Sentindo-me mais estúpida a cada pincelada de maquiagem que aplicava, finalmente terminei o trabalho em meu rosto. Observei-me ao espelho, a imagem refletida era de uma bela mulher, mas uma bela mulher insegura. Com seus defeitos, sim, mas que nessa noite estava vestida para matar.
[...]
Levei à boca o meu terceiro copo de whisky. Eu definitivamente não era o tipo de pessoa que bebia muito, mas hoje era o dia em que eu buscava me redescobrir. Custe o que custar.
O ambiente era sofisticado apesar da música alta. Levando meu olhar ao lugar, pude perceber um amontoado de paredes vermelhas e janelas amplas por todo canto. Jovens compunham a maior parte das pessoas presentes em volta, o que de certa forma me fez sentir um pouco deslocada.
Bem, assim eu pensava... Até ela chegar.
— Se eu te pagar uma bebida, posso me sentar aqui e bater um papo?
Virei-me imediatamente ao ouvir uma voz meio rouca chamando-me a atenção. Quando notei a dona da voz, meu queixo caiu por alguns segundos.
Ela tinha os olhos castanhos sedutores, seu cabelo deixava uma mechinha fina caindo sobre seu belo rosto. E seu sorriso... seu sorriso foi capaz de me entregar a um sorriso sem motivo.
— Helena — disse estendendo a mão.
Fiquei olhando sua mão estendida tentando voltar a realidade de que aquela mulher talvez quisesse algo comigo.
— Oh, desculpe-me — pedi envergonhada — Clara, prazer.
Apertei sua mão, sentindo uma estranha corrente passar pelo meu corpo ao sentir o contato.
— E então? — perguntou. — Me permite?
Nem pensei direito. Óbvio que eu não recusaria uma proposta daquelas. Assenti, batendo no assento ao lado do meu para que ela se sentasse.
Estávamos numa mesa distante do centro do bar. Havia um pequeno sofá, onde eu estava sentada, e uma mesa ampla de madeira. Helena, então, sentou-se ao meu lado e chamou o bartender.
— Eu vou querer o melhor drink que vocês tiverem aqui, e para essa linda aqui também — referiu-se a mim, e eu corei.
— E então, Helena, o que te fez vir aqui? — fui direta.
Ela levou suas mãos ao meu cabelo, colocando-o para trás da orelha. Fiquei observando o caminho que suas mãos percorreram quando elas desceram para o meu rosto, meu autocontrole parecia ter ido ao inferno com as três doses de whisky.
O que ela faria?
— Na verdade, estava procurando por alguém especial — disse sorrindo.
— E achou? — perguntei.
Procurei por sua mão embaixo da mesa e agarrei-a, acariciei seu pulso com minha outra mão livre. Helena parecia reagir aos meus toques, já que seu olhar não permanecia por muito tempo em mim.
Sendo um pouco mais ousada, levei minha mão à sua perna direita e comecei a pressioná-la por debaixo da mesa. Helena se remexia com os toques.
— Eu tenho certeza que sim — arfou.
Helena aproximou-se e levou a mão ao meu pescoço, seus lábios roçando em meu rosto. Sentia seu cheiro agridoce invadir minhas narinas. Quando nossas bocas finalmente iriam se tocar, o bartender voltou com a bandeja e nossos drinks em mãos.
— Aqui, senhoras — falou, deixando-os em cima da mesa.
— Obrigada!
Nesse momento, fui educada mesmo que quisesse pragueja-lo por ter arruinado meu momento com a morena de sorriso contagiante em minha frente.
Droga!
Senti a mão de Helena me trazer para mais perto de seu corpo num gesto delicado, mas de qualquer forma firme. Ela olhava para os meus lábios sem desviar. Eu estava receosa.
— Já te disseram o quão linda você é? — perguntou Helena, desferindo beijos molhados em meu pescoço.
— Pouquíssimas vezes — respondi sinceramente.
Helena segurou em meu pescoço, e foi aí que fui aos céus. A boca dela me beijava com suavidade e seus lábios eram macios como algodão. Levei minha mão à sua cintura, trazendo-lhe ainda mais para perto de mim. Naquele momento, a distância era a nossa inimiga.
Me afastei primeiro do beijo. Demorei um pouco para abrir os olhos e quando o fiz, Helena me lançava um olhar brilhante. Eu me sentia incrível, como nunca houvera antes. Mas ainda tinha o sentimento de estranheza dentro de mim, como se não devesse ter feito isso.
— Me desculpa, Helena... Eu tenho que ir — disse apressada e deixei uma nota de cem reais em cima da mesa.
Quando estava prestes a levantar, sinto as mãos firmes segurarem meu braço. Me viro para lançá-la um olhar culpado, e ela permanecia com seu inseparável sorriso de canto.
— Clara — disse roucamente — Olha nos meus olhos e diz que não gostou do beijo que eu sumo.
Olhei-a. Seus olhos tão chamativos permaneciam encarando-me esperando por uma resposta. E eu simplesmente não consegui dar uma. Óbvio que eu tinha gostado do beijo, eu tinha o adorado. Mas minha mente insistia em me dizer que aquilo era errado.
Respirei fundo.
Aquela noite seria minha. Bufei, empurrando-a na parede mais próxima. Ninguém ousaria estragar minha noite, ela havia acabado de começar. Puxei-a novamente para um beijo, dessa vez mais rápido e menos sutil.
Pareciamos precisar daquele contato.
— Acho que encontrei mais do que buscava — Helena disse entre o beijo.
— Calada e me beija — ordenei.
E ela se calou. Helena me guiaria nessa noite de redescoberta e seria a peça-chave para isso.
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Clarena - One shots
Fiksi PenggemarColetânea de histórias independentes de Clarena.