eu sei que eu demorei, mas to de volta e pensando em escrever uma short fic de no máximo uns dez capítulos
_________________
O telefone de Helena soou estridente. Num salto, a mulher se levantou e o atendeu sem ao menos olhar quem ligava.
— Helena... — disse Clara, sua voz cortando — Eu consegui.
Helena levantou-se bruscamente, confusa, sem entender exatamente o que a mais velha queria dar a entender. Bocejando, levou a mão aos lábios avermelhados.
— Desculpa, Clara... Assim, eu acabei de acordar e seria interessante se você pudesse ser mais direta — sentou-se.
— Eu me divorciei.
Um silêncio se instalou. Helena não sabia ao certo se realmente tinha escutado aquilo saindo dos lábios de Clara, ainda mais por estar sonolenta.
— Helena? — chamou — Ainda está aí?
A personal tinha seus olhos marejados, em seguida, derramando-se em lágrimas de alívio e alegria. Absorver aquela informação estava sendo difícil, ainda mais que todo o sofrimento tinha cessado, sendo soprado para longe assim como pó.
— Eu... — com os lábios trêmulos, Helena tentava formular uma frase concreta — Sinceramente, Clara, eu nem sei o que te dizer.
— Diz que me aceita em teus braços de volta.
Helena era uma mulher de espírito livre e alma solta. A coragem de quem não temia o destino e nem a vida sendo carregados em seu olhar intenso. Porém, quando teu olhar intenso cruzou com o perdido de Clara, de uma coisa ela poderia ter certeza: que suas certezas estariam firmemente abaladas com sua chegada.
Clara era a agitação que a vida calma de Helena tanto precisava, sua pequena faísca de caos. E, apesar de Helena ser o tipo de pessoa que prefere chá a café, Clara tornou-se sua cafeína, o seu desejo inconsolável.
Porém, nem tudo era flores. Helena não estava disposta a ir contra seus princípios e tornar-se amante de Clara, pois acreditava ser digna de um amor correto no qual não seria deixada como segunda opção. Assim, pediu que se afastassem por tempo indeterminado até que Clara tomasse uma decisão a respeito. E, mesmo que o coração de Helena doesse, era o certo a se fazer. Ela sabia disso.
E, aparentemente, Clara tinha se decidido.
— Eu não sei se você está preparada, Clara. Eu não quero me magoar novamente. — disse, desenhando círculos com o polegar no lençol da cama — Como eu vou saber se você está disposta a se comprometer?
Um suspiro longo de Clara foi escutado pelo outro lado da linha.
— Eu provo com o amor que sinto por você, Helena — disse, fungando — Eu amo você. Se eu tive coragem de me divorciar, foi por sua causa. Isso porque, mesmo que eu tente, sequer posso parar de pensar no teu cheiro. Nós formamos uma conexão tão forte que, às vezes, as palavras se tornam desnecessárias e nos entendemos apenas pelo olhar. E eu sei que você também sente isso. Helena, a cada dia que passa eu me sinto mais apaixonada por um pedacinho seu. Desde o dia em que decidi ir naquela academia, você me mostrou o caminho do amor de verdade. Mas eu preciso de você para traçá-lo.
Helena não conseguia mais controlar as lágrimas que escorriam como cachoeira pelos seus olhos avermelhados.
— Clara... — a personal disse, embargada pelo choro.
Naquele momento, Helena tinha seu coração inundado de amor por Clara. Ela desejava ter Clara ao seu lado mais que tudo e a declaração serviu para consolidar ainda mais o seu desejo.
— Não fala nada, Helena... Só abre a sua porta.
Helena levantou a cabeça, confusa.
— Como assim? — disse, correndo para a porta de entrada.
— Abre para mim — repetiu.
Quando abriu a porta, Helena teve uma surpresa enorme ao se deparar com Clara trajando um vestido branco soltinho e seus cabelos soltos. Mas, ao descer o olhar, aí que teve a surpresa completa. Clara carregava um clássico buquê de rosas e uma garrafa de vinho tinto em suas mãos, além de um olhar singelo direcionado à mais nova.
— Me deixa entrar, Helena. — pediu, com os pertences começando a pesarem.
— Mas como você entrou? — perguntou, recebendo o olhar de Clara — Esquece, isso não importa agora.
Helena estava ruborizada perante a Clara, que colocava o vinho na mesinha da sala.
— Helena, eu amo você. Como jamais pensei em amar alguém um dia. Eu quero passar o resto da minha ao seu lado. Eu tô te amando pra valer e assumindo a responsabilidade que eu sei que é ter um relacionamento sério. É tudo o que eu mais quero. — disse, inclinando os pés nervosamente.
Helena a encarava ainda atônica.
— Me aceita? — estendeu o buquê de rosas para Helena.
A mais nova parou, pensando. No momento, aquilo era a realização de seu sonho. Um relacionamento com a mulher que lhe roubava sorrisos bobos com facilidade. A mulher que a fazia ruborizar apenas de chamar pelo seu nome. A mulher com quem queria dividir sua vida.
— Eu amo você, Clara. Tudo o que eu mais quero é ter você de volta na minha vida sem precisar te dividir com ninguém.
Clara soltou um gritinho de alegria, batendo palmas entusiasmada.
Puxou a mais nova para um beijo carregado de amor. As mãos de Clara acariciavam a cintura de Helena e as mãos da mais nova alisavam o seu rosto. As duas sorriam durante o beijo, deixando tudo ainda mais leve e carinhoso.
O beijo finalizou com selinhos e as testas encostadas.
— Obrigada por ter aparecido naquela academia. A minha vida nunca mais foi a mesma.