Aflição da vida

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13:47h

O telefone toca naquele mesmo dia, um toque estridente que reverbera pelas paredes da casa, que agora parecem ecoar com o som agudo. Vanessa, entediada e desanimada, suspira profundamente enquanto atende a ligação, seus olhos se desviando para as cortinas que ondulam suavemente com a brisa.

-Alô?-murmura ela, sua voz revelando sua falta de entusiasmo.

Do outro lado da linha, a voz calorosa de sua amiga Penélope ressoa. -Oi, Penélope, que foi?- diz Vanessa, suas palavras carregadas de uma melancolia que parece ter se infiltrado em sua voz.

Penélope percebe a tristeza na voz de Vanessa e decide sondar com delicadeza. -Só liguei para saber se você está bem - diz ela, sua voz carinhosa transmitindo um senso de preocupação genuína.

Vanessa morde o lábio inferior, lutando contra a vontade de desabar em lágrimas. -Ah, não, não estou me sentindo muito bem-confessa com um suspiro resignado, -mas um dia vou ficar.

Há uma breve pausa antes de Penélope perguntar suavemente: -Tem a ver com os problemas em casa?

A mente de Vanessa se volta para as tensões e discussões que pairam sobre sua casa como nuvens escuras. -Meus pais querem que eu comece a trabalhar -ela admite, seus ombros se curvando sob o peso das expectativas.

A voz de Penélope soa compreensiva. -E tem outra coisa...- Vanessa começa, hesitante, -é o Felipe.

As palavras de Vanessa ressoam como uma melodia triste no ouvido de Penélope. -Ah, sei, aquele seboso- responde Penélope, um misto de desgosto e indignação colorindo suas palavras.

Vanessa não consegue evitar um pequeno sorriso triste. -Você estava certa quando falou sobre ele- admite, sua voz carregada de tristeza e aceitação.

Enquanto Vanessa desabafa sobre suas preocupações, Penélope ouve atentamente, oferecendo palavras de apoio e conforto. O som das vozes das amigas se entrelaça em um diálogo íntimo, como um abraço emocional que atravessa as linhas telefônicas.

Finalmente, Vanessa respira fundo, sentindo um peso sendo levantado de seus ombros. -Eu sei, você está certa, Penélope- diz ela com gratidão, -mas agora vou tomar banho para relaxar.

-Claro, vai lá e cuide de você- responde Penélope com um tom encorajador.

Vanessa desliga o telefone, mas a conversa parece ecoar em sua mente enquanto ela caminha pelo corredor em direção ao banheiro. O som da água corrente a saúda quando ela liga o chuveiro, criando um ambiente reconfortante.

O chuveiro jorra água quente, envolvendo Vanessa em um abraço acolhedor. As gotas d'água caem sobre seu corpo, como se estivessem lavando sua tristeza e frustração. Ela fecha os olhos, deixando-se perder nas sensações e pensamentos que fluem como a água.

Enquanto a água escorre pelo corpo de Vanessa, ela direciona seu olhar para seus pés, que estão enraizados no chão do chuveiro. Ela observa as gotas se acumulando em seus dedos dos pés, antes de escorrerem pelo ralo, levando consigo um pedaço de seu desânimo.

Seus pensamentos se desviam para Felipe, e uma onda de emoções a envolve. Sua raiva e tristeza se misturam, criando um turbilhão de sentimentos que ameaça afogá-la. Com um suspiro pesado, ela se deixa cair no chão do chuveiro, a água caindo sobre ela como uma cascata de lágrimas.

No entanto, mesmo na escuridão de sua tristeza, um sentimento de determinação começa a surgir. Vanessa se levanta, seus olhos determinados, e desliga o chuveiro. A névoa paira no ar, como um véu de renovação que envolve o banheiro.

Vanessa se enrola em uma toalha  e, com os cabelos gotejando, ela sai do banheiro. O espelho embaçado reflete sua imagem. Ela observa a si mesma por um momento, como se estivesse se vendo com clareza pela primeira vez.

Ao se secar e trocar de roupa, Vanessa sente um nó de coragem se formando em seu peito. Ela sabe que há desafios à sua frente, mas está pronta para enfrentá-los, armada com a força que encontrou na amizade e no autoconhecimento.

O restante da noite passa em um borrão, seus pais retornando do trabalho, as conversas familiares e o movimento da vida doméstica. No entanto, uma sensação de propósito começa a florescer dentro de Vanessa, alimentada pelas palavras reconfortantes de Penélope e pela determinação que ela encontrou dentro de si mesma.

Mais tarde, na escuridão de seu quarto, Vanessa se depara com seus próprios pensamentos. Ela os  chama de  (ghost of thought) que significa  "Fantasmas dos pensamentos", como sombras dançantes que evocam suas preocupações e medos. Ela fecha os olhos e se permite sentir cada emoção, reconhecendo que é normal ter altos e baixos.

Enquanto a noite avança, Vanessa encontra uma sensação de serenidade. Ela se deita na cama, observando as estrelas que brilham no céu noturno através da janela. Ela se sente conectada com o mundo ao seu redor e com sua própria jornada interior.

Finalmente, à medida que o cansaço a envolve, Vanessa fecha os olhos e deixa-se levar pelo  sono. Enquanto ela mergulha na escuridão reconfortante, uma faísca de esperança brilha dentro dela, lembrando-a de que cada dia traz a oportunidade de crescer, aprender e se curar.


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