Tudo dói.
Meu corpo inteiro formiga.
Estou jogado no chão do meu laboratório com somente algumas lembranças da minha volta para a minha dimensão.
Lembro de ter chegado e meu corpo cair sem forças.
A memória do vórtice que se apagou ao meu redor e de cada músculo sendo estirado.
Finalmente sinto meu corpo.
Consigo mover minha mão por conta própria sem depender de outra pessoa.
Pisco os olhos freneticamente sentindo a dor de cabeça aos poucos se apaziguando.
Me apoio no chão e com um certo esforço me levanto.
Toco meu próprio corpo para ter certeza que tudo voltou normal, sem nenhuma anomalia.
E constato aliviado que tudo está no lugar.
Eu abraço meu próprio corpo feliz por tê-lo novamente, mas logo me toco de tudo que acabei de vivenciar.
Eu corro para a minha escrivaninha e pego um aparelho para medir minha pulsação e pressão.
Pego meu gravador e começo a falar.
— E-EU VOLTEI DE OUTRA DIMENÇÃO! — Grito ainda estupefato com tudo.
— Eu... Foca Alberto! Ahn, minha pressão está 13 por dois, batimento cardíaco acelerado, mas nada fora do normal, pupilas dilatadas e uma enorme dor em todos os músculos do meu corpo, além de estar arrepiado. Não posso acreditar, FUNCIONOU! — Eu comemoro sozinho no meio do meu laboratório que ainda cheirava a miojo e meias sujas.
Eu finalizo a gravação e olho para a máquina que tornou tudo isso possível.
Ela está totalmente operacional, não apresenta nenhum defeito e o painel de controle apresenta que a dimensão, a da garota, ainda está disponível.
FASCINANTE!
Eu olho ao meu redor a procura de alguma folha, reviro minhas gavetas a procura de um papel em branco e quando finalmente acho começo a escrever tudo que vivenciei, tudo que aconteceu, sobre a garota que se chama Alexa, seu namorado e seus amigos esquisitos, até... sobre como me senti vendo tudo aquilo.
Ela não era exatamente igual a mim, não tinha o meu corpo nem nada, mas parecia muito comigo.
Parecia até demais pro meu gosto.
Paro por um segundo de escrever e começo a lembrar de todos os comportamentos de Alexa, todos os lugares que ela foi.
Ela também abraçava o próprio corpo para se acalmar.
Ela também tinha medo de mudanças.
Olho meu laboratório lembrando de todas as vezes que senti pavor de colocar os pés fora desse lugar, de mudar de ares, de mudar de ambiente, de mudar o estado da minha vida, medo de sair desse estado caótico.
Sem querer acabo batendo os olhos no chaveiro do parque Bulldog e lembro do pequeno chaveiro do parque Chihuahua que Alexa levou na sua bolsa, por consequência lembro do lugar abandonado perto da hamburgueria .
Aquele era o mesmo parque da minha infância.
Só que... não era o mesmo nome. Era diferente.
Até o chaveiro era diferente.
Ao lembrar da hamburgueria lembro da pequena senhora que contratou Alexa e de seu nome.
Odete.
Arregalo os olhos reconhecendo a mulher.
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Além das dimensões: As Variantes da Angústia
Science FictionAlberto Castro é um dos maiores físicos do Brasil e em seus 28 anos de vida dedicou tudo a sua paixão, a física quântica. Acontece que a vida é muito mais do que um amontoado de cálculos e fórmulas e ele infelizmente sabe disso. Todos dizem que é me...