Capítulo 3 - Em Pontos e Desajustes

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21 de Junho - Palácio da Alvorada;

Quando Brasil viajava para passar um tempo com o pai junto a Argentina, ficava sobre função da pobre Brasília vigiar seus irmãos, função que a mesma recebia sempre quando Brasil resolvia bater o pé dali e ir furnicar com o argentino.

Eram seis da manha quando o despertador tocou. Brasília levantou da cama afastando o cobertor bordo e procurando as pantufas com os pés ainda tendo os olhos mal abertos. Desligou o despertador e se pos de pé indo em direção ao cabideiro no canto do quarto para pegar a toalha, seguindo para o banheiro que ficava no longo corredor.

Foi só ter posto a cabeça para fora da porta que ela pode ouvir os berros incessantes de São Paulo. A irmã correu na direção do quarto do paulista gritando pelo mesmo perguntando se estava tudo bem.

– Paulo ta tudo... – a garota congelou ao ver o que estava no chão a sua frente. Não era de menos para São Paulo estar encolhido na cabeceira da cama. Havia uma cobra no chão, mas não apenas uma cobra, ela era gigantesca e tinha escamas verde escuras com listras laranjadas. O animal estava quase escalando a cama de São Paulo quando Brasília deu um berro que teria acordado qualquer um num raio de quilômetros.

– AMAZONAS!

Sentindo o tremor dos passos chegarem até ela, o irmão de longos cabelos negros adentrou o quarto e com um ágil movimento, tampou a cabeça da imensa serpente com uma fronha de travesseiro.

Brasília olhou pelo corredor ouvindo os outros irmãos chegarem. Minas Gerais estava com um bolo de cordas na mão e pediu licença a irmã para entrar no quarto e junto com Amazonas começou a amarrar a imensa cobra.

– Em nome de Deus quem soltou esse trem aqui dentro? – questionou-se o mineiro aturdido tentando segurar a serpente que se debatia com violência.

– A pergunta é quem foi o inteligente que deixou alguma janela aberta. – Amazonas rosnou abraçando o corpo da cobra.

Brasília olhou para São Paulo que abraçou os próprios joelhos com uma cara de vergonha. A irmã seguiu até a janela e afastou as cortinas encontrando a mesma escancarada.

– Paulo você ficou louco? – ela exclamou para o moreno. – Ela podia ter te matado.

– Não teria matado, apenas se ela estivesse com fome. – amenizou Amazonas se colocando de pé e com a ajuda de Minas, levaram a imensa cobra para fora do quarto.

Brasília se sentou sobre a colcha cinzenta da cama do irmão e pos as mãos sobre o colo. Ela ainda vestia seu pijama de calça vermelho borgonha e camisa de unicórnio que tinha ganhado de Espírito Santo em seu aniversário. Ela olhou séria para o irmão que brincava com o anel de ferro do colar.

– Maninho, a gente precisa conversar. – ela pediu. São Paulo ergueu os olhos para ela com aquela mesma expressão triste, a franja de cor petróleo lhe caia sobre a testa tampando um dos olhos. – isso não tá te fazendo bem.

São Paulo suspirou e encostou a cabeça na parede cinza chumbo pouco abaixo do imenso quadro que tinha sua coleção das maiores edições da Folha de São Paulo.

– Mas é o único jeito. – ele disse em voz baixa olhando de canto para o mezanino branco ao lado da cama.

Brasília moveu os olhos para o mezanino e encontrou ali o cinzeiro que transbordava de bitucas de cigarro. Ao lado o velho e grosso diário de capa de couro que Mato Grosso do Sul tinha dado a São Paulo já fazia muitos anos. Junto do velho diário tinha a caneta de tinta preta estourada e remendada e cheia de mordidas feitas pelo próprio paulista. Alem do abajur, ali em cima tinha uma pilha alta de pastas, folhas e artigos e também o notebook que São Paulo usava para trabalhar e pesquisar.

O Nó Que Nos Liga - França e CroáciaOnde histórias criam vida. Descubra agora