JORNAIS, BOINAS E CANIVETES

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Dubrovnik, Croácia – 605,4 km de Zagreb;

Eram por volta das sete da manha quando os pássaros começaram a cantarolar na roseira abaixo da sacada. A luz do sol lutou para esticar-se por entre o fino fresto da cortina até alcançar o rosto afundado nos travesseiros.

 Irritado com a luz, o croata rabugento puxou a coberta para esconder o rosto. Ele não estava com nenhuma vontade de deixar seu ninho, estava exausto da noite anterior e de ter bebido alem da conta, santo Deus como aquele escocês tinha tanto fôlego para acabar com não uma, mas cinco garrafas de whisky.

Derrotado agora que lembrara o que aconteceu, Croácia abriu os olhos e passou a língua nos lábios se lembrando da merda que tinha feito. Do impulso, da musica, da dança estranha, do beijo.

– Kvragu! – xingou contra o travesseiro. Por culpa do álcool que cavalgava nas veias e da proximidade dos corpos, da musica que ecoava da rua, ambos dançando lentamente na sacada, as mãos que desceram pela cintura modesta e aqueles dedos que se entremearam em seus cabelos, Pelos lindos olhos verdes como a grama semelhantes ao do irmão inglês, daquelas mechas ruivas como fogo, Croácia arriscou beijar Escócia. Nada que fora um beijo seco ou curto, não, foi um beijo atrapalhado, molhado e demorado.

 Croácia rolou pela cama ficando de barriga pra cima e levanto a mão à testa, sua cabeça girava enquanto ele apertava os olhos pelas pontadas de dor de cabeça.

Que idiotice que ele tinha cometido em se entregar aos beijos que desceram por seu pescoço e que burrice a dele de ter insistido em subir as mãos pelo tronco forte.

O que era pra ter sido um jantar amigável afastado da muvuca da capital acabou com Escócia afundando as unhas em seus ombros enquanto o cavalgava na sala de estar em frente à lareira crepitante. Croácia passou a mão pelos olhos tentando não se sentir um lixo quando lembrava que cada movimento do escocês fazia Croácia dar gritos e espasmos de prazer, algo que ele não queria fazer com ele, mas sim com França.

– Como eu pude? Como eu pude fazer isso? – ele sussurrou com arrependimento.

Ele não queria Escócia, aquilo foi pelo calor do momento, talvez tivesse sido apenas um beijo acidental, mas não, eles tinham feito aquilo no meio da sala, com as janelas abertas e com Escócia o montando como um pônei.

 "Tão fácil... tão fraco"

Croácia sentiu as lágrimas quentes pela raiva de ter feito amor com uma pessoa que para ele era apenas um amigo, não um amante ou alguém que ele nutrisse um sentimento alem de amizade e companheirismo. Escócia não era França, nunca seria França. Escócia não chegava nem aos pés de França. França era um deus aprisionado em corpo de homem. Um anjo que caminhava por entre os mortais. E ele quebrou sua promessa de que esperaria por França, esperaria que ele se sentisse confortável para que pudesse confessar seus sentimentos e que pudesse acordar todas as manhas admirando aquele sorriso que só França tinha.

– Me perdoe mon amour. – Croácia sussurrou contra a fronha do travesseiro, pelo menos aquela parte da casa não tinha o cheiro de Escócia, diferente da cozinha e da sala que estavam fedendo a Whisky, agora só de ódio Croácia declarou a si mesmo que odiava aquele cheiro. –Nunca mais. – ele prometeu. – Nunca mais eu vou chegar perto dele, nunca mais vou me por a um quilometro desse desgraçado.

 Ele teria voltado a dormir pelas lagrimas, mas quando escutou o raspar de garras na porta do quarto e a voz alta de Servia, Cro sabia que tinha obrigações a fazer, e uma delas era tomar conta das filhas.

– CROACIA EU NÃO ACREDITO QUE VOCE AINDFA TA NA CAMA! – berrou o ex-marido.

Revirando os olhos, tomou forças para se levantar da cama e colocar uma cueca e uma calça de moletom, aproveitando para ir ao banheiro verificar se não tinham marcas suscetíveis a assustar as duas pequenas.

O Nó Que Nos Liga - França e CroáciaOnde histórias criam vida. Descubra agora