Capítulo 6 - Distantes no Tempo

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Abro os olhos lentamente.

Ainda meio desnorteado pelo sono escuto a porta do quarto se fechar rapidamente.

Olho para os lados procurando algo que justificasse isso mas não encontro nada fora do normal.

(Normal: Pôsteres e miniatura de muscle cars antigos.)

Até que percebo algumas coisas esquisitas nos meus pés.

Levanto meu tronco para finalmente olhar os meus dedos.

— ALICIA!!

Aquela pestinha...

Só ouço sua risada maléfica do lado de fora.

Meus dedos agora estavam pintados de um azul escuro quase preto.

(Que incrível, voltou a ser adolescente.)

Minhas unhas todas borradas do esmalte e alguns dedos colados pelo líquido.

Me levanto e abro a porta vendo minha pestinha correr para a sala quando ouve meus passos.

Bufo enquanto vou atrás dela.

Quando chego na sala a vejo sentada em frente a TV com seu Nitendo Switch conectado e espelhado na tela.

Ela parecia tão quietinha que por um momento me questiono se foi realmente ela que fez isso.

Mas então quando ela me olha não se segura e começa a rir.

— Essa cor combina com o senhor, é muito sombria. — Ela aponta para os meu pés dando pequenas risadinhas.

— É sério que você acordou cedo só para pregar uma peça em mim?

(Peraí Átila, dá um desconto pela dedicação da pirralha.)

— Cedo? Já são meio dia e meia, pai. — Ela fala sem tirar os olhos da tela pois agora chegou na fase do chefão.

— Ata... Pera, meio dia e meia?! A corrida já começou! Alicia, eu preciso usar a TV, tira seu videogame.- Falo apressado e ansioso para ver o evento que esperei durante a semana toda.

Alicia choraminga, mas me obedece e se joga no sofá com seu jogo em mãos.

Ligo a TV no canal que passaria a corrida de fórmula 1.

Vejo com alívio que a corrida estava começando agora e me sento no sofá e prego os olhos na tela.

— Bora Verstappen, aproveita essa curva! — Torço pelo meu piloto favorito.

— Bora Halminton! Alicia para de jogar para ver a corrida.

Finalmente tiro meus olhos da tela e miro minha filha confuso.

(Ainda bem que não é torcida de futebol.)

— Desde quando você gosta de fórmula 1? — Questiono surpreso.

— O tio Fábio de vez em quando assiste e me chama pra ver junto com ele. Ele gosta do Lewis Halminton e eu acho ele bonitinho, então torço pra ele. — Ela dá de ombros e intercala seu foco entre o jogo e assistir a corrida.

Até nisso ele a coloca contra mim.

Sei que estou sendo imaturo, mas não posso evitar de sentir uma certa traição.

(Não a culpo, eu também acho o cabelo dele bonito, ainda mais com aquele sotaque britânico.)

Apesar de ter sido uma corrida sprint, valeu a pena para o Verstappen ter vencido.

— Ok pai, o senhor já viu o ligeirinho ali ganhar, agora a gente pode comer?! — Alicia questiona esparramada no sofá.

— Vou fazer o almoço agora, vai ser uma parada diferenciada. — Olho para minha filha e dou um sorriso maroto.

Além das dimensões: As Variantes da AngústiaOnde histórias criam vida. Descubra agora