Miguel Cazares Mora
Assim que o árbitro apitou encerrando o jogo de queimada, nosso time comemorou pois nós tínhamos queimado todo mundo do colégio rival e no outro teria a final contra os "Royal College" um bando de mesquinhos que se acham melhores que os outros. Eu fiz um hi five com André e Tristan e abracei Alícia que pela primeira vez pareceu retribuir de forma genuína e não só atuação.
— Até que você foi bem. - Alícia disse com seu jeito competitivo.
— Nada mal brasileira, mas de mim você não ganha. - eu disse fazendo ela rir.
— Boa piada Cazares, boa piada. - ela disse me encarando confiante. - Que tal um jogo amistoso?
— Não é uma má ideia...- falei pensativo. - Onde e quando?
— Na área do lago, amanhã, depois dos jogos. - ela disse e demos um aperto de mão.
— Fechado. - falei e me aproximei mais sem soltar sua mão. - Me encontra no lago hoje às oito e meia.
— Pra que? - perguntou desconfiada.
— Sempre desconfiada não é? - falei próximo ao ouvido da garota. - É surpresa, apenas me encontre lá às oito.
— Está bem...- ela disse se afastando meio envergonhada? - E-eu tenho que ir.
Ela se afastou e eu sorri bobo. Sei que a chance é quase nula dela corresponder aos meus sentimentos, mas como a Maddie diz "às vezes só precisamos de um pouco de fé para que as coisas aconteçam". Hoje ela ficou de me ajudar com o que eu iria fazer mais tarde e estou rezando pra dar certo.
Sai em direção ao ginásio onde iriam acontecer os jogos de xadrez. Queria ver o Mason e o Tristan ganhando dos caras da Hagerty High School. Eles são até legais, mas meu espírito de competição gritava pra ver os meus amigos ganhando deles.
Fui em direção ao ginásio e estava um tremendo silêncio. Ele estava dividido em duas arquibancadas, uma em cada canto, para as escolas se sentarem. No centro, estavam as várias mesas com peças de xadrez distribuídas. Me sentei perto de André que estava na primeira fileira, mas não conseguia deixar de olhar Alícia, agora com seus cabelos um coque, que estava sentada mais atrás junto de Becca e Maddie.
Alícia Costa
As partidas de xadrez se iniciaram de modo simultâneo. O silêncio era mortal, nem meias palavras. Ouvia-se o barulho das peças no tabuleiro e o "click" dos relógios. Mason havia derrubado um cavalo de seu adversário que só conseguiu arrancar dois peões do garoto. Já Tristan não havia perdido nenhuma peça e, por descuido de sua adversária, ele conseguiu capturar a rainha e, pelo pouco que entendo de xadrez, acho que ele vai vencer essa rapidamente.
Olhei para os lados vendo se tinha mais algo para ver. Não sou a maior fã de assistir partidas de xadrez já que não tem gritos da torcida. É apenas um silêncio eterno e desconfortável. Então, olhei para Becca e Maddie e, vendo que as duas estavam concentradas em assistir o jogo, decidi voltar para a cabana.
Sai do ginásio reparando melhor no acampamento. O som dos pássaros, da natureza, o som da brisa suave do vento...me faziam lembrar do meu caboclo. O sr Pena Vermelha é um caboclo flecheiro enquanto o do meu irmão parece ser mais velho, como se fosse um pajé.
Sentindo a brisa em meu rosto, eu me lembrava cada vez mais da primeira vez que sonhei com ele. Eu andava por um bambuzal e ouvia o som de um chocalho em um ritmo compassado. Conforme eu andava, comecei a ver um rastro de penas vermelhas e eu as segui.
Lá estava ele. Um homem forte, de bom físico, penacho vermelho e dentes cravados na pele. Eu não me assustei quando ele bradou. Me sentia protegida. Eu acordei naquele dia com cheiro de alfazema em meu quarto e, toda vez que sinto esse aroma, me sinto mais próxima dele.
— Ei, tá fazendo o que parada aí no meio do nada esquisitona? - a voz de Troy me fez voltar a realidade já de maneira mais tensa. - Tá se reconectando com as suas raízes florestais macaquinha?
— Você me chamou de que? - falei tentando controlar o ódio que despertava em mim.
— Macaquinha, e aí? Vai fazer o que? - ele debochou.
— Eu vou te fazer engolir cada uma dessas palavras imundas seu racista de merda. - falei indo em sua direção até que dois garotos, também com a camisa do time de futebol americano da escola me seguraram. - Me soltem agora seus idiotas!
— Sabe, nós não esquecemos daquele dia no beco. - Troy disse se aproximando enquanto eu ainda me debatia. - Você debochou da gente e depois começou a andar só com aquele famosinho. Foi bom ter te achado aqui sozinha.
— Vocês são um bando de babacas. - falei e os amigos de Troy riram. - São covardes. Gente como vocês me dá nojo.
— Olha, ela é do tipo bravinha...- um dos amigos de Troy disse. - Bem que dizem que as brasileiras são bem selvagens.
— A sorte dela é que eu gosto das bravinhas. - o outro brutamontes disse. - Você bem que podia deixar eu ficar com ela não é Troy? Deixa ela pra mim.
— Eu não sou um objeto pra ser de alguém. - falei ainda tentando me soltar. - Eu vou contar para a diretora.
—- E em quem você acha que ela vai acreditar? - Troy disse com sarcasmo. - Na novata imigrante do país de terceiro mundo ou no capitão do time de futebol?
— Vai se fuder seu babaca. - sibilei. - Sabe, você deve ser bem inseguro com sua personalidade, não é?
—- Inseguro? - ele riu. - Vocês latinos são realmente mais burros do que eu imaginava.
— É, Troy. - falei confiante. - Você tem que ser uma pessoa muito insegura para tentar diminuir os outros por alguma característica física, social, racial ou por causa do país de origem da pessoa. Provavelmente você deve ter um ambiente familiar tóxico e é isso que faz você ter tantos problemas com autoconfiança a ponto de achar que ser o reizinho da escola vai fazer você se sentir melhor. Realmente é algo deplorável.
— Cala a boca vadiazinha. Você tinha era que voltar para o seu país de merda e deixar a América para pessoas realmente importantes. Você está acabando com a minha paciência.- o capitão da equipe disse e eu ri sarcástica, afinal eu sabia que provavelmente o que eu tinha falado realmente acontecia.
— Eu já cansei desse papinho meninos. - falei entediada. - Tá realmente chato humilhar vocês e, embora eu tenha argumentos pra distruir vocês o dia inteiro, vocês tem um jogo da escola pra treinar então me deixem ir logo ou...
— Ou o que? Vai me bater? Acho que não dá né... - ele disse próximo ao meu rosto e eu usei minha cabeça para acertar seu nariz. Acho que pelo "crack" quebrou. - Sua vadia.
Ele acertou um soco na minha cara, e mais um, e mais um, e mais um. Quando iam me socar novamente, eu comecei a arrepiar e, mesmo com a cara toda sangrando, eu sorri. Eles começaram a gritar e me largaram no chão enquanto ao longe eu escutava uma gargalhada.
— L-laroye Dona Rosa C-caveira. - eu disse cuspindo sangue no chão enquanto tentava me levantar.
Mas eu já não tinha forças. Meu corpo doia, meu rosto doía, minha cabeça tonteava até que não conseguia mais manter meus olhos abertos...
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Los Angeles Dream || Miguel Cazares Mora
Teen FictionUma garota, Alícia Costa, se muda para Los Angeles junto com sua família, depois de receber um email dizendo que ela e seu irmão gêmeo foram aceitos num show de talentos muito prestigiado e para apoiá-los seus pais resolvem ir para lá e fundar um te...