NEGÓCIOS DE FAMÍLIA

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Lígia

Eu agora estava num canto da minha cama, abraçada aos joelhos e com meu diário nas mãos. Já o havia aberto, tentando escrever alguma coisa, mas toda minha inspiração se esvaiu na frase "Negócios de família". Minha família era louca, simples assim. Depois de ouvir tudo que minha avó tinha para falar, foi a única conclusão que consegui chegar. Agora entendo os motivos de haver um pretendente por semana em minha porta.
Fui vendida para Ets salafrários quando ainda nem tinha nascido. Era a sina das mulheres da minha família. Então, nascer com uma pepeka entre as pernas nessa família, era o mesmo que assinar sua própria sentença, tudo graças ao meu "querido" bisavô; velho trapaceiro de uma figa!

O velho bastardo não satisfeito com a vida que tinha, viu uma oportunidade de ouro, quando numa noite escura, teve seu primeiro contato com outra civilização. Minha bisa não sabia os pormenores do combinado, mas foi só entregar uma de suas filhas solteiras e o velho ganancioso começou a prosperar e a fazenda que não passava de um casebre no meio de uma terra infrutífera, tornou-se o que é hoje e as terras começaram a dar frutos. Eu não sabia que valíamos tão pouco. Mas como combinado é combinado, uma "fêmea" por geração devia ser sacrificada. Minha tia Heloísa houvera sido a última e eu era a próxima, já que antes de mim, apenas homens nasceram na família.

Minha querida avozinha havia conseguido ajuda de Juan, anos atrás, para me manter segura, porque não foi por falta de tentativas que ainda não tinham conseguido me levar sabe-se Deus para onde. A noite de ontem foi uma delas e os sacanas alienígenas foram recebidos com chumbo grosso. A gosma que vi no milharal é o que deveria ser sangue dos bastardos. Que bom que eles sangram, porque se sangram, podem ser mortos. Nem posso acreditar que meu sonho de ser abduzida por um alien gostosão havia se tornado um pesadelo.

Trocando em miúdos, acho que minha avó se tornou uma caçadora estilo "Supernatural", só que invés de fantasmas e demônios, caçava alienígenas nanicos e de cabeça grande. Resumindo, demônios de outros planetas. Porque sim, ela me falou que já matou alguns deles no decorrer desses anos, inclusive, ontem mesmo. Não é atoa que a "véia" estava com sangue nos olhos.
E por qual razão não fui mandada para um iglu no polo sul?! Simples, eles tinham alguma forma de rastreamento e nem adiantava tentar escapar. Tentaram fazer isso com minha tia e a pobrezinha começou a ser perseguida até fora do país, por isso achavam mais seguro mantê-la por perto, o que foi ineficiente, também.

No entanto, Juan era o ponto solto nessa história toda. Vovó se fechou para o assunto em relação a ele e em como o bonitão veio parar aqui, no meio do nada. Levando em conta que eu já havia obtido mais informações do que conseguia processar, deixei isso de lado, por enquanto.
Agora tudo ficou mais claro em relação a outras coisas que sempre achei fora de contexto. Porque na minha cabeça, ou produzíamos milho ou carne, os dois não dá. O pequeno rebanho nada mais era do que uma forma de proteção. Sei que parece estranho, mas os animais em redor sempre foram os primeiros a identificar quando os malditos sequestradores estavam por perto.

Não por acaso, vaca mugia, cachorro latia, gato miava…"e a véia debaixo da cama"…não, pera…fiquei confusa aqui, mas deu pra entender, né?! Socorro! Já estou falando sozinha! Devo ter pirado. A pior parte é que estou ficando sem tempo, já que os filhos de chocadeira estão fechando o cerco e minha vontade é me enfiar debaixo da cama para me proteger, mesmo duvidando que desse certo; juro que cheguei a fazer uma ligeira incursão, só para me dar conta de que durmo numa box e não caibo ali.
Se eu der sorte, a ajuda que vovó me falou chegará a tempo de nos salvar, aliás salvar minha pele. Como ela conseguiu ajuda de uma galáxia distante?! Esse é outro mistério que não me foi revelado.

Se estou disposta a esperar se vou ter essa sorte do meu "salvador" aparecer?! Óbvio que não! Vou mexer meus pauzinhos por aqui mesmo. Pelo que entendi, mulheres abduzidas são leiloadas num leilão espacial para o alien fedorento que quiser pagar mais alto. Porém, o meu destino parece ser um pouco mais sombrio; eu já tinha destino certo: seria levada para um planeta, cujo soberano asqueroso queria mais uma fêmea para botar uma ninhada e quando digo botar, é botar mesmo…tipo ovos…só de pensar, sinto um arrepio na espinha.

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