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— Aliás, eu já ia me esquecendo de falar — minha mãe disse antes de eu desligar a chamada.

— Pode falar...

— A discoteca no sábado que voc-

— Mãe essa foi a última vez — a interrompi tentando me justificar.

— O que foi a última vez? — perguntou.

— An... Nada... Pode falar o que você iria falar.

— Eu só ia dizer que deveria tê-la deixado ir.

— Sem problemas... Nem tava muito afim de ir.

— Aham. Então tá bom Arianna, preciso desligar.

— Tá bom. Tchau — falei e desliguei a chamada.

Algo de errado não está certo.

Levantei do sofá e corri para o quarto abrindo a porta rapidamente e vendo Emily deitada no chão olhando para o teto.

— Emily! — exclamei — Oxe o que tu tá fazendo aí no chão?

— Estou descansando, arrumar guarda-roupa não é fácil — disse se sentando.

— Sabia que a cama é feita para nós não deitarmos no chão? — debochei.

— Mas eu tô suja querida, não vou sujar minha cama.

— Como coisa que você toma banho todo dia.

— Ei! Eu banho sim.

— Tá, tá. Mas enfim... Eu ia te falar alguma coisa que não me lembro mais — falei sentando em minha cama.

— É sobre o Tom? Você saiu daqui para falar com ele.

— Lembrei. Não tem nada haver com ele, é sobre minha mãe.

— FALA MAIS — exclamou ela se aproximando.

— Senta aqui — dei leves batidinhas na minha cama dizendo para ela sentar — NÃO ESPERA!

— O que é maluca?

— Senta no chão, você está suja.

— Credo — murmurou — Fala logo vai.

— Então, depois que eu conversei com Tom minha mãe me ligou, nessa hora hora eu congelei. Ela conversou comigo normal, a ligação só estava meio ruim porque ela disse que estava em um avião indo pra um lugar a negócios que ela não me disse onde.

— Viajando a negócios, ui que chique.

— Apesar dela trabalhar de casa né, mas enfim, quando já estávamos quase encerrando a ligação ela disse que queria falar sobre a discoteca.

— O que? Ela descobriu?

— Calma mulher deixa eu terminar de falar.

— Ok, continua.

— Ela só queria dizer que deveria ter deixado eu ir para a discoteca, só isso.

— Sério isso? — perguntou Emi confusa.

— Sim. Foi bem estranho, mas o importante é que ela não descobriu nada.

— Acho que ainda não saiu nas revistas — Emi falou se levantando do chão.

— Espero que nem saia — falei — Mas agora vai banhar que cê tá fedendo vai.

— Valha mulher já tô indo — disse me fazendo sorrir — De quem é essa camisa que você tá vestida?

— Sei lá, achei que era sua.

— Claro que não é minha, eu não me visto igual mendiga.

— Mas se veste igual uma prostituta.

— Você nem tem moral pra falar isso porque vive usando mini saia.

— Aí cala boca e vai banhar vai — falei e a garota mostrou o dedo do meio.

A tarde foi bem chata, não fizemos nada além de assistir filmes e se encher de doce, mas quando a noite chegou tive uma surpresa não tão boa.

— Ué, quem está lá embaixo? — perguntei a Emily após escutar meus tios conversando com outra pessoa.

— Não faço a menor ideia, vamos lá ver? — perguntou ela e eu assinto.

Descemos as escadas e fomos até a cozinha onde eles estavam. Eu estava ouvindo uma voz familiar o que me fez ficar com o coração na mão.

— Mãe? — perguntei ao vê-la — O que você está fazendo aqui?

Ela apenas me encarou colocando seu celular na minha frente com uma foto minha e do Tom saindo da discoteca.

— Vim te buscar. Ou você achava que ia para a discoteca escondida e não ia ter punição? Eu até te dei uma chance de falar a verdade, mas mentiu, de novo.

— Quem te mandou isso?

— Maya, ela estava lá e ainda disse que esse garoto bateu em outro garoto que estava com você.

Essa vagabunda mal amada.

— Mãe eu te imploro, por favor não me leva para o Brasil, por favor — supliquei.

— Não Arianna. Sobe pro quarto e arruma suas coisas.

— É sempre assim né mãe, sempre que minha vida está indo bem você aparece pra acabar com ela. Você sabe porquê eu vivia indo para discotecas no Brasil? Porque eu eu odiava ficar naquela casa escutando você e o papai brigarem, tudo era culpa minha, sempre que vocês brigavam você ia descontar a porra da sua raiva em mim, me xingando dizendo que eu não sirvo para nada que só sirvo para dar desgosto a vocês, como se eu tivesse pedido para nascer, eu sou um erro, eu só estou nesse mundo porque vocês não se preservaram e agora eu que tenho ouvir seus sermões idiotas de que eu sou uma inútil e não tenho educação sendo que a porra da minha educação foi você quem deu.

— Arianna, VAI PRA MERDA DO QUARTO ARRUMAR SUAS COISAS — gritou ela com o rosto perto do meu olhando no fundo dos meus olhos.

— Eu queria poder escolher não ter nascido, porque seria bem melhor do que ter pais como vocês, aliás, onde estar o meu genitor? Não veio né? Até porquê ele nem quer que eu volte, vocês só estão preocupados em deixar minha vida cada vez pior — revelei saindo do local em meio a lágrimas.

Eu nunca tinha falado a alguém como eu detestava os meus pais. Eles brigavam todos os dias e sempre por motivos bestas, todas as noites eu ia dormir chorando. Em todos os lugares eu sentia paz, menos, na minha própria casa.

Na visão dos outros eu tinha uma vida feliz pois meus pais pareciam ser os melhores pais do mundo, todos acham que somos uma família perfeita, mas por favor não olhem atrás das cortinas.

Nunca entendi do porquê minha mãe ainda estava com meu pai, ambos tinham cicatrizes escondidas em seus corpos por causa de brigas, inclusive eu. Na minha coxa tinha uma cicatriz horizontal enorme de quando eles tiveram um briga e eu tentei separar, sempre tive vergonha de usar biquíni por causa dela, os únicos que sabia dessa cicatriz era meus pais e Emily mas ela não sabia como eu a tinha conseguida.

Por mais que eu não quisesse, fui para o quarto arrumar minhas coisas sem nem saber quando eu iria embora.

Cada vez que eu penso que as coisas vão melhorar, elas só pioram.

Opostos No Amor  |  Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora