Paradigmas e Concessões.

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Capítulo 5.

Era irônico, quase cruel como seu chão havia caído sem que houvesse nenhuma causa plausível. Não eram mais adolescentes, nem tão pouco desconhecidos, mas isso não tornava as coisas mais simples dentro dela, que corria até seu quarto com as pernas bambas, tomada de medo e constrangimento.

Stenio, de tão imerso na atmosfera ali constituída, demorou alguns centésimos para cair em si, mas quando o fez, foi veloz para alcançá-la antes que ela mais uma das tantas vezes, fechasse a porta em sua cara.

Segurando um de seus braços antes que puxasse a maçaneta, tomou sua cintura num movimento ágil. Precisava fazê-la perder os sentidos, só assim conseguiria que cessassem essa disputa exaustiva que só os fazia perder mais tempo. 

Quando a viu paralisada, soltou seu tronco para assegurar o toque em seus ombros. 

Caminhava suavemente com os dedos até as mãos macias de Helô, segurando-as com firmeza. Mais uma vez frente a frente, de pé e ainda mais próximos, não havia dito uma só palavra desde o contato impetuoso. Resolveu que aquela era a hora: 

— Não fuja mais de mim meu amor, não mais. Se abre comigo...

Se ela recuasse, ele não poderia impedi-la, mas não estavam dispostos a deixarem-se nem por mais um segundo, e ainda tinham aqueles olhos... Tudo naquele homem era um terreno perigoso de perdição, o único capacitado a quebrar todas as barreiras da Delegada.

Ela destencionou os ombros, amolecendo em seguida. Não queria defrontá-lo, mas tudo ali era mais forte, inclusive suas palavras, que finalmente a fizeram quebrar a quietude:

— Eu nunca foi boa com isso...

Antes muda, agora ditava rapidamente na tentativa de compensar a avalanche dentro dela. O tom de voz tênue a princípio, saltava progressivamente, dando vazão ao que sentia. Ligeira, abriu a porta puxando-o pela mão, cômodo adentro sem muitos modos, enquanto sua voz seguia soando:

— ... Você está se sentindo tão culpado né? Quem deveria estar envergonhada era eu Stenio! Olha pra isso!

Apontava por todo o quarto: a decoração estava minuciosamente espalhada, nenhum canto  parecia estar a salvo.

— ... Olha para tudo que você sempre fez, faz, e se supera...

O tom foi mudando de ressentida para decepcionada, o que não a impedia de seguir falando rapidamente e cada vez mais alto.

— ... Se dá conta que nós vamos casar, pela 3ª vez, e eu ainda não consigo te dizer o básico?! É a verdade, é o que eu sinto, MAS NÃO SAI! São 30 anos tentando e 30 anos falhando! É horrível...

Seguia apressadamente, sem emperrar ou respirar entre as expressões.

De certa forma, Stenio orgulhava-se por vê-la exteriorizando em vez de resguardar-se. 

Ela alternava entre os movimentos bruscos e os vislumbres à sua volta. Stenio foi prudente ao soltar seus pulsos pouco depois de já estarem no quarto, não queria que os desabafos expansivos rendessem hematomas discretos. Helô jamais o agrediria intencionalmente, mas era corriqueiro que acontecessem pequenos acidentes quando em seus momentos mais enérgicos, ele não respeitasse uma distância segura.

Adiante, dava-se conta que jamais o surpreenderia daquele modo, não importava o quanto o amasse, o quanto merecesse, estava além de suas capacidades. Tinha para si, que lá no fundo, parte de toda a grandiosidade de seus gestos encobriam a vontade de também recebê-los, e isso a machucava, queria que ao menos uma vez, pudesse ele sentir todas as sensações que proporcionava a ela, mas como? Era uma situação delicadamente injusta, e Heloísa odiava injustiças.

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