●15 Capítulo ●

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Voltei seus apressados ahhahaha.

Boa leitura seus gays ❤😍

Pov:marilia


Eu tomo um café preto na cantina perto do hospital e volto rapidamente para o meu posto. Passei a noite inteira sentada em uma poltrona perto do leito de Brunna, os olhos secos, meu coração pesado, enquanto velava o seu sono. A enfermeira de plantão passou algumas vezes para checá-la, sempre me oferecendo um sorriso solidário e me dizendo para dormir que minha esposa estava reagindo bem e logo iria para casa. Ela não sabia, não, ela não tinha ideia do que eu tinha feito com a menina deitada naquela cama. Que eu não era digna da sua pena.
Estou em um misto de ansiedade para que maraisa acorde, mas receosa de como irei encará-la depois de tudo. Não me julguem, mas vi o celular dela e ouvi as ligações gravadas, bem como as mensagens, e um ódio descomunal cresceu em mim por Isabelly e a maldita madrasta. As duas mulheres estavam importunando maraisa há algum tempo. Isabelly usa palavras tão ofensivas, que me faz sentir a pior das mulheres por ter me deixado levar por suas tramoias. Ficou claro como água que a mulher me manipulou. Como pude ser tão burra? Não há desculpas para mim, sei disso, e por isso estou morrendo de remorso. No momento certo, as mulheres irão pagar por terem machucado maraisa. Vou me encarregar disso pessoalmente.
Ter lido as emoções de maraisa escancaradas, tão cruas, naquele diário também foi como um soco certeiro em meu intestino. Deus, como gostaria de poder voltar atrás e retirar cada palavra cruel proferida, cada ação egoísta direcionada a ela. Mas não posso. Não é assim que funciona. Somos os únicos responsáveis pelas nossas ações e chegou a hora de eu responder pelas minhas. Respiro fundo quando chego à porta e a empurro, o médico está lá, examinando-a. Entro, avançando devagar. Em um primeiro momento, penso que maraisa está dormindo ainda. Meu coração salta quando ela vira o rosto ao sentir a minha presença e nossos olhares se encontram. Um flash de dor passa nos olhos castanhos e ela ofega baixinho, então vira o rosto para a parede, me dispensando sumariamente.
- Ainda está sentindo dor, senhora? - o médico inquire, tomando a sua pressão arterial.
- Não. - a voz dela é tão baixa, tão sem vida, que faz um arrepio frio me percorrer.
- Isso é muito bom. - o doutor diz em uma voz entusiasmada, obviamente percebendo o estado catatônico da sua paciente. - O sangramento está bem fraco. Se continuar sem dores, poderá ir para casa amanhã.
- O que eu tenho? - sua pergunta ainda é baixa, ela nem mesmo se dá ao trabalho de encarar o médico. Pelo seu tom, parece que a resposta não é importante.
O homem me olha brevemente. Acho que pensou que ela sabia da gravidez.
Também cheguei a pensar que sim, porém não há nada sobre o bebê no diário.
Ela não sabia.
- Pensamos que já soubesse, afinal, são quase três meses... - a voz do homem suaviza um pouco. - Está grávida de aproximadamente onze semanas. Está carregando um bebê forte e um tanto teimoso, pela forma como resistiu ontem. - completa com leve diversão.
- Oh, meu Deus! - há pânico na voz dela e seu rosto vira de volta. Seus olhos cravam nos meus, uma expressão de ódio e desprezo vai se espalhando em suas feições pálidas. Seus olhos se fecham e inspira com força. - Meu Senhor...Estou grávida... - geme tremulamente.
O médico conclui a rotina de exames e franze o cenho ao ver lágrimas silenciosas escorrendo nas laterais do rosto de maraisa.

- Ele está reagindo bem, não se preocupe. - confunde as lágrimas dela com preocupação. - Tem fome? Vou pedir que tragam um desjejum leve. Sente enjôos?
- Sim. - carla abre os olhos, encarando o médico. - Estou sentindo muito enjôo. Nada para no meu estômago.
- Mais algum sintoma? - ele continua no tom ameno, anotando em sua prancheta.
- Tonturas, fraqueza, sono. - sua voz é pequena, cansada, me causando uma pontada no peito.
Constatar que tem passado por tudo isso sozinha faz com que eu me sinta como um verme rastejante. Eu a deixei sozinha, grávida do meu filho. Meus ombros curvam sob o peso da vergonha e remorso.
- Vou receitar medicação para os enjôos e a nossa nutricionista virá visitá-la para montar uma dieta que vai amenizar esses sintomas desagradáveis. Também vai precisar começar a tomar as vitaminas imediatamente. - ele continua, escrevendo tudo com rapidez. - E, claro, muito repouso. Elimine toda e qualquer fonte de estresse durante a gestação.
- Obrigada, doutor. - ela diz, seu rosto torcendo em uma tentativa fraca de sorriso, reconhecendo os esforços simpáticos do médico.
Ele nos deixa em seguida. Meu coração começa a bater freneticamente quando
a porta se fecha, nos isolando aqui. Maraisa me ignora nos primeiros instantes. Leva suas mãos para o ventre e as abre ali. Quero me aproximar e tocar sua barriga também. Tocá-la. Trazê-los para perto. Sentir as duas vidas preciosas para mim. Perdi esse direito, porém. Perdi porque fui uma tola, orgulhosa. Seus olhos vêm para o meus e nos encaramos por um longo momento. Vejo lá, nas íris castanhas, que isso não será fácil. Nunca estive tão incerta e receosa sobre algo. Carla continua me olhando, os olhos parecendo vazios, sem expressão.
- O que você faz aqui? - sua voz é apenas um fio, a mágoa aparecendo em seu rosto agora.
- Eu fui uma tola, carla. - murmuro rouca, cheia de vergonha, minha voz tremendo, coisa que nunca me aconteceu na idade adulta. Sua postura e o jeito que está me olhando fazem um sentimento ruim de finitude, de que agora pode ser tarde demais, começar a revolver minhas entranhas. - Cometi um erro terrível. - admito e ela pisca, aquele flash de dor passando em seus olhos de novo. - Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida fodida, mas fui covarde demais para aceitar isso. - maraisa não diz nada. Apenas me olha de uma forma assustadoramente plácida, resignada. Não há nada em sua expressão, nenhuma centelha que me faça ter esperanças. - Estava enganada. Eu quero, preciso de amor. - seus olhos ampliam ligeiramente, choque e também suspeita estampando em seu rosto. - Preciso do seu amor.
- Saia. - pede tremulamente.
O sentimento de perda se intensifica. Minhas mãos estão suadas e frias. Ela está segurando uma espada sobre a minha cabeça nesse momento.
- Eu sei que o que fiz foi muito grave, mas estou aqui para pedir mais uma chance. - minha voz vacila, meus olhos ardendo e então, deixo as palavras saírem finalmente, me libertando do meu cativeiro: - Eu te amo, baby. - ela ofega, seus olhos se enchendo de lágrimas. Suas mãos continuam segurando nosso bebê e eu nunca me senti tão pequena e insignificante em toda a minha vida. - Me perdoe, só depois que te machuquei que eu me permiti compreender e aceitar isso.
- Não. - abana a cabeça, lágrimas caindo em suas faces. Ela as limpa com uma mão, a outra ainda permanece em seu ventre. - Você não sabe o que é amar alguém, marilia. Está me dizendo essas coisas porque estou grávida, precisando de repouso, sem estresse, como o médico orientou. Acha que pode vir aqui e me encher com essa conversa fiada?
- É a verdade, por favor. - digo exasperada, o desespero tomando conta de mim. - Eu te amo muito e quero reparar tudo de ruim que lhe fiz. Por favor, me deix...
- Eu sonhei tanto em ouvir essas palavras da sua boca. - sua voz denota uma tristeza tão profunda. Meus olhos queimam, ardem demais, lágrimas turvando minha visão. - Tinha certeza de que você me amava. Eu sonhava com o momento em que me diria isso. Meu Deus, eu te quis tanto, tanto. - sua dor é explícita, me fazendo respirar ruidosamente. - Mesmo depois que me abandonou após o Ano Novo, eu não parei de sonhar com você voltando e dizendo que me amava, que havia um futuro para nós, juntas. - um bufo descrente lhe escapa. Seus olhos sem vida perfuram os meus. - Consegue imaginar como me senti quando abri meu coração, te entreguei o meu amor e você o pisoteou de forma tão cruel?
Oh, Deus, eu a machuquei demais.
- Eu sei e sinto muito baby...
- Não ouse se dirigir a mim dessa forma! - range os dentes, uma expressão feroz invadindo seu rosto. - Nunca mais!
Eu fico tensa e sinto medo pelo bebê. Ela não pode se alterar dessa forma.
Porra, o que foi eu fiz? O desespero me consome.
- Por favor, não fique nervosa. - tento moderar meu tom. - O bebê ainda está se recuperando.
Seus olhos brilham e ela arfa, então olha para baixo, para o ventre.
- Eu sinto muito, meu amor. - sussurra, soluçando baixinho. Quero ir até ela e abraçá-la, puxá-la para mim e nunca mais deixá-la desamparada. - A mamãe vai ser mais cuidadosa de agora em diante, prometo.
Meu peito dói absurdamente vendo a cena. Eles são meus. São meus, mas não posso estar perto deles agora.
- Eu deixei a minha relação fodida com meus pais me transformar em um monstro. Sei o quanto te machuquei. - minhas lágrimas rolam pelas faces e eu não faço nada para detê-las. Ela parece chocada e ressabiada quando arrasta os olhos para os meus e vê a minha situação. - Nunca me permiti sentir amor por ninguém, maraisa. Eu achava que não precisava. Mas estava enganada.
- Não. Você estava certa. - sua voz e expressão se tornam geladas. - Não precisa de amor. Precisa de sexo. - cospe, parecendo com nojo de mim. - E isso você tem em abundância, basta estalar os dedos. Há realmente pessoas assim, vazias, mortas por dentro. E você é uma delas. - dor toma seu semblante outra vez. - Eu te vi com a sua prostituta, marilia. Nada que saia da sua boca agora vai apagar aquela imagem da minha cabeça. Eu disse que nunca te
perdoaria se tocasse em outra mulher. - seu peito sobe com respirações rápidas.
- Jamais chegará perto de mim de novo. Jamais darei poder para me machucarem dessa forma de novo. - há um determinismo feroz em seus olhos enquanto me encara e diz isso, então meu sangue gela, meu coração começando a bater rápido, medo atroz do que mais vai sair da sua boca. - Acabou. Me deixe em paz.
- Eu sinto muito. Por favor, me dê outra chance. Eu não posso perder você!
Imploro, meu peito comprimido, dolorido demais. Ela abana a cabeça. Nós nos olhamos, enquanto as lágrimas banham nossas faces. Oh, Deus, é tarde demais? Eu a perdi?
- É tarde demais. Você já perdeu. - com uma voz assustadoramente baixa, ela ecoa meus pensamentos e me dá o golpe final: - Eu quero o divórcio, marilia.
Eu sinto isso como se fosse um soco em meu plexo solar. Cambaleio um pouco, meu corpo todo está gelado, uma sensação horrível revolvendo meu intestino. As lágrimas caem livremente agora, enquanto meu coração dói e dói.
- Não! Por favor, não faz assim... - perco completamente a compostura, enfiando minhas mãos pelo cabelo, puxando-o em desolação. - Eu te amo! Me perdoe por demorar tanto para enxergar. Não posso perder você. Está grávida do meu filho. - imploro sem me importar com o orgulho que um dia tanto prezei. - Por favor, não diga isso... Vamos tornar esse casamento real e esperar nosso filho, baby. Podemos superar isso, podemos...
- Eu nunca vou superar, marilia. - seu rosto é determinado, duro. - Sim, estou esperando o seu filho. Esse é o único elo que teremos daqui para frente.
- Não...
- Saia e não volte. Estar perto de você me faz mal. - sua voz vai subindo e ela se estica, apertando o botão na cabeceira do leito, chamando alguma enfermeira. - Se insistir em voltar aqui, irei à imprensa e abrirei o jogo sobre quem é a grande e respeitável CEO da LJ. Você vai me dar o divórcio e não vai brigar comigo pela guarda do bebê. - porra! Eu fico zonza com tantos golpes vindo na minha direção, e muito mais com o ódio gelado cintilando nos olhos castanhos. - Você está fora da minha vida.
- Por favor, não me peça para ir. Você não pode ficar sozinha...
- Pare com o teatro, você já havia me deixado sozinha. - seu tom continua baixo e isso é mais aterrorizante do que se estivesse gritando. - Eu sempre
estive sozinha. Não é nenhuma novidade para mim. - a enfermeira entra no quarto e se apressa até a cama.
- Chamou, senhora? Está sentindo algum incômodo? - pergunta, solícita. O olhar frio de maraisa continua no meu.
- Peça a essa senhora que se retire do meu quarto. Eu não a quero aqui.
- Mas, senhora, ela é sua esp...
- Ela não é nada minha. - diz friamente.
A moça parece chocada quando se vira para mim.
- Sinto muito, senhora, mas a paciente precisa de repouso absoluto...
- Eu sei. - digo, me sentindo esmagada.
- Há alguém para quem podemos ligar para lhe fazer companhia, senhora?
- a enfermeira pergunta, enquanto checa o soro em sua intravenosa.
- Não. Eu não tenho ninguém. - carla murmura e uma lágrima solitária rola em sua bochecha. - Vá. - indica a porta, seu rosto mostrando um conflito de emoções.
- maraisa... - minha voz é baixa, cheia de pesar.
- Adeus, marilia. - diz e se vira novamente para a parede, me tirando da sua vida não apenas com as palavras.
Estou entorpecida, incrédula, me sentindo miserável. A enfermeira me encara, aguardando que eu saia. Um sentimento esmagador de perda faz cada parte de mim doer e eu me obrigo a sair em silêncio. Não posso causar mais danos do que já fiz. Maraisa precisa de cuidados e repouso nesse momento. Fecho a porta e encosto a testa no batente, cerrando os olhos. Meu Deus, que dor horrível é essa? Foi assim que ela se sentiu quando rechacei sua declaração de amor? E mais tarde, quando me viu com a cadela asquerosa? Traindo-a? Respiro profunda e dolorosamente. Sim, eu a traí da forma mais vil. Eu me senti no direito de procurar outra mulher mesmo sendo casada. Está certo que não era um casamento convencional, mas estamos legalmente casadas. Isso me faz igual a meu pai, um traidor, o homem que mais odeio na porra desse mundo. Ofego, remorso me corroendo, sem pena. Sim, eu mereço ser escorraçada da vida de maraisa. Tenho consciência disso, no entanto, me sinto morrendo aqui, jogada para o lado de fora. A expressão desolada em seu rosto quando disse que não tem ninguém, que sempre foi sozinha, esmagou meu coração.
Eu abro os olhos e ando cegamente até um banco próximo, me sentando. Respiro fundo e procuro pensar na situação com clareza, embora a razão tenha me abandonado há algum tempo. Limpo meu rosto, decidindo que vou ficar por aqui, tomando o cuidado para que ela não me veja, claro. Não vou abandoná-la nunca mais. Ela falou em divórcio. Sinto um baque por dentro apenas por me recordar. Não. Não, ela disse isso porque está de cabeça quente, muito magoada, e com razão. Nós vamos resolver tudo. Repito isso uma e outra vez para mim mesma, como uma prece silenciosa.
Ligo para Marcos em seguida. Ele só voa amanhã à noite. Quando conto o que houve e que maraisa não pode ficar sozinha, meu irmão avisa que já estava a caminho. Passo o dia dessa forma, velando o quarto do lado de fora, enquanto Marcos faz companhia para maraisa e flerta com toda enfermeira que vê na sua frente. Jesus. Ele não tem jeito. À tardinha, sou surpreendida pela chegada da nossa avó. Marcos revelou que ligou para ela ontem e a colocou a par de tudo. Dona Vilma pegou o primeiro voo comercial da LJ, saindo de Cagliari nessa madrugada. Ela nem ao menos conversou comigo, entrou direto para ver maraisa. Quando deixou o quarto e me encarou, eu me senti ainda mais envergonhada. Seu rosto estava corado, olhos vermelhos e uma expressão decepcionada que nunca tinha visto nela. Ela me intimou para uma conversa, então arrumei uma sala vazia para ficarmos mais à vontade.
- Eu nunca soube onde eu errei com Clara. - ela diz, tristemente, depois de um tempo me encarando. - Sua mãe cresceu com amor. Sempre dei tudo que estava ao meu alcance, tanto material quanto emocionalmente. - sua voz vacila um pouco e seus olhos voltam a se encher de lágrimas. Meu peito torce por vê-la tão abalada.
- Vovó...
- Não. - ela me corta, levantando a mão. - Você vai me ouvir, minha filha.
- seu tom é meio seco, aumentando meu mal-estar. Ela sempre teve um sorriso doce, mesmo quando estava me dando broncas. - Gosto de me enganar que seu pai estragou a minha menina. - abana a cabeça. - Isso não é a verdade, no entanto. Clara foi quem ela escolheu ser nessa vida. Poderia ter sido uma mãe amorosa para seus filhos, em vez disso, foi uma socialite fútil, sempre correndo atrás do marido infiel até que isso a matou. - eu trinco os dentes. Ouvir essa merda não vai me fazer nenhum bem. Eu me mantenho calada em respeito à minha avó, porém. Seus olhos cravam nos meus com ferocidade misturada à tristeza. - Quando você me apresentou aquela linda menina há três meses, percebi que algo estava meio fora de lugar, não sou burra, só que nunca imaginei ser algo tão revoltante e indigno... - puxa uma respiração aguda. - É muito difícil para uma avó assimilar que sua neta querida usou e machucou uma menina inocente de tantas formas.
Eu exalo pesadamente. Passo as mãos pelo meu rosto, aceitando que sim, sou o monstro que escolhi ser. Como a minha mãe, escolhi ser isso.
- Eu sinto muito. - minha voz é áspera como lixa. Minha garganta apertada.- Sim, eu fiz tudo que maraisa deve ter te contado. - meus olhos ardem absurdamente. - Como minha mãe, poderia ter sido uma mulher honrada, mas escolhi ser um monstro. Escolhi machucar aquela menina, a única mulher que tocou meu coração, só que nunca me permiti aceitar isso, até ontem... - seu rosto não suaviza em nada com meu relato. Eu a decepcionei demais. - Eu amo carla, vovó. Tenho consciência do mal que fiz a ela, mas quero uma chance de reparar. Eu posso...
- O que fez foi muito grave, filha. - ela balança a cabeça, desapontada. - Ela não quer vê-la e eu estou plenamente de acordo. Vou levar a minha neta para a minha casa quando tiver alta.
- Não! Por favor, vovó, convença-a a voltar para casa, comigo. - eu rogo, exasperada.
Ela me olha com firmeza, sacudindo a cabeça em negação.
- Isso não é possível agora e você sabe disso, marilia. - repreende. - Vou cuidar dela lá em casa. A pobrezinha pensa que está sozinha no mundo. - um soluço lhe escapa. - Ela não está. Tem a mim.
- Tem a mim também. - digo ferozmente.
Minha avó estreita os olhos, me encarando por um tempo.
- O tempo é o melhor remédio. Se afaste e deixe-a se recuperar junto com o meu bisneto. - agora ela é quem está feroz. - Eu quero pegá-lo nos braços, forte e saudável, daqui a seis meses.
- Eu a amo. - torno a falar como se só esse fato fosse o suficiente para trazer maraisa de volta.
- Não é assim que funciona, filha. - seus olhos me perfuram com repreensão. - Nenhuma mulher deve ver a pessoa que ama como maraisa a viu,marilia.
- Me diga o que fazer, por favor, eu não posso perdê-la. - imploro sem vergonha de parecer fraca diante da minha avó. Ela franze um pouco o cenho, me analisando com olhos astutos e sábios.
- No momento, deixe-a quieta. É disso que ela precisa para curar as feridas.
Maraisa e o bebê responderam bem aos medicamentos e ela teve alta no dia seguinte. Marcos e minha avó me avisaram para eu sair da porta do quarto, assim ela não me veria. Acompanhei tudo de longe, Marcos empurrando-a na cadeira de
rodas até o carro da minha avó, onde o motorista já os aguardava. Eu me senti uma expectadora na minha própria história, me escondendo entre as plantas do jardim da frente do hospital apenas para ter um vislumbre do rosto dela. E eu tive quando olhou Marcos com carinho e lhe deu um beijo na bochecha. Meu peito doeu de ciúme. Ciúme porque ele está perto dela, ganhando seu carinho, enquanto eu fui empurrada para longe. Ao mesmo tempo, fico feliz por meu irmão e minha avó estarem com ela, assistindo-a em tudo que precisar. Está mais corada, percebo pela cor voltando à boca carnuda. Maraisa diz mais alguma coisa para Marcos. Ele ri e acena, então eles entram no carro com a minha avó.
Fico aqui, olhando a limusine sair do meio-fio e avançar pela avenida movimentada. O carro vai se distanciando, levando a mulher que amo com todo o meu coração para longe de mim. Meu coração aperta, doendo tanto, que me sufoca. Respiro agudamente, consciente de que mereço passar por essa merda. Isso não faz doer menos, embora. Com um suspiro resignado, pego a chave do meu bolso e começo a andar a passos largos para o meu carro no estacionamento. Dispensei o motorista agora à tarde porque quero visitar uma pessoa e depois, sei que não estarei pronta para voltar para a minha casa sabendo que maraisa se foi.
Cerca de quarenta minutos depois, estou tocando a campainha no apartamento de Isabelly. A temporada de caça às bruxas está aberta e não terei compaixão de ninguém. Todos que machucaram maraisa irão pagar junto comigo.
- Oh, marilia! - seu rosto passa por uma transformação. Surpresa e apreensão nítidas, além das marcas arroxeadas em seu olho direito e nariz. Eu me alegro em ver que maraisa fez um bom número na cara da vadia, uma vez que não posso lhe dar esse tipo de lição ou vou mata-la. - Entre, mi cariño. - ela se afasta, me dando passagem.
Eu não digo nada, apenas passo para dentro e as imagens imediatamente me assaltam quando alcanço a sala, o sofá onde estive jogada com a vadia me chupando. Fecho os olhos brevemente, me amaldiçoando por causar uma dor tão profunda na mulher que amo. Minha avó tem toda razão, ninguém merece ver algo tão vil. Ando até o meio da sala e me viro. Isabelly está um tanto cautelosa, se mantendo a uma boa distância. É inteligente, já sabe que essa visita não é amigável.
- Você planejou tudo. - digo, olhando-a com desprezo. Isabelly amplia os olhos e começa a mexer no cabelo, um sinal de que está nervosa.
- Não fiz nada, mi amor. - ousa negar, tentando parecer casual.
Meus olhos estreitam sobre a mulher à minha frente. Observo-a dos pés à
cabeça, tentando descobrir o que um dia me atraiu tanto. Odeio-a nesse momento. Mesmo sua beleza exterior me incomoda, porque não é real. Nada nela é.
- Você é uma puta ordinária, Isabelly. - digo friamente e ela ofega, vendo que sua máscara caiu. - Ouvi cada palavra ofensiva que falou para maraisa. Você a cercou desde o primeiro encontro na Grécia. - inspiro com força, crispando meus punhos. - Você a machucou lá, debaixo do meu nariz, e eu não percebi porque era egoísta demais para me preocupar com algo mais além de mim.
- Eu vi a forma como ela estava olhando para você! - explode, raiva tomando seu semblante. - A menina tola já estava se apaixonando por você. Eu não podia deixá-la ganhar. E você também estava toda olhares para cima da ratinha sonsa. - ri de forma afetada. - Eu a coloco no chinelo, sabe disso, marilia.
Meu sangue ferve ao escutá-la repetir as ofensas.
- maraisa tinha razão quando disse na última ligação que você não passa de uma vaca velha e desprezível. - ela arfa, ódio puro invadindo suas feições, outrora bonitas. - Acrescento despeitada, invejosa, ridícula. - rosno. - Estava se roendo porque viu que ela me amava e eu estava, contrariando todas as apostas, retribuindo esse amor. Quis nos tornar tão miseráveis quanto você.
- Você não precisa de amor. - bufa. - Em nosso meio, as alianças são mais valiosas do que esse sentimento bobo. Nos damos bem na cama, o que mais podemos querer?
Eu franzo o cenho porque parece que estou ouvindo a mim mesma falando essa merda para maraisa.
- Está enganada, Isabelly. - digo, abanando a cabeça. - Eu preciso de amor. Preciso do amor de maraisa. - acrescento para que não haja dúvidas. - Apenas o amor dela pode me salvar de morrer miserável, como você.
Ela empina o queixo, os olhos zombando de mim.
- Boa sorte com isso, querida. Ela não vai te perdoar. - sim, a vadia fez tudo de caso pensado para me foder regiamente. - E honre isso que você tem no meio das pernas, pare de jogar toda a culpa em mim. Você quis vir aqui e me foder naquela noite!
- Sim, tem razão, eu sou a maior culpada. Pode ter certeza que tenho lamentado essa decisão a cada segundo desde então. - eu cuspo. - Eu não vou me estender mais. Vim apenas lhe dizer para arrumar suas coisas e voltar para a porra do seu país.
- O quê?! Não pode fazer isso. É muito influente, mas o Brasil não é seu, até
onde sei, mi cariño.
O termo e o sotaque me irritam profundamente. Eu ranjo os dentes.
- Talvez esse seja o momento para deixá-la saber que já há uma passagem em seu nome no próximo vôo da LJ para Buenos Aires. Conversei com seu pai ontem e ele me garantiu que vai mantê-la por lá. - ela está espumando pelas ventas agora. - As consequências, se Carlos não controlá-la de agora em diante, serão desastrosas para a empresa de vocês, que já se encontra em uma situação complicada.
- Você não pode...
- Eu posso! Eu vou, porra! - digo, muito puta. - O contrato de negócios que tenho com seu pai não será renovado e estou pouco me importando se vão falir. Você não vai mais colocar os pés no meu país. Você não é digna de respirar o mesmo ar que maraisa. - minha voz vai inflamando a tal ponto, que estou gritando. - Você é nada! Nada, porra!
- Ela nunca irá te perdoar! - vocifera com uma expressão agourenta, de bruxa.
- Eu vou passar a vida tentando, se for preciso. - digo com ferocidade. - Espero sinceramente que vá para o inferno! Adeus, Isabelly.
Então eu saio de lá o mais rápido que consigo. Olhar para a mulher agora me faz mal.

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