Putrefactione

Casal.

Zoro observava seu amado ajoelhado na frente daquele altar idiota, de olhos fechados, com as mãos juntas, orando pela alma de Kuina. Uma completa babaquice em sua visão. Sempre fora agnóstico, então aquela porcaria ali não significava nada, apenas ficava juntando poeira e era sempre Sanji quem tinha que limpar, não seria ele que perderia tempo em algo que o loiro fez questão de montar, usando a desculpa de que para Kuina era importante.

"Que babaca..."

Deitou uma das bochechas na mão, apoiando o cotovelo no sofá, elevando um pouco o corpo para observar melhor a cena. Ficar deitado de bruços naquele sofá não era tão bom quanto deitar no colo de Sanji, detalhes... Mesmo agindo como um idiota, aquele imbecil ainda conseguia ser atraente.

O rosto supostamente delicado era iluminado pela vela no altar, contrastando naquele cabelo claro e exageradamente liso, praticamente o fazendo brilhar. Um anjo? Basicamente isso, pelo menos aos olhos de alguém que amava.

Bufou irritado, pensando nos motivos para tudo aquilo. Parecia uma autopunição ficar na frente de uma foto de Kuina sorrindo, rezando por sua alma. Era ridículo. Kuina já havia morrido, não havia mais volta.

Jogou-se derrotado no sofá, logo sentindo uma mão quente tocando seus cabelos. Levantou o olhar, vendo Sanji cabisbaixo e acabou suspirando, era sempre assim, por isso que ele ficava sempre tão puto.

— Eu sabia. — Suspirou novamente, sentando-se no sofá e coçou a nuca, desviando o olhar, irritado.

— Eu estou bem, vou preparar algo para nós comermos. — Sanji falou, já saindo da sala e andando até a cozinha, ainda triste. Ouviu outro suspiro de Zoro, nem conseguindo culpá-lo. Também sentia falta de Kuina, não havia desabado como o marimo, porém se conheciam há tanto tempo que era como se fosse sua família. Na realidade estava fugindo da bronca que levaria do outro por ficar tão para baixo só com uma oração, não queria tocar no assunto. Não com Zoro. Não com ninguém.

Preparar um jantar naquela cozinha era mais confortável do que quando preparava em sua própria casa. A verdade é que se sentia mais em casa ali do que na casa que morava com Purin. A casa de Zoro era tão confortável e aconchegante que não havia como não chamar de lar.

Aquela era a sua cozinha. Praticamente todos os ingredientes eram os que havia enfiado ali para evitar que o moreno começasse a passar fome, porque Zoro era desligado e vivia com a despensa vazia, por sorte Kuina morava com ele e cuidava desses detalhes. Não só os ingredientes como também os utensílios de cozinha, o melhor de tudo era que estavam sempre no lugar que ele deixava, diferente de sua casa que cada dia eram guardados em um local, sempre o deixando desanimado. Poderia não ser "oficialmente" um cozinheiro, porém em suas veias corria sangue de um, ele gostava de tudo em seu próprio lugar.

Não demorou para um cheiro bom, muito bom, maravilhoso, de comida, surgir no ar. Aquele tipo de comida que já te satisfazia só de sentir o cheiro. Aquele tipo que, sem dúvidas, fazia semanas que Zoro não colocava na boca. Balanceada, cheia de nutrientes e da melhor qualidade.

Sentiu um par de olhos observando suas costas, ignorando completamente. Sabia que o marimo amava observá-lo cozinhar. Mal sabia Sanji que na verdade Zoro sempre estava lhe observando, a todo momento.

— Você canta e rebola enquanto cozinha. — Ouviu a voz daquele extremo idiota e só não jogou uma colher de pau na cabeça dele porque estava usando-a para mexer a panela e até mesmo uma gota de alimento desperdiçado era pecado.

— Vai se foder, marimo! — Resmungou, puto da vida. Não havia percebido, mas corou de leve. Estava rebolando mesmo? E cantando? Claro que não! Aquele idiota estava apenas falando para encher seu saco.