostou a testa na porta, sentindo a brisa bagunçar os seus cabelos. De olhos fechados ela sorria, tocava Chico Buarque. Ao seu lado, sua esposa dirigia, com destino ao sítio que tinham em Formosa.

"Não se afobe, não...
Que nada é pra já,
O amor não tem pressa...
Ele pode esperar, em silêncio.
Num fundo de armário,
Na posta-restante,
Milênios, milênios...
No ar."

"Um milhão de reais por seus pensamentos." Simone ofereceu.

As pálpebras de Soraya ficaram mais apertadas, evidenciando todas as ruguinhas de expressão que tinha ao redor dos olhos ao sorrir ainda mais.

"Você já gasta demais comigo, Si." Sua voz doce era o reflexo da calmaria que sentia. "Eu só estou feliz de voltar para o sítio. Não é Mato Grosso do Sul, mas é nosso cantinho." Entregou os pontos ao dizer, virando o rosto na direção dela.

Faltavam poucos quilômetros. Tebet dirigia com prudência, descansando a mão por cima da coxa de sua esposa, aproveitando que o câmbio do carro era automático.

Quando pararam em frente à porteira, Otávio, o caseiro responsável pela propriedade galopava na direção delas, na intenção de fazer a gentileza de abrir para a patroa passar.

"Aô, Dona Simone, Dona Soraya!" Ele cumprimentou assim que puxou a corda atracada na porteira, ainda montado no cavalo. Simone passou devagarinho para falar com ele, com o vidro do Jeep baixo e o cotovelo pra fora com o braço apoiado na porta.

"Bom dia, Otávio!" Ela disse. Thronicke se inclinou por cima dela pra falar com o rapaz, um sorriso de orelha a orelha:

"Menino! Seu pai catou umas mangas pra mim?" Ela perguntou, recebendo uma gargalhada do jovem que era alguns anos mais velho que sua filha.

"Sim, senhora! Minha mãe separou as mais maduras pra fazer aquele doce que a senhora gosta." Era exatamente isso que queria ouvir.

As duas agradeceram e se despediram. A morena continuou dirigindo por quase um quilômetro até a entrada do casarão, onde estacionou de frente.

"Será que Milena vem mesmo?" A mais nova perguntou enquanto apertava o botão para soltar o cinto.

"Ela disse que vinha amanhã cedinho." Simone também se soltava depois de desligar o carro. "Ó, vamos deixar para pegar as malas depois..." Soraya estreitou os olhos quando a escutou, toda desconfiada daquele sorrisinho maroto no canto de seus lábios.

Abriu a porta do carro e por ser baixinha, se segurou nela para escorregar até o solado das botas baterem no chão. Caminhou lentamente até a escadaria, sendo seguida pela presidente que não deixou de reparar como ela subia cada degrau com aquelas botas de salto, segurando o vestido longo com uma das mãos para não tropeçar. Os quadris fartos sempre chamando a sua atenção.

Ao chegar no último degrau, Thronicke mexeu a cabeça para jogar os cabelos para trás e olhou para a esposa por sobre o ombro.

"Esse lugar... Nós vivemos tantas coisas boas aqui. Obrigada por me trazer de volta, amor." Quando agradeceu, a mais velha envolveu um braço em sua cintura e beijou a pontinha do ombro dela.

"Faço qualquer coisa por você." Quando disse, roçou o nariz na pele cheirosa dela. Ficaram em silêncio, olhando a fachada da casa. "Lembra daquela noite em que ficamos na rede da varanda do quarto até mais tarde?" Desejava que a mulher se lembrasse precisamente do que elas fizeram acordadas de madrugada.

"E você apoiou o pé na parede, balançando devagarzinho pra me fazer remexer nos seus dedos?" Soraya perguntou, fechando os olhos e mordendo o lábio inferior.

Labyrinth [Simone x Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora