ALIENS NÃO APARECEM DURANTE O DIA

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LÍGIA

Tive uma noite horrível depois daquele incidente com aqueles pestes, no milharal. Decidi que hoje iria pôr um fim nessa merda toda. Minha primeira parada na cidade, seria na casa do Marcondes, o dono do frigorífico. O guri dele é o que incentiva os outros a ir nos aporrinhar. Tomei um café rapidinho e parti logo cedo. Parei a caminhonete em frente ao local e desci.

— Bom dia! Seu Marcondes está?! — pergunto à balconista. — O endiabrado do filho dele voltou a nos perturbar ontem a noite! — falo sem muitos rodeios, sendo que Sara já conhece bem a minha queixa.

— Não era ele dessa vez! — ela fala convicta, o que me deixa surpresa — Felipe saiu para acampar há dois dias, com a família do Luís. — E mais essa agora?! — Não sei qual é a graça de brincar no milharal! — ela suspira.

Aqueles dois sempre andavam juntos. Se não foram eles, quem mais poderia ter estado na fazenda?! Os outros não eram corajosos o suficiente para irem lá sozinhos.

— Não tem graça mesmo…— concordo e saí dali frustrada.

Certo. Deve ter alguma explicação, porque é certeza que alguém esteve nos perturbando. Mas quem?! 

Comprei o que tinha que comprar e voltei antes que o sol estivesse alto. Obrigatoriamente, eu tinha que passar no meio do milharal e confesso que essa visão era magnífica. Tínhamos também, algum pasto para o gado, o que não era muito. A essa altura, Juan já tinha cuidado de tudo e eu não preciso me preocupar, por isso estou indo devagar e apreciando a paisagem. 
Em determinada parte, observei a plantação esmagada, como se algo pesado tivesse pousado sobre ela.

Que estranho! — parei a caminhonete ao lado da estrada e desci para verificar. Caminho me desviando da folhagem áspera, até chegar numa clareira. 

— Mas que merda é essa?! — questiono para mim mesma, indignada por ter pisado numa gosma cinzenta. — Eca! Meus sapatos novos… —Sinto vontade de chorar.

Tenho certeza que aqueles moleques não conseguiriam fazer essa curvatura nos caules, o que me deixa bem poucas opções. No que diabos vovó atirou ontem a noite?! Porque ela parecia bem satisfeita com sua obra. 
Ando um pouco mais, analisando o que tenho diante de mim. Eu sei que deveria estar assustada com as possibilidades, mas sei que aliens não aparecem durante o dia, ao menos estou contando que sejam "bons vampiros" e só perambulem à noite atrás de suas vítimas.

De repente, ouço barulho de galhos se quebrando e meu coração acelera de medo. Queria entender a razão disso, sendo que nunca fui muito medrosa, mas desde ontem que o menor estalo pela casa já me deixa em pânico. Acabei me distanciando muito da estrada e tenho que conter a vontade de retornar correndo para o carro. Sinto como se estivesse sendo observada e a sensação não é nada boa. Acelero o passo para sair dali o mais rápido possível e o medo crescente me faz desatar na carreira.

— AAAAARGH! — grito esbaforida quando esbarro em algo sólido e só não caio estatelada no chão porque sou segurada pela cintura.

— Juju…?! Que merda faz aqui sozinha?! — Juan me questiona com um tom de repreensão e seu sotaque característico.

— Ué…eu não sabia que estava proibida de andar por aqui! — digo dando dois passos para trás, procurando manter uma distância razoável. Ele é uma boa pessoa, sempre me tratou bem, mas o acho intimidante. O homem parece mais um tanque de guerra e apesar de aparentar ter meia idade, é forte pra caramba. Já o vi derrubar novilho brabo na força do braço. Seu jeitão calado só o faz mais misterioso.

— Vamos! Eu levo você pra casa! — fala e antes que eu ofereça qualquer tipo de protesto, entra no carro do lado do motorista e dá partida — Vai ficar aí parada?! — questiona me avaliando de cima a baixo.

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