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Armin

13 de março de 2018

16h01

O som das teclas do teclado pressionadas violentamente e do click-click-click do mouse é a única coisa que ecoa por fora dos meus fones de ouvido estrondosos com heavymetal. Estou em mais uma partida acirrada e meu atirador está perdendo muita vida para os inimigos. Além da música, Cooper está xingando desenfreadamente qualquer um que chegue perto de seu personagem. Mas ele acabou de morrer pela décima terceira vez seguida.

— Eu aposto que eles estão de hack — resmunga ele, porém mal tenho tempo de respondê-lo, pois vejo um urso pardo imenso vestindo armadura correr atrás de mim. Não posso deixá-lo chegar muito perto, preciso de distância para usar minhas armas! — Você vai morrer, cara...

— Não vou, não — um grunhido escapa pela minha garganta ao receber uma patada forte daquele urso. — Eu não sou você.

O clique frenético no mouse demonstra como estou tentando desviar dos ataques dessa aberração trajada de ferro, enquanto isso Arkin, meu personagem, saltita alegremente pelo mapa como se não estivesse na mira da morte. Seus cabelos brancos emanam pequenos flocos de neve por onde passa e seu corpo esguio é coberto por abraçadeiras de ferro escuro. Um pequeno diálogo aparece no canto esquerdo da minha tela, é Cooper xingando o urso. Mas é inútil, esse chat serve apenas para comunicação entre ele e eu. O urso não passa de um código de programação.

— Boa, amigo... — sussurro para a tela do computador, enquanto uso meu poder maior contra o urso, uma rajada espinhosa de gelo que atravessa o corpo imenso desse animal e o derruba no mesmo instante.

VITÓRIA. Arkin está IMPIEDOSO.

A voz feminina anuncia na tela enquanto os números aumentam em nosso favor.

— Tá me devendo essa partida.

— Pelo o quê?

— Eu te ressuscitei duas vezes!

— Não fez mais do que a sua obrigação depois de morrer tantas vezes. E eu te ressuscitei ainda mais, quer comparar?

— O quê?! — o grito melodramático de Cooper me arranca um riso frouxo. — Venha me curar AGORA!

E lá vai Arkin atravessar todo o mapa atrás do bárbaro musculoso que meu amigo tanto adora. É basicamente um cara gigante que empala e esmaga criaturas com suas mãos de rochas. Ou é o que ele deveria fazer ao invés de deixar o jogo todo nas minhas costas.

— Estamos quase chegando naquela caverna esquisita, você tem kills o suficiente para entrar nela e desbloquear o próximo capítulo? — enquanto Arkin revive Gorgon, me espreguiço na cadeira e sinto meus ossos estalarem como os dedos de uma pessoa ansiosa. Faço o mesmo com o meu pescoço.

— Acho que não, vamos farmar um pouco mais.

— Cara, como que você não conseguiu, se estamos no seu tipo de terreno e você tem vantagem? — acho que minha indignação é tanta que minha voz fraqueja no meio da frase. Escuto seu riso tirando uma com a minha cara.

— Voltou para a puberdade, mano? — começamos a correr pela trilha até um ponto de spawn de coelhos selvagens. — Olha só, eu posso até estar no meu terreno, mas devem ter feito alguma atualização que deixou esses bichos muito mais fortes!

— Não me venha com historinha...

A luta começa. Coelhos de diversas cores tentam nos atacar, mas, ou são esmagados pelas mãos rochosas de Cooper ou atravessados pelos meus raios de gelo. Tento apenas ser seu suporte, vou deixá-lo matar a maioria dos inimigos para finalmente prosseguir com a história. Mas ele morre para um mísero coelho que pula em seus ombros e arranca sua traquéia. Não sei mais o que faço com um parceiro de jogo tão ruim quanto Cooper. Enquanto sou atacado por essas bolas de pêlo demoníacas, tento reviver meu amigo NOVAMENTE.

Lost Sea - Uma Morte e uma MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora