Putrefactione

Esposa.

Sanji nunca pensou que se casaria tão cedo e, lá estava ele, acordando ao lado de uma das mulheres mais lindas do universo. Sempre foi o amante das mulheres, mulherengo de primeira, admirador do feminino, o Don Juan de quinta categoria, como Zoro costumava chamar.

No início, não existia amor da parte do loiro naquele relacionamento e mesmo assim aceitou se casar depois da noiva arranjada por seu infeliz progenitor cair em lágrimas dizendo que o amava e tudo mais. Com o tempo, começou a se apaixonar, ou era isso que ela o obrigava a achar.

Charlotte Purin era filha de uma grande empresária que agora era sócia nos negócios de Vinsmoke Judge. Bom para os negócios, péssimo para o marido. Purin não era aquele doce de pessoa que demonstrava ser quando estavam em público. Ela era abusiva e psicologicamente instável. Chegou a cogitar que tivesse algum transtorno de personalidade e até chegou a pesquisar sobre o assunto, consultar um psiquiatra para tentar entender, aprender como agir com sua esposa, mas quanto mais entendia, mais percebia que não era isso, Purin não era doente, o que ela fazia com ele não era culpa de uma doença.

O único problema era que o lado ruim dela era sempre apenas mostrado para ele nos momentos que deveriam se amar. Nos primeiros meses, o relacionamento estava indo muito bem. Purin agia como uma esposa meiga, fofa e doce, sempre bem dedicada ao marido, tanto que às vezes Sanji até se sentia incapaz, o que era um tanto exagerado. Ela o tratava bem, ele estava cada vez mais achando que a amava. O sexo estava sendo maravilhoso e até mesmo o assunto filhos estava começando a ser tocado. Desde que descobriu como crianças eram geradas, o loiro passou a ter o desejo de ter filhos... Por mais que no começo, quando era apenas um adolescente com os hormônios fervendo e aquela vontade fosse mais devido à perversão. Muitos anos haviam se passado e ele, de fato, desejava ter filhos, independente de ser um pervertido.

Ele não sabia dizer o motivo ou o momento em que tudo aquilo mudou. Ela não agia mais daquela forma, havia começado a tratá-lo como um escravo e pisava nele como se fosse um inseto odiável, muitas vezes de forma literal. Sanji era o típico marido que se deixava abusar, sempre dizendo que todas as mulheres eram boas e jamais fariam mal a alguém, sem exceções. Ele agia como se estivesse gostando, mesmo que na verdade aquilo fosse uma forma de autodefesa para se proteger e por dentro estivesse quebrado.

Ele já não conseguia dormir direito pois o medo de não acordar vivo no dia seguinte era maior.

Durante as noites de sexo, várias vezes ela tentava sufocá-lo, apertando as mãos em sua garganta até que ficasse inconsciente. Ele sabia da existência de um fetiche relacionado a enforcamento, no entanto, o ódio que enxergava nos olhos daquela mulher, o sorriso enorme que o lembrava bastante o de um psicopata, quando ela pressionava as mãos com força em sua garganta e retirava seu ar, deixava claro que não era isso. Sem contar que ele não gostava, ele não tinha tal fetiche. Quando a questionava na manhã seguinte o que havia acontecido, era como se não se lembrasse de nada e agia de forma doce.

Por algum tempo Sanji acreditou naquela história, entretanto, os abusos começaram a aumentar conforme o tempo passava e não se resumiam mais a quando estavam na cama. Ela o ameaçava constantemente, atirava objetos cortantes em sua direção com a intenção de machucá-lo e não era incomum receber tapas no rosto, chutes em suas partes íntimas e socos no estômago, que muitas vezes o tiravam o ar. Nunca entenderia o motivo de ela fazer tudo aquilo, parecia que o odiava com todas as forças e, aos poucos, ele aceitou que era essa a verdade. Purin não fazia por mal, era tudo culpa dele por não poder amá-la como ela merecia, por não agir como o marido perfeito que deveria ser. Sanji era só um marido de merda que deveria receber um tratamento ainda pior do que aquele. Com isso em mente, ele jamais reagiu, não tentou impedir ou pensou que deveria terminar aquele casamento. Não era ele quem mais estava se machucando ali, era sua amada...