Prólogo

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Alícia Costa

Meu nome é Alícia e bom, sou brasileira, mais especificamente da cidade do Rio de Janeiro. Eu vivo com meus pais e meu irmão gêmeo, André. Minha família é umbandista, sendo meus pais pai e mãe de santo do terreiro e eu e meu irmão somos os médiuns mais velhos da casa, não por idade mas sim porque nascemos antes do terreiro ser aberto ao público. Nós dois incorporamos mas temos o seguinte esquema: quando eu viro no santo ele fica de cambone, ou seja, servindo e ajudando as entidades e quando ele vira eu cambono.

Hoje era gira de Exu e Pombagira e meu irmão tinha virado no Exu Arranca Toco. Eu bati cabeça e como somos menores de idade, nossas entidades nos respeitam e não fumam e nem bebem, fui buscar água para a entidade. Os atabaqueiros tocavam o ponto do exu do meu irmão, bem forte.

"Oh meu senhor das armas

De mim não faça pouco.

Ele é Exu

Exu Arranca Toco"

— Laroyê, Sr Arranca Toco. Salve suas forças - eu disse entregando o copo.

Boa noite moça. - o exu respondeu -  Você e o cavalo arriaram o padê que eu vos pedi?

— Sim, arriamos segunda. - eu disse - O cavalo firmou seu marafo também.

(Cavalo: como as entidades se referem ao médium)

(Marafo: Cachaça)

Agradichido - ele respondeu e deu uma gargalhada alta. - E vosmecê trate de num preocupar seu pensador. O que querem exu vai dar. Eu e dona Rosa tamo trambucando nisso já.

Sorri contente. Dona Rosa, mais especificamente, Dona Rosa Caveira, é minha pombogira e chefe da esquerda na minha coroa mediúnica. Eu sabia que se o que eu e Dré realmente acontecesse nós iamos ter que nos mudar mas nada tirava o nosso sonho de tocar em naquele lugar. Já tínhamos o nosso repertório já que tinham que ser quatro músicas:

- Smooth Criminal, do Michael Jackson. Iríamos cantar ela

-Minha Fé, Zeca Pagodinho. Iríamos cantar.

-Brasileirinho, que meu irmão ia tocar no bandolim e eu ia acompanhar no violão.

-Ponto de exu, meu irmão iria tocar no atabaque e eu ia cantar.

Queríamos mostrar uma parte brasileira e umbandista na nossa performance e eu estava bem ansiosa. Eu abracei o sr Arranca Toco e fui para perto da Dona Maria Quitéria da minha mãe e pra perto do Senhor Exu Meia Noite do meu pai. Os dois gargalhavam alto e Dona Quitéria me estendeu a mão.

Vai dançar comigo hoje, moça? - ela disse e eu sabia quem realmente ia dançar se eu aceitasse. A Quitéria tinha mania de chamar a Dona Rosa em terra.

— Hoje não, tenho que ficar porque hoje o Arranca Toco está em terra. - eu sorri.

Eu já avisei pra todo mundo minha menina, hoje a casa fecha nessas terra. A próxima gira só nas terra longe. - ela disse e eu a abracei. - Hoje a moça não vai cambonar não. Vai vir dona Rosa sim.

— Está bem. - eu disse e ela nos levou pra frente do atabaque.

Toca pra Rosa Caveira. - ela disse para a curimba.

Os curimbeiros na hora puxaram um ponto que eu nunca resistia, Rosa Caveira sempre vinha com aquela  gargalhada maravilhosa.

"No cemitério tinha um caixão lacrado, 7 velas ao seu lado e nele estava escrito assim"

Um arrepio subiu na minha espinha e minha cabeça começou a formigar.

"Morada de Rosa Caveira, ela é que conhece o começo, meio e fim!"

Los Angeles Dream || Miguel Cazares MoraOnde histórias criam vida. Descubra agora