Envolta em uma toalha de seda, Clara passava uma camisa social vermelha.— Aonde você pensa que vai? — Theo perguntou.
Suspirando, a mulher ignorou a pergunta de seu marido e resolveu terminar a sua tarefa. Porém, quando seus olhos vacilaram, observou que seu marido permanecia escorado no batente da porta com um semblante nem um pouco amigável.
— Estou indo a uma festa, Theo — respondeu, fingindo dar de ombros.
— Não, Clara. Você não vai, não.
A postura de Theo era irredutível, ele aparentava estar ainda mais zangado do que Clara presenciara anteriormente.
— Não apenas vou, como já estou indo — disse, vestindo a camisa — Com licença, Theo.
Mesmo com o pedido, Theo não movimentou sequer um músculo. Clara, então, resolveu tentar passar por baixo de seus braços.
— Clara, me escuta, eu estou dizendo que você não vai a lugar algum! — levantou a voz.
Clara estremeceu. Respirou fundo. Naquelas situações, era a primeira coisa que sempre fazia para não perder o controle. Mas, céus! Ela já estava tão cansada de viver na linha. Cansada demais de ser a bonequinha de Theo.
Basta!
— Theo, não há nada que você faça que vai me impedir de — Clara parou a frase ao sentir o arder do tapa desferido em seu rosto.
— Sua vagabunda! Nem pra ser a porra de uma dona de casa você presta. Você seria muito melhor se seguisse os meus conselhos, ao menos não estaria tão acabada assim, sua vadia — disse, agarrando o pescoço de Clara — Ou você pensa que eu não sei o que você vai fazer nessa festa? A única pessoa otária aqui é você!
— Para, Theo, você está me machucando! O nosso filho está aqui.
Pediu, sem conseguir respirar normalmente. E então, a primeira lágrima foi derramada. Clara não se sentia sufocada apenas fisicamente mas também mentalmente.
E, naquele momento, ela desejou estar morta.
— Isso daqui, Clara — apontou para a própria mão no pescoço da mulher — é o que você merece! Se há uma coisa que você deveria ser grata, é por me ter na sua porra de vidinha infeliz.
— The... Theo — a mulher tentava falar, seus olhos se fechando.
[...]
Rafa jogava distraidamente em seu console quando ouviu uma movimentação suspeita vindo do lado de fora do quarto.
Ao tirar seus fones de ouvido, escutou gritos desesperados vindo de sua mãe. Sem nem pensar duas vezes, buscou seu celular e ligou para a polícia. Sabia que não teria força o suficiente para enfrentar Theo, e que, se a polícia presenciasse a cena em flagrante, as chances de Theo ser preso eram maiores.
Permaneceu em seu quarto, nervoso, enquanto os gritos não paravam. Não demorou muito e nada além do silêncio pôde ser escutado.
A polícia chegou.
Rafa saiu do quarto, correndo. Quando chegou à sala, a cena foi chocante, ao mesmo tempo que aliviante.
Dois policiais apertavam as algemas em Theo enquanto ele tentava a todo custo provar sua inocência.
— Nós estávamos prestes a transar, essa é a nossa coisa — justificou.
— O senhor tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal — disse a policial, guiando-o até a porta.