Uma Manhosa Manhã.

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Capítulo 1. 

Helô acordou espreguiçando-se. Caçou Stenio pela cama, e não encontrá-lo foi uma surpresa ingrata: era sempre a primeira a despertar em dias de semana, já havia se acostumado com sua presença ali. Não vê-lo a fez recordar-se com tristeza de tempos solitários.

Mas ele não tardou a aparecer. Trazia consigo sorrisos, mimos e essencialmente: um farto café na cama para a Delegada. Não qualquer um, este o próprio havia preparado, reunindo as delícias que Helô mais gostava... As comestíveis.

— Bom dia, meu amor!

Cantarolava tomando o ambiente de seu ótimo humor. 

Abrindo as janelas, o sol forte a fez comprimir as pálpebras, ainda sonolenta. Imediatamente, coçou os olhos e puxou os lençóis, ajeitando-se. Em seguida, ele posicionou cuidadosamente a bandeja próximo a ela, estando livre para enfim enchê-la de beijinhos carinhosos. Importante mencionar que nenhum deles fora correspondido.

— Bom dia.

Esforçou-se para não demonstrar o quanto amava seus cuidados nas pequenas coisas, o que não mudava situação dele diante dela. 

O encarando, não estava nenhum pouco surpresa, nada aquém do esperado: um galanteador em apuros, encrencado, mais uma vez.  Se pensava que conseguiria driblá-la com um mero agradinho, ele estava enganado. O clima fechado não era para menos: Moretti responderia em liberdade,  e ali estava a cabeça por trás do feito.

Ele aconchegou-se ao seu lado e comeram juntos. A cada mordida e a cada gole, a tentação para elogiar os dotes culinários de Stenio aumentava: jogo baixo usar de seu solícito paladar matinal combinado com seu cappuccino expresso favorito, mas mantinha-se firme. O silêncio interminável só foi quebrado quando ele resolveu puxar conversa:

— Ah Helô, por que você ainda tá assim comigo?

O tom manhoso, embora fofo, a fez respirar fundo evitando estressar-se logo cedo. Diferente dele, a manhã não era seu período mais afável.

— Você me pergunta?

Esquivando-se do contato visual, olhava em direção a janela, continuando após mastigar:

— Eu não gosto que mintam pra mim, só isso.

— E quando eu menti para você amor?

Ela o confrontou, e desta vez com o olhar, fazendo-o mudar a sentença:

— ... Nos últimos tempos, e quando nos últimos tempos eu menti...

Tomou-a pela mão, mas ela desviou de seu toque.

— ... Eu não sabia, você sabe que eu não sabia: se eu soubesse eu não teria...

— Auto lá, auto lá, defensor dos indefensáveis!

O interrompeu perdendo a paciência. Quebra de confiança para Delegada era um quesito delicado, principalmente quando os gatilhos estavam por toda parte, inclusive com Stenio e suas carreiras antagônicas.

— Helô me escuta...

Ele ainda tentava, mesmo sabendo que nunca obteria sucesso numa discussão com ela.

— Você descobriu, manteve silêncio,

Virada para ele, enumerava seus vacilos um a um, tocando na ponta dos dedos do Advogado e crescendo a voz.

Perfectly ImperfectOnde histórias criam vida. Descubra agora