Confiantemente Aflita.

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Capítulo 4. 

Foi inundada pelo impacto das palavras. Ante mil sensações, era o que faltava para desabar entre sorrisos e lágrimas, indo sentar-se enquanto as gotas se fundiam entre os risos.

Recostou-se em seu cantinho proveitoso às pressas: ali, encontrava refúgio para seus desabafos silenciosos, quando não queria molhar seus lençóis e a suíte parecia longínqua o bastante

Mas as cerdas daquele tapete nunca haviam presenciado lágrimas de alegria, uma novidade também para ela permitir-se derramá-las. Enxugando seu rosto, observava abalada sua postura pelo espelho. Sua ineficiência em acalmar-se, somada à tontura, eram um afronte à Delegada: sentia-se completamente bêbada sem ter ingerido um só shot de álcool.

Seu coração pulsava agradecido. Em um mundo cada vez mais atribulado, viver já se mostra um desafio. Amar então, é um tiro no escuro. A reciprocidade exige confiar no perigo, e ser duradouro, impõe que a mais leve das penas ainda repousará ilesa, mesmo sob os ventos mais agitados.

Estágio a estágio, assim foi com eles até estarem a salvo. E independente das contravenções, o  final feliz estava em vista. Até cogitaria viver tudo de novo se assim precisasse.

Passaram-se bons minutos até que se estabelecesse. Quando refeita, foi ligeira até Stenio, ainda inalando perfume das rosas, que como ele, mantinham-se imóveis desde sua chegada. 

- Cê e a Creusa merecem um prêmio!

Verbalizou alto, ainda no quarto, recapitulando os últimos dias. Factualmente, haviam conseguido o mais impressionante dos feitos: passar imunes ao raio x de Heloísa Sampaio, a arqui-inimiga dos sobressaltos. Não se engabelava a Doutora Delegada todo dia, mas por sua vez, ela não poderia estar mais vibrante de não haver sequer desconfiado.

Obstinada a agradecê-lo sem nem saber como, estar pronta para cobri-lo de amor não a poupava de acometer-se. Sentimentalismos nunca foram seu forte, já Stenio, era o romantismo em sua forma mais pura.

Mas não hesitaria em abrir seu coração, determinada a não deixar escapar a oportunidade. A sinceridade era parte de sua natureza, não imaginava que seria tão difícil expressar-se.

- Ah Stenio...

O seu timbre, mesmo carregado da potencia habitual, desta vez soava mais afetuoso. Ao avistá-lo, ela parou colocando as mãos na cintura, sorrindo enquanto caminhava até ele.

O criminalista, antes apoiado sobre a mesa, levantou os olhos de imediato ao escutá-la chamar seu nome, até que os olhares se cruzassem. Comprimiu os lábios e arrumou a postura, enquanto a via aproximar-se como uma espécie de miragem.

Alcançando-lhe , debruçou-se nele sem aviso prévio. Envolveu os braços em seu pescoço, abraçando-o cheia de carinho. Repousou as mãos firmes nos ombros do noivo que ainda sentado, jogou a nuca para trás, aconchegando-se nela com desejo de aninhar-se até suas contendas cessarem. O delicado beijo que recebeu em suas bochechas o fez fechar os olhos num suspiro cansado. Ao realinhar a fronte, a única reação do Advogado foi pressionar forte os braços atléticos de Heloísa, a amava em demasia. Apesar disso, permanecia envergonhado.

- Não era pra ter sido assim Helô...

Referia-se triste ao acontecido. Suas mãos buscavam afago nas dela.

- Então é isso?..

Com a ponta dos dedos, ela o perturbava, balançando a cabeça levemente em sinal de negação.

- ... Tá brincando? Só faltou a farda, mas minha baby fez a vez.

Queria descontraí-lo na melhor das intenções, embora intitular sua arma em tal contexto soasse um tanto inapropriado. Seja como for, medir as palavras estava para além de seus objetivos.

Perfectly ImperfectOnde histórias criam vida. Descubra agora