Capítulo 3.
Pela magnitude do ocorrido, não demoraram muito a deixar o Shopping, recebendo consecutivas felicitações de conhecidos ou não até o estacionamento. Logo na saída, notificaram-na que graças a operação bem sucedida estava liberada. Assim, seus planos para o restante da tarde incluiriam um descanso merecido e principalmente, aproveitar ao lado do Advogado.
Mas nem tudo parecia certo: a alegria contagiante dos noivos exauriu-se no momento que fecharam as portas do carro. Dos noivos não, do noivo: o contraste entre Helô e Stenio era visível e não poderia ser mais intrigante. E se ela não havia percebido nada de errado até então, tocou-se com o silêncio durante o percurso, ele sequer havia ligado o rádio, hábito que nunca o viu abandonar.
— Vamos para casa, ok amor?
Não tirava os olhos do volante. Referente as obras, ela preferiu não discutir, ele havia estado fora por um bom motivo.
— Finalmente pode dizer tua casa, tu venceu mermo!
Sorriu fraco, desfazendo a expressão em seguida. Mesmo quando parados nos semáforos, ele era incapaz de olhá-la nos olhos.
Helô não era nem um pouco boba, para nada, mas se pegava sendo ingênua em sentimentalidades muito específicas, como decodificar as atitudes de Stenio: era difícil compreender o por trás de seu estado abatido, ainda que soubesse dele como ninguém.
Concluiu serem os efeitos do pânico. Incriminou o dia atípico por raptar sua fala, em razão dele sempre dividir seus colapsos, diferente dela. O toque em seus ombros, Stenio correspondia inclinando a cabeça: modo aquietado de dizer estou aqui por você, sempre, respondendo ele, eu nunca vou deixar de estar para você, nunca. Dirigiu toda rota de mãos dadas com a noiva. Ainda firmes e carinhosas, eram as únicas a permanecerem inalteradas.
E chegando ao prédio, as especulações acerca do semblante de Stenio aumentavam, cada vez mais visíveis. Era intrigante terem subido mudos quando o esperado seria não pouparem as palavras, como costumeiro desde que moravam juntos. Só algo que houvesse mexido a fundo para deixá-lo como se apresentava.
E quando só restava o silêncio e o aperto das mãos, era preciso dar aval aos pensamentos, e as lembranças foram o escape. Tomaram conta de seu imaginário e também estavam tomando do dele.
Recordar a fase de testes foi divertido: inaugurada mais precisamente depois de algumas taças e da sede dos corpos, não haviam estabelecido nada formalmente, e àquelas alturas, nem achavam necessário. Quando Helô finalmente parou de expulsá-lo, o sinal foi recebido como milagre de São Benedito, segundo Creusa. Para Stenio, o mais importante era aproveitar ao máximo a graça concedida.
Suas malas vieram discretas a princípio: pouco a pouco, as trocas de roupa passaram a alguns pertences, e quando finalmente conquistou um espacinho em sua cama, tudo já estava encaminhado. Helô dizia aos quatro cantos não ser nada definitivo, mas nenhum dos dois acreditava muito nisso.
Embora o andar dos meses estivesse favorável, o incidente Moretti havia novamente estremecido o relacionamento, e por não se esquecer rapidamente, sem segredos que ela havia esfriado. Mas por pouco: ele sabia usar do banho maria para amolecer a Delegada, cujo coração ainda que contrariado, reconhecia suas virtudes.
Desde lá, andava na linha. Preferia o antigo cliente longe indeterminantemente: aquela amizade dessintonizada influenciava em sua relação com Helô não de hoje, as coisas só teriam a melhorar com o corte abrupto.
E melhoraram, já que Stenio via o momento como ideal para firmarem compromisso: meses haviam se passado e souberam enfrentar as adversidades juntos. Seria a hora perfeita de engatar o pedido, não estavam mais em época de esperar tanto.
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Perfectly Imperfect
FanfictionMuitas coisas podem acontecer a partir de um súbito "Casa Comigo", um "Eu Te Amo", por exemplo. Como seria o pedido primeiramente pensado por Stenio? E o que derivaria dele? Deixo aqui, com muito carinho, uma das tantas respostas possíveis.