▻three; panic room

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A luz do sol penetrava os vitrais coloridos com um brilho matinal gélido, atingindo meus olhos com uma intensidade quase cruel

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A luz do sol penetrava os vitrais coloridos com um brilho matinal gélido, atingindo meus olhos com uma intensidade quase cruel.

Eu sustentava meu peso sobre um dos joelhos e erguia o outro, buscando desesperadamente uma posição confortável. No entanto, a tarefa se mostrava impossível. Minha cabeça latejava como se um martelo implacável a golpeasse repetidamente, e meu corpo parecia pesar o dobro do habitual. Era uma ressaca daquelas, daquelas que nos fazem questionar todas as escolhas feitas na noite anterior.

Eu encostei a testa entre as palmas das mãos, buscando alívio da dor. Fechei os olhos enquanto ouvia a oração resmungada de uma senhora ao meu lado.

O frio tornava tudo ainda mais desagradável; não conseguia rezar com os sussurros dos outros ecoando em meus ouvidos. Era sempre tão difícil.

Nunca fui religiosa. Minha mãe costumava rezar toda vez que a morfina era injetada em seu corpo. Por um tempo, acreditei que aquelas palavras tivessem algum poder, mas então ela morreu. Agora, eu estava aqui, fazendo um favor ao meu pai. Ou melhor, mais uma obrigação.

Me sentei de volta ao banco, desviando o olhar para o fundo da igreja. Lá, encontrei Lolla, com a cabeça apoiada na parede de pedras e os braços cruzados no moletom da escola, cochilando no banco dos fundos. Ela não frequentava esse lugar, a menos que não tivesse outros lugares para ir– lugares mais divertidos e barulhentos. No entanto, hoje, mesmo com a ressaca pesando sobre ela, Lolla estava ali, sempre atrás de mim, como uma sombra. Eu suspeitava que, às vezes meu pai pagava para ela me perseguir, mas Lolla não era do tipo fácil e nem do tipo que meu pai costuma conseguir controlar.

Às vezes, seu jeito me lembrava Trevor, meu tio. E, ao pensar nele, recordava também de como meu pai me forçou a entrar nesse santuário. Ele descobriu que eu estava envolvida na última caça às bruxas com um grupo de delinquentes. Mesmo sem qualquer obrigação para com a igreja local, meu pai me impôs a frequência –pelo menos uma vez a cada quinzena. O fato de o padre ter sido um dos amigos de meu pai na época do colégio favoreceu a escolha da igreja.

Céus!

Inclinei a cabeça para trás, buscando algum conforto no banco de madeira. Só mais alguns minutos e eu poderia sair dali. O crucifixo no bolso da minha jaqueta parecia pesar tanto quanto minha própria alma. O coral das duas idosas ecoou pelo ambiente, e um arrepio percorreu meu corpo.

Um toque suave em meu ombro me fez virar. O padre estava no corredor ao meu lado, com um sorriso discreto. Ele se escondeu na sala de confissões, mas eu sabia que ele estava ali, observando.

Os roncos baixos de Lolla eram quase musicais. Ela dormia profundamente, e eu sorri ao perceber seu sono pesado. Suspirei e segui os passos do padre.

Caminhei até o altar e dobrei à esquerda, entrando num corredor mais estreito. No final desse corredor, uma sala ampla e pouco iluminada pelo sol se revelou. Os vitrais aqui eram mais escuros, os vidros mais grossos. O cheiro de incenso queimando embargou minha mente, e hesitei por um momento.

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