▻eight, run

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O gloss deslizava sobre meus lábios enquanto meu reflexo no espelho revelava uma aparência superficial na qual investi minutos

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O gloss deslizava sobre meus lábios enquanto meu reflexo no espelho revelava uma aparência superficial na qual investi minutos. O brilho dourado e a linha fina do delineado destacavam-se sobre as pálpebras marcadas pelas olheiras da insônia. O pó rosado nas bochechas tentava encobrir a palidez. Era mais uma ressaca para a conta.

A torneira mal-fechada pingava, e alguns produtos de maquiagem estavam espalhados pela bancada de pedra. A luz do banheiro realçava as imperfeições, como se cada sombra e cada mancha fossem ampliadas.

— Não se atrase!— Lolla beijou minha testa e puxou a alça de sua bolsa antes de sair pelos corredores.

Era a última aula, e eu havia passado o dia evitando o sol, as pessoas e as conversas. Minha cabeça parecia ecoar uma batida aguda e dolorida. Meu corpo exibia arranhões superficiais que eu fiz questão de esconder com o casaco da escola.

Um suspiro cansado escapou do alcance dos meus lábios. Caminhei até uma das paredes do banheiro, batendo o salto agulha da bota, e deslizei as costas até encontrar o chão para sentar. Observei as unhas que precisavam ser retocadas com o tom de marsala; a maquiagem que fui obrigada a usar como se precisasse de tanto produto; meu cabelo armado e bagunçado.

O sinal tocou, e meu celular vibrava loucamente sobre a bancada. Lolla ou meu pai, tanto faz. Descansei a cabeça sobre os ladrilhos gélidos, observando o teto.

Então seria isso!

Iria perder a última aula, o trabalho e a presença. Eles traziam o pior de mim, me despertavam. Aos poucos, eu seria a moleca deles novamente.

Apoiei a testa sobre a palma das mãos, esperando a dor passar. O gosto de cereja invadiu minha boca enquanto mordia os lábios carregados de gloss. Cocei os olhos, tentando relaxar, e vi a maquiagem sair toda sobre a ponta dos meus dedos.

— Inferno!— praguejei, sorrindo.

O que diria meu pai se me visse assim? Por sorte, ele saiu uma hora mais cedo do que o habitual. Foi poupado de ver a filha depravada.

Eu precisava de um energético ou algumas pílulas como as que Trevor costumava usar em épocas de jogo. Aquelas que o ajudavam a driblar a ressaca da noite anterior, quando bebia tanto que erraria o cesto no dia seguinte facilmente.

Desânimo, exaustão, uma ressaca física e emocional. Eu não estava preparada para o que a volta deles trariam para a minha vida. Queria tê-los de volta, desejava que ele me visse como alguém à sua altura. Agora, minha sanidade e a aparência pela qual lutei durante esses quatro anos escorriam entre meus dedos.

Encarei os ponteiros do relógio em meu pulso. Vinte minutos. Vinte minutos esperando aquela maldita sirene. Vinte minutos até que tudo acabasse, e então nos deixariam sem nada?

Quatro anos atrás, o trote já teria acontecido antes desse horário. A sirene tocaria, e Trevor levaria os alunos ao desespero com seu discurso no microfone. No entanto, algo me incomodava: a ausência da bagunça, o silêncio que pairava sobre o colégio. Os alunos estavam receosos sobre o que aconteceria.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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