Capítulo 8 | Mensagem do além

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— Ah não, Guiga! — Lumiar respondeu rude. — Eu prefiro que nós duas mantenhamos a relação de professora e aluna aqui. Eu estou bem. Estou ótima! 

Lumiar juntou toda a força que tinha para reunir seus papéis e levantar da mesa.

— Bom… se você diz! Eu estou aqui caso precise de ajuda. Você sabe meu número! — Guiga também levantou e foi saindo em direção à porta.

A loira apenas sorriu de canto em agradecimento.

Ao sair da sala, Guiga deu de cara com Jenifer, que escutava tudo no canto da porta.

— Achei que fofocar era coisa de jornalista e não de advogado! — disse a riquinha, em tom baixo.

— Tá me vendo com mais alguém aqui ou você não sabe o que significa 'fofocar'? — respondeu no mesmo tom de voz e saiu de perto da colega rapidamente. 

Enquanto isso, o mal-estar de Lumiar não passou de forma alguma, e ela decidiu chamar um carro de aplicativo para voltar para casa.

No banco de trás, observando o mundo a fora pela janela, ela sentiu seu estômago embrulhar de vez e suplicou para o motorista estacionar.

Agachada fora do carro, ela colocou pra fora tudo que jantou no dia anterior.

"Você sabe o que significa quando uma mulher passa mal nas novelas"

A frase de Guiga martelava em sua mente e causava ainda mais desespero. 

Ao chegar em casa, ela simplesmente foi se deitar, dormir o máximo que pudesse para esquecer toda a manhã.

Porém, nem tudo são flores.

Deitada em sua cama, exausta após um dia cheio de emoções, seus olhos se fecharam lentamente enquanto ela se entregava ao sono profundo. 

À medida que sua mente mergulhava no mundo dos sonhos, ela se viu caminhando por um jardim muito conhecido, com um balanço cheio de boas memórias: Lumiar.

Enquanto a loira andava por entre as cores vibrantes e o aroma das diversas ervas dos pais, Dora apareceu.

Lumiar sentiu um calor reconfortante e uma onda de emoção tomar conta de seu coração.

Dora estava radiante, corada, sorridente. Nem parecia a mesma que foi levada por um câncer tão agressivo. Seus olhos brilhavam com amor enquanto ela se aproximava da filha.

— Eu sinto sua falta, meu amor!

— Mãe!! — como se voltasse a ser uma criança assustada, Lumiar correu para os braços de Dora.

Sem dizer mais uma palavra, Dora estendeu a mão e Lumiar a seguiu sem nem perguntar onde estava indo. Ter a mãe perto era o mais importante do momento.

Elas caminharam juntas, abraçadas e entre trocas de carinho e amor. 

Lumiar sentiu uma conexão inexplicável com sua mãe, como se estivesse envolta em seu abraço protetor. Depois de meses de agonia, ela finalmente se sentiu segura, amada e feliz.

Ela olhou para Dora, os olhos cheios de perguntas não formuladas.

— Mãe, eu to sozinha… eu…

Antes que Lumiar pudesse falar, Dora sorriu gentilmente e começou a falar com uma voz suave e reconfortante que parecia ecoar em sua mente. 

— Você está tudo meu amor, menos sozinha. O amor gira sobre seu coração e seu corpo.

— Fala sério, mãe! Eu sei que você sabe o que aconteceu comigo. É por isso que veio por mim, né? Eu sabia que não iria aguentar!

— Claro que não, filha. Você é forte, e vai tirar uma força que nem conhece e que se esconde no fundo do seu coração.

— Mãe… eu não quero mais… não quero estar em um mundo onde eu não tenha você e não possa amar o Ben.

— Filha, lembra que eu te disse que o meu amor sempre vai encontrar o seu?

— Lembro… 

— Então, estamos aqui, estamos juntas, e agora eu não vou te largar. Tem um pedacinho de mim em você.

Dora levou a mão até a barriga da filha, fazendo um leve carinho.

— Mãe, que isso?! — Lumiar se apavorou.

— Eu sei o quanto você é resiliente quando precisa proteger os seus, então te enviei alguém que dependerá 100% do seu amor e cuidado. A Isadora vem aí filha, a minha neta Dorinha tão sonhada. Você está grávida, Lumiar! 

Lumiar ficou chocada com a revelação. Seu coração acelerou e as lágrimas brotaram em seus olhos.

 — Não… não pode ser! Mãe, eu não posso estar grávida agora, não agora! — Ela gaguejou em meio às emoções.

— Querida, você encontrará desafios, mas também terá a capacidade de superá-los. Não se preocupe, não está sozinha!

Assustada, suada e ofegante, Lumiar acordou. O desespero tomou conta de seu corpo imediatamente. As palpitações se tornaram ainda mais descompassadas quando ela percebeu que involuntariamente deixou sua mão na barriga durante o sono.

Sem nem pensar duas vezes, ela pulou da cama e ligou para a farmácia. Não demorou muito para o porteiro anunciar que havia um pacote no nome dela.

Em pouco tempo, Lumiar estava sentada no vaso sanitário, segurando o teste de gravidez em suas mãos trêmulas. O banheiro estava silencioso, exceto pelo som de sua respiração acelerada. Ela olhou para o pequeno dispositivo em suas mãos, hesitando antes de finalmente decidir enfrentar a verdade.

Com o coração batendo descompassado, ela retirou a tampa do teste e segurou-o com cuidado. 

Seus olhos se fixaram no pequeno visor, onde duas linhas representavam o seu maior desespero.

Ela fechou os olhos por um momento, respirando fundo, e então abriu-os lentamente, esperando ver outra imagem.

No início, ela ficou confusa com a visão embaçada do visor. Mas, à medida que sua visão se ajustava, a imagem começou a se tornar mais clara. Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu que havia duas linhas cor-de-rosa distintas. 

As mãos de Lumiar tremeram quando ela largou o teste e colocou as mãos no rosto, sentindo as lágrimas começarem a brotar de seus olhos. 

Lumiar nunca planejou a maternidade em sua vida e muito menos compartilhar um filho com Theo, um cara desprezível, criminoso, nojento.

Seus olhos foram tomados pelo choro, pelo medo, pela sensação de desespero, e embora Dora tenha dito que a filha não estava sozinha, era assim que ela se sentia.

Lumiar só pensava em Ben, no quanto ele seria uma rede de apoio pra ela nesse momento. Também pensou em seu pai, mas pela primeira vez em meses ele estava sendo feliz, com Wilma.

Ela respirou fundo, levantou-se do vaso sanitário e olhou para o espelho. Seus olhos agora não expressavam a advogada cheia de determinação.

Mais uma vez, inexplicavelmente, ela levou a mão ao ventre.

— Um bebê, meu Deus! Um bebê! 

Lumiar andou de um lado para o outro sem saber o que fazer ou com quem conversar… Ela precisava colocar pra fora seus pensamentos, porém não conseguiu.

Por toda emoção, seu corpo foi tomado por mais uma tontura. 

Ela logo entendeu que era fome, pegou alguns croissants e comeu mais que depressa.

Na sequência, procurou por sua bolsa e seguiu para o hospital. Ela precisava de um exame concreto, de algo menos improvável que um teste de farmácia, e melhor, ela precisava descobrir a idade gestacional.

Dra. Lumiar cuidará disso? - BeniarOnde histórias criam vida. Descubra agora