Capítulo 8 - O poder da criação. (1/2)

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"Estou cansada, estou cansada
Cansada de me contorcer,
eu quebro e estalo
Isso não é divertido, não é divertido!
Entrei numa caixa enquanto você segurava uma arma

Estou cansada,

ah-ha-ha-ha-ha-ha".

The Contortionist, Melanie Martinez.

Caminho calmamente pelos corredores. E a tesoura pesa em minha mão. Algo viscoso percorre meus pulsos e escorregam pelos meus dedos finos, pingando no chão imundo. Mas eu não paro de andar. Ou flutuar. Por que, quando olho para baixo, os meus pés estão acima do piso, um pouco, o bastante. Eu estava andando, porém sem os meus pés.

Então percebi que estava sonhando. E não tinha o poder sob minhas ações.

Eu sei para onde estou indo, para a saída. Abri a mão e a tesoura cai no chão, fazendo um barulho agudo quando atinge o piso. Minhas pupilas dilataram e meu nariz abriu-se, buscando todo o ar fresco prometido. O ar da liberdade. Encarei a luz no fim do corredor e ignorei as lâmpadas piscando loucamente acima de minha cabeça.

Porque…

No fim…

Do corredor…

Tinha…

Uma luz branca me cegou quando abri os olhos. Senti uma dor aguda quando ela atingiu as órbitas, atravessando a retina. As pálpebras pesaram e a cabeça pendeu para frente. Tento mover minhas mãos, porém ouço um tilintar estranho. Pela imobilidade logo percebo que estou presa a uma cadeira, e julgando pelo tilintar… Estou presa a correntes. O peso que ela exerce enrolada ao meu pulso é quase insuportável. Na verdade, sinto meu corpo inteiro muito apertado.

"Merda."

Não tive coragem de abri-los de novo. E a luz incomoda, me fazendo enxergar vermelho. Apertei-os com força e gemi de dor. Por algum motivo, a lateral da minha cabeça lateja sem parar e agora que reparei a dor parece ter ficado intensa.

Movi o tornozelo, mas ele sequer se mexeu e a corrente barrou todo e qualquer movimento. Os dedos dos meus pés se mexeram, de forma lenta. Por que diabos estou descalça? Me apavorei quando reparo na roupa branca hospitalar, que possuía todas as cores menos o branco alvo. A minha roupa está extremamente suja como se eu tivesse caído na lama, meus olhos percorreram meus braços presos à cadeira e as correntes envolvendo os pulsos, que estavam num tom carmesim escuro, seco. Levantei um pouco os dedos e senti ânsia ao perceber que era sangue seco por dentro das unhas.

Suspirei fundo e ouvi um ruído, um som grave de algo se arrastando. Me permiti cerrar os olhos e encarar o chão de madeira. E não há algo na terra mais sujo que esse chão. Apesar da visão parcialmente borrada, fica claro a poeira e alguns objetos quebrados e inutilizáveis.

Torci o nariz. Não estou no hospital psiquiátrico.

Percebo sapatos sociais na cor preta caminhar até próximo a mim. Vi também parte de uma calça verde escuro num tecido aparentemente macio e bem passado. A estranheza da cena fez meu estômago embrulhar. Algo limpo caminhando entre a sujidade.

Meus lábios se abriram inconscientemente, e por um momento pensei no que deveria dizer. A minha mente está vazia e não consigo formar palavras, então desisti de as dizer e minha boca fechou-se.

Próximo o suficiente, tal coisa colocou a mão na minha cabeça, de forma paterna e alisou os fios do topo da minha cabeça.

– Pobre alma. Pennywise torturou-a tanto, que está destruída.

Pennywise, Meu Amigo Imaginário.Onde histórias criam vida. Descubra agora