NO ESPAÇO

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LÍGIA

Ainda estou em choque com tudo que aconteceu. Não consigo acreditar que o Miguel me enganou direitinho, aliás, nem sei se esse é seu nome verdadeiro. Porra! Ele é uma cobra! Uma maldita cobra! Nada contra os bichinhos, mas esse, em especial, é o que o mais me causa pânico. Meus nervos estão à flor da pele e para piorar a situação, esse alien para o qual vovó pediu ajuda é muito sem noção. A conversa entre nós vai de mal a pior, isso para não dizer constrangedora. É sério que ele não sabe o que é um "pau", um "pinto"?! Em que planeta esse cara vive?! E ainda me vem com essa de "semente"?! E a idiota aqui caiu como um patinho.

Inferno! Estou passando um mico atrás do outro. O problema é que quando estou nervosa costumo falar o que não deveria e é esse o caso. Como ele pode sugerir que bebi esperma?! Não é que eu não tivesse com vontade de pôr o Miguel na boca, isso antes de saber o que ele era, mas daí falar esse tipo de coisa em voz alta é outro patamar.
A questão é que ainda não estou a salvo e o esquentadinho parece estar sem um pingo de paciência para esperar eu me acalmar e lidar com meus traumas.
Vejo-o sair pela porta e minha avó vai atrás dele.

— Juju, ele é sua única chance! — Juan me fala, afirmando aquilo que no meu íntimo já reconheço — As nagas não constumam ser bons com suas fêmeas, há raras exceções e duvido que o rei seja uma delas. — ele me fala calmamente.

— Como sabe tanto sobre eles?! — não consigo evitar perguntar. Desde quando ele é expert em aliens?!

— Nem eu sou o que afirmo ser! — ele solta e meu coração acelera num ritmo desesperado. Que merda ainda vai aparecer na minha frente?!

Antes que eu possa indagá-lo sobre essa fala, minha avó chega apressada.

— Não quero ouvir mais um "ai" mocinha…arrume algo na sua mochila e vamos sair daqui enquanto ainda podemos…

— Mas vovó, nem o conhecemos…

— Escuta aqui, já perdi a Heloísa, não perderei você também! — essas palavras me deixaram mal. Minha avozinha tinha feito de tudo para me proteger e me senti ingrata nesse instante. — Aquele "desconhecido" é a sua melhor chance de não acabar num ninho de cobras, literalmente.

Agora sim, senti um arrepio só de imaginar algo do tipo.
Nisso, Juan apareceu com uma mochila nas costas. Quando ele saiu e voltou que não vi?!
Assenti a contra gosto e subi para o quarto. Não sabia bem o que levar, afinal não era como se eu fosse bem ali em outra cidade ou na casa de uma amiga para passar a noite. Acabo pegando duas mudas de roupas e peças íntimas e mais alguns itens de sobrevivência e enfiando na minha mochila de estimação, uma vermelha que vovó me deu no último aniversário.

Miguel bastardo! É tudo culpa sua!

Não acredito que estou me despedindo de tudo sem qualquer expectativa de quando retornar.
Desço rapidamente para a sala e já estão todos prontos.
Seguimos com vovó na direção do milharal. Segundo Juan, ele designou alguns ajudantes de confiança para cuidar da fazenda, enquanto estivermos fora. Deu a desculpa que íamos viajar, o que não deixa de ser verdade. Só não é a viagem dos meus sonhos. Antes até era, mas depois de tudo que está acontecendo, não mais.

Assim que chegamos no local, tomo um susto ao me deparar com a nave. O objeto não é como sempre imaginei, redondo e como dois pratos investidos, um sobre o outro, na cor prateado. O que tem aqui é triangular e com bordas achatadas, na cor preto fosco, onde não consigo distinguir uma janela sequer. Há uma rampa estendida.
Uma coisa me chama a atenção. Só eu pareço surpresa aqui?! Os dois estão olhando a coisa a nossa frente como se fosse algo do seu dia-a-dia.
De repente, quatro pontos luminosos surgem na linha do horizonte e ficam maiores, conforme se aproximam.

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