Capítulo 5 - Terra e ar

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A vontade de ir ao banheiro foi mais forte que o sono e Yoongi levantou com o corpo frio. Em algum momento ele jogou o edredom no chão e agora sentia o peso na cabeça, o som reverberava em sua mente como marteladas.

Enquanto lavava as mãos, levou a água até o rosto e se olhou no espelho. Estava um caco.

Rosto inchado de tanto chorar, pele ressecada pelo frio, olheiras marcadas, ombros caídos. Talvez não fosse a toa que estivesse sozinho. O peso de ser insuficiente era esmagador e sentou-se no chão gelado para não colapsar.

A autodepreciação, velha companheira, foi o único abraço que sentiu pelos bons minutos que ficou refletindo sobre todos os acontecimentos do último ano.

Quem olhasse de fora pensaria que compor e produzir um disco de sucesso era sinônimo de felicidade, porém a única tranquilidade que sentia era nos braços de Taehyung. Não como dependência, mas a constatação do óbvio, existia uma paz que apenas aqueles momentos podiam proporcionar.

O olho do furacão.

A vida tinha ensinado Yoongi a ficar de pé, com sua base sólida plantada no chão, baseando seus passos no que era concreto. A ligação com a terra embaixo de si, permitia que ele ficasse inteiro mesmo em momentos de tormenta. A doença de sua mãe, a dificuldade de se estabelecer em uma carreira tão inconstante, seus próprios traumas e problemas psicológicos. O seu trabalho e dedicação eram toda a constância que precisava.

Se convenceu que a vida era assim, que se perder era algo que acontecia com os outros.

Acreditava no amor que podia tocar, que já existia, isso o levou a caminhos seguros onde a amizade ganhava muitas vezes. E isso não o machucava.

Se acostumou a ser chamado de estranho pela família, na escola. Não era como as outras pessoas, sempre em busca de afetos. Para Yoongi, estar em seu piano era muito mais satisfatório do que conversar com uma pessoa que não tinha substância, apenas pela beleza ou sensação fugaz de prazer.

Aquilo que os outros davam valor era totalmente frívolo para ele. Quem se importa se um corpo era grande ou baixo, gordo ou magro, homem ou mulher? Quem se importa se a roupa que vestia era de marca ou se todos desejam aquela pessoa. Ser popular, ter sexo a disposição não eram coisas que Yoongi ansiava. Nem mesmo toques e beijos que se encontra em apenas uma noite.

Muitos tentaram rotulá-lo: ace, aro, demi, bi, pan. Também eram denominações que não faziam sentido, ele era Yoongi e isso bastava para si.

Até Taehyung.

Como nunca antes, Yoongi sentiu que seus pés não tocavam mais o chão e a brisa que entrou em seu apartamento um dia de bebedeira, se tornou um furacão. Até compor em seu estúdio, o lugar que o aterrava, se tornou sobre pensar no jovem de cabelos escuros e olhar magnético.

Pela primeira vez teve medo de ser direto demais, pela primeira vez não se importou em se perder em lábios e noites de prazer, pela primeira vez permitiu que a leveza do ar invadisse seus poros.

E como uma lufada de vento, Tae mudou as coisas de lugar. E agora que tinha ido embora, só restavam os destroços.

Tinha sido fútil se agarrar em algo sólido, quando só queria ter sido levado. Ficou para trás com as palavras: "eu realmente estou apaixonado".

— Yoongiah, tá por aí? Posso entrar?

A voz de Hoseok era distante, como um sonho. Sabia que estava deitado, sentia o contato de algo com suas costas, mas demorou a entender a expressão de susto na cara do amigo.

— Que você tá fazendo deitado no chão? Nesse frio!

O calor do sol que era Hoseok aqueceu um pouco o coração de Yoongi, que permitiu ser colocado no banho quente.

É uma pena (Taegi AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora