Paulo
– Bora? - falei com a Isis e guiei ela até o meu carro.
– Educadinho você tá né? graças a Deus.
– E você tá engraçadinha até demais né?
– Aprendi a ser assim, nesse pouco tempo andando com você - coloquei o cinto e dei partida – Ah, o Uriel Calomeni é o seu cenógrafo principal né?
– Sim, porque? já quer roubar o posto dele?
– Não, ele que ta interessado em mim - arqueei a sobrancelha e olhei pra ela – Não interessado em mim, é no meu trabalho, maluco.
– Ah sim, não deveria mas vou até te dar uma moral com ele, ja que ele é o cenógrafo de lá da pineapple.
– Ele já amou meu trabalho - se gabou – Deu vontade de parar na praia pra sentir a brisa do mar - falou enquanto olhava a praia pela janela.
– Então bora parar um pouco - coloquei meu carro pra entrar em uma vaga – Deixa as coisas de valor no carro, não leva nada não, que já tá tarde e sem ninguém aqui, não podemos abusar da sorte
– Verdade - tirou o relógio e colocou na bolsa – Vamos.
Deixei minhas coisas dentro do carro e assim que saímos do mesmo eu o travei. Ainda havia alguns quiosques abertos, algumas pessoas sentadas por ali papeando, alguns na areia bem afastados de onde estávamos.
– Vem, bora sentar ali, chamei a mesma e fui guiando até um local na areia que achei bom pra sentarmos.
– Ai como é boa essa brisa, cheirinho de mar, os pés na areia, o vento fresco batendo no seu rosto, o barulho das ondas - fechou os olhos – Sem contar com esse céu aberto e essa lua linda iluminando ele.
– Pode crer, isso tudo é realmente muito bom, me sinto mais leve quando tô na praia - sentamos na areia – Parece que toda essa maresia vem pra te acalmar e quando vai embora leva tudo de ruim que tinha dentro de você.
– Sim - olhou pro céu – Eu sou apaixonada por praia, mas não tem nada que eu ame mais do que a lua - me olhou – Eu sou completamente apaixonada pela lua, acho que se um dia eu tiver uma filha, o nome vai ser esse.
– Sério? - perguntei e a mesma afirmou com a cabeça – Gosto de mais da lua também, na verdade eu gosto mais por causa da minha mãe.
– É? E por quê?
– Desde quando eu e a Ay éramos novinhos ela contava como conheceu o meu pai. Ela conta que sempre foi apaixonada pela lua, foi daí que veio o nome da Ayla, significa: luz da lua e o meu pai sempre soube, e a primeira aliança de namoro deles foi uma do sol e da lua inclusive, ai a partir daí minha mãe é a lua do meu pai e meu pai é o sol da minha mãe.
– Que fofos, só podia ser a tia Gabi mesmo né? Isso é a cara dela, mas amei isso deles dois, era uma coisa que eu não sabia.
– Enfim foi daí que eu comecei a gostar da lua também, assim como gosto do sol, mas nunca procurei saber a história por trás de tudo - olhei pra ela que estava me olhando e prestando atenção – Sempre tem né? - dei de ombros.
– Tem sim, e eu sei - deitou a cabeça nos próprios braços que estavam cruzados em cima de suas pernas – Cê quer ouvir?
– Se você quiser contar, sou todo ouvidos.
– Tá, pra começar, você sabe aquela música o sol e a lua? de pequeno cidadão? - assenti – Então grande parte da música é real. O sol ele sempre foi apaixonado pela lua, e um dia ele pediu ela em casamento, só que se ela falasse que sim ele ia explodir de felicidade e se ela dissesse não ele iria apagar por conta da tristeza, então por fim ela acabou dizendo não sei, e até hoje saturno guarda os anéis da lua e do sol, para caso o "não sei" vire um "sim".
– Nossa, nunca imaginei dessa forma, imaginei que sei lá, eles nunca poderiam ficar juntos, porque se não a gente ia viver em um eterno eclipse.
– É uma boa história pra ser contada também, mas eu prefiro a minha versão, é mais romântica e mais bonita de ser contada.
– Verdade.
Ficamos nos encarando em um completo silêncio. Um lado da minha mente gritava pra eu beijar a Isis, já o outro lado falava pra eu não fazer isso, já que poderia estragar as coisas e nossa relação voltar a ser como antes.
Senti que ela também tava pensativa, pois ao mesmo tempo que seus olhos me encaravam, eles desviavam pra minha boca. Um fio de seu cabelo voou em sua cara e involuntariamente coloquei ele pra trás da sua orelha.
O não eu já tinha, então só faltava correr atrás da humilhação. Puxei a Isis pela nuca que se aproximou com prontidão e a beijei.
Nosso beijo era calmo e ao mesmo tempo intenso. Com uma mão segurava em sua nuca, enquanto minha outra mão estava em sua cintura dando leves apertos.
Pedi passagem com a minha língua, que logo foi aceita e continuamos nos beijando, suas mãos arranhavam levemente a minha nuca, enquanto as minhas mãos desciam e subiam na sua cintura.
Nos afastamos depois de alguns minutos nos beijando, abri meus olhos e olhei pra Isis que ainda estava de olhos fechados e tinha um leve sorriso nos lábios.
– Vamo? tá ficando tarde já - puxei seu pescoço e dei um selinho na boca da mesma e levantei.
– Bora – levantou e foi andando na minha frente.
O caminho foi todo em silêncio enquanto no som do carro tocava uma música do Chirs, o moleque só lança pedrada. Percebi que ela tava tímida e sempre olhava pra mim, mas logo desviava e as vezes dava um sorrisinho de canto.
– Precisa ficar tímida não, Isis - olhei rápido pra ela, que agora me olhava – Prefiro você falante.
– Não tô tímida, só tô surpresa e com sono, mas enfim.
– É? e tá surpresa por quê?
– Não se faz Paulo, você sabe.
– Pelo beijo? Em minha defesa você também quis, se não tinha me afastado.
– Eu não disse que não tinha gostado e nem que não queria, só disse que fiquei surpresa.
– E tem motivo pra você ficar surpresa? - estacionei o carro em frente a sua casa.
– Óbvio que tem né, mas já entendi que a sua implicância comigo era paixão incubada - riu – Se essa guerra de anos foi só pra me beijar, você falava antes Paulin.
– Voltou com as gracinhas, fica achando isso aí mesmo, sou muito bonzinho, não quero cortar teu ego.
– Tá certo senhor bonzinho, tô indo nessa - deu um beijo na minha bochecha – Beijo, tchau - tocou na trava pra abrir a porta do carro e eu travei novamente e a mesma me olhou confusa.
– Usou e abusou de mim hoje e só vai se despedir com esse beijinho mixuruca? ‐ puxei a mesma e colei nossos lábios – Agora sim tchau - falei depois de cortar o beijo.
– Ai ai ai, tchau Paulo - saiu do carro.
Esperei ela entrar e dei a volta pra ir pro meu apartamento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anéis de Saturno
RomanceO amor do Sol e da Lua nunca foi impossível, só não tinha chegado o momento deles estarem juntos, até agora, mas ainda bem que Saturno guardou os anéis, porquê eu tenho certeza que ela é a minha lua e eu sou o seu sol.